Capitão Kane! Astro da Inglaterra abraça papel de liderança na Copa do Mundo

Mesmo sendo o principal craque inglês nos últimos anos, o atacante está longe de ser unanimidade no seu país. A Copa pode ser a grande chance de mudar a opinião pública

imagem cameraHarry Kane celebra vitória da Inglaterra sobre Senegal nas oitavas de final da Copa (Foto: EFE/Antonio Lacerda)
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Lance!
São Paulo (SP)
Dia 08/12/2022
01:20
Atualizado em 08/12/2022
07:55
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Essa Copa do Mundo tem sido fundamental para que o astro Harry Kane mude a sua imagem perante o público da Inglaterra. Acostumado a ‘só’ marcar gols, o centroavante tem mostrado o seu lado garçom, com três assistências e diversas participações nos gols ingleses e, principalmente, fazendo jus ao seu papel de liderança.

Antes do duelo das oitavas de final, contra Senegal, no último domingo (4), Kane e o técnico Gareth Southgate convocaram uma reunião com todo o elenco para que eles se fechassem ainda mais visando a fase de mata-mata do Mundial, além de reforçar o grupo da importância que as normas de convivência coletiva não fossem relaxadas.

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Ainda que outras lideranças tenham participado de forma ativa deste bate-papo, em especial o zagueiro John Stones, os cabeças da conversa foram Kane e o treinador Southgate.

Ainda assim, o momento em que o capitão do English Team foi mais importante até aqui nesta Copa foi na última semana. De acordo com informações divulgadas por diversos veículos de comunicação na Inglaterra, o camisa 9 foi fundamental para segurar as rédeas dos jogadores ingleses após o atacante Raheem Sterling deixar a concentração, no último sábado (3), por conta de uma invasão à sua residência.

Alguns atletas teriam ficado abalados e bastante preocupados com a situação, mas foram acalmados por Harry Kane, que tranquilizou os colegas e alertou sobre a importância do projeto de conquistar o Mundial.

Kane celebra gol marcado contra o Senegal com o companheiro Phil Foden (Foto: EFE/EPA/Noushad Thekkayil)

Mesmo tendo números incríveis pela Inglaterra, Harry Kane nunca foi tratado como um verdadeiro ídolo no seu país. A ausência de títulos em oito anos de carreira profissional, sendo sete e meio defendendo a seleção principal, colabora com isso, mas o problema principal é o perfil do atacante: pacato e pouco explosivo.

Mesmo estando em um seleto grupo de atletas que capitanearam o English Team em três torneios internacionais, como Bobby Moore, Bryan Robson, David Beckham e Steven Gerrard, ele está longe de fazer parte da ‘galeria dos imortais’ para os torcedores no país britânico.

Na Inglaterra, as características de um capitão são medidas bastante pela postura em campo. O goleiro Jordan Pickford e o meio-campista Jordan Henderson, por exemplo, são vistos pelos ingleses como exemplos de liderança maiores do que Kane. Ambos costumam gritar e gesticular bastante durante o jogo, enquanto o centroavante é mais quieto. No entanto, quem convive no dia a dia sabe que as ações de Harry fora de campo impactam muito mais.

Kane também não é pavio curto, o que para muitos ingleses é um defeito. Quando Wayne Rooney foi expulso nas quartas de final da Copa do Mundo de 2006, por conta de um pisão no zagueiro Ricardo Carvalho, de Portugal, ele foi rapidamente perdoado em seu país. A atitude, embora imprudente, foi vista por muitos como sinônimo de entrega ‘custe o que custar’. Passados 15 anos, o grande nome do ataque inglês é um jogador que recebeu cartão vermelho apenas uma vez na carreira, aos 17 anos, quando defendia o Leyton Orient, pela terceira divisão nacional - e foram dois amarelos. 

Rooney foi expulso na eliminação inglesa nas quartas de final da Copa em 2006 (Foto:PATRIK STOLLARZ / AFP)

Outro ponto que pode explicar as ressalvas que muitos ingleses têm a Harry Kane é o seu distanciamento das mídias. Na Inglaterra, é comum que a vida particular dos grandes astros do futebol seja acompanhada, mas o capitão do English Team vai na contramão disso. Sempre muito reservado, se sabe pouca coisa da sua infância, e até pouco tempo não era visto com costume em eventos ou em locais públicos com a sua esposa e filhos. Ele também sempre foi bastante afeito às redes sociais. 

Harry Kane já alcança mais de 13 milhões de seguidores no Instagram (Foto: Captura de tela)

Porém, de um ano para cá, Harry Kane tem ‘recalculado rota’. O atleta tem aparecido mais em eventos e ações publicitárias, deu entrevista para o renomado apresentador americano Jimmy Fallon e foi tomar uma cerveja com ele no centro de Manhattan. Também fundou o Instituto Harry Kane e passou a postar análises dos jogos em seu perfil no Instagram após os jogos do Tottenham.

Kane participou do talk show de Jummy Fallon no início deste ano (Foto: Reprodução/Instagram Jimmy Fallon)

Nos Spurs, todos notaram a mudança de postura do astro inglês, que agora também é observada na Inglaterra. Harry Kane não vai gritar e vibrar como muitos querem, mas assumirá cada vez mais o seu papel de liderança de forma contundente, mas sem esquecer da sua essência, que é exercer a sua influência em meio aos bastidores.

No entanto, ainda que tenha dado passos de aproximação com o público e demonstrado mais personalidade, Kane não atingiu em cheio as pessoas na Inglaterra. Segundo o Instituto Alan Turing, o camisa 9 foi o atleta da seleção inglesa mais criticado no Twitter após a fase de grupos da Copa do Mundo. Foram 426 postagens contrárias, o que representou 28% do total de tuítes negativos direcionados aos jogadores do English Team.

Para ter ainda mais dimensão de como Kane ainda tem boa parte do público do seu país contra ele, a quantidade de posts criticando-o é mais que o dobro do segundo atleta mais 'cornetado', que foi Mason Mount, com 167 postagens contrárias. Até mesmo o ‘odiado’ Harry Maguire, que já chegou até a sofrer uma ameaça de bomba na sua residência, não foi tão alvo quanto Kane, sendo atacado em 152 tuítes.

Assim, só resta uma forma de Harry Kane calar a opinião pública: voltar para a Inglaterra com o segundo título mundial da história do país. O sonho de todo inglês que ama futebol é comemorar um título de expressão, algo que só aconteceu com o Mundial de 1966. A seleção inglesa, capitaneada por Kane, já ‘bateu na trave’ duas vezes, com a quarta colocação na Copa de 2018 e o vice-campeonato europeu no ano passado, perdendo a decisão para a Itália nos pênaltis.

Agora, para, pelo menos, igualar a campanha de quatro anos atrás e ficar cada vez mais perto de levantar um caneco após 55 temporadas, a seleção inglesa terá o seu grande desafio neste sábado (10), quando enfrentará a França, atual campeã mundial e uma das favoritas para levar novamente o torneio. Entre outras coisas, a partida colocará frente a frente Harry Kane, que foi artilheiro da última edição da Copa, contra o francês Kyllian Mbappé, que lidera a estatística mais cobiçada pelos atacantes até aqui, com cinco gols - um a menos do que o astro inglês fez há quatro anos após sete jogos. 

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