Rival da Argentina nas oitavas da Copa, Austrália tenta fazer com que futebol cative seus torcedores
Futebol é preterido entre apaixonados por esporte em território australiano. Esporte bretão tem dias de muita luta. Terá dias de glória?
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Muitos não esperavam que a Austrália se classificasse no Grupo D de maneira tão contundente. Adversários da Argentina neste sábado, às 16h (de Brasília), os "Socceros", já colecionaram ao menos dois feitos em Copas do Mundo.
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Os australianos repetiram a edição de 2006, quando chegaram às oitavas de final. Mas foram além: pela primeira vez, se classificaram com duas vitórias na fase de grupos. Na chave que tinha a França, a Austrália superou a Tunísia e a Dinamarca.
O futebol está alegrando o país, que foi às ruas para acompanhar e celebrar os triunfos dos Aussies em plena madrugada. Mas, mesmo diante de tanta euforia, o esporte é relegado em um plano inferior na cultura esportiva australiana.
Embora seja o mais praticado entre os esportes coletivos, o futebol está na quarta colocação na lista de favoritos. Na sua frente estão o rúgbi, o críquete e o futebol australiano.
O desenvolvimento do futebol na Austrália só começou depois do desfecho da Segunda Guerra Mundial. O país foi um dos que mais receberam imigrantes ao final do pós-Guerra. Muitos deles usaram o esporte bretão como uma ferramenta para mantê-los ligados às suas culturas.
CHOQUE CULTURAL NÃO AJUDOU
Com uma explosão do futebol em terras australianas, clubes étnicos, ligas e competições começaram a surgir nos anos 1940. Mas um fator determinante para o futebol não ter crescido tanto no país foi a repulsa de australianos de origem anglo-saxônica. Outro obstáculo foi a rivalidade étnica que desencadeou em violência.
Apesar disso, o futebol também já era praticado na Austrália no período no qual o país era colônia do Império Britânico. Nos anos 1850 surgiu um outro tipo de esporte: o futebol australiano, que misturava o futebol gaélico (bastante apreciado por irlandeses) com esportes aborígenes.
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UMA NOVA LIGA COM PROBLEMAS
A primeira Copa do Mundo que a Austrália disputou foi a de 1974. Apesar da queda dos Socceroos na primeira fase (trazendo na mala um empate com o Chile e derrotas para Alemanha Oriental e Alemanha Ocidental), a participação rendeu frutos. O interesse no esporte cresceu e surgiu a primeira liga no país: a NSL (National Soccer League). Dos 14 times que fundaram a liga, 12 eram de origem étnica.
Porém, nos anos 1980, a própria liga começou a proibir clubes de utilizarem nomes de origem étnicas, cores e cantos de torcidas que fizessem alusão aos países de origem dos clubes. Assim, muitos dos times tiveram que mudar de nome, como o South Melbourne Hellas e o Melbourne Croatia, por exemplo. A medida foi encarada pelas agremiações como uma afronta às culturas e o campeonato começou a ruir diante da desunião.
Além do mais, a seleção começou a acumular resultados trágicos depois da Copa de 1974 e o grande público passou a se afastar dos estádios.
SUBIU DE VALOR
Em 2003, houve a guinada. O ministro dos esportes Rob Kemp criou o Comitê Nacional de Revisão do Futebol e foi desenvolvido um relatório chamado “Crawford Report”, que seria um divisor de águas no futebol da Austrália. O documento apontou casos de violência de torcidas, má administração da NSL e das ligas regionais, corrupção e inviabilidade financeira.
Com isso, o governo australiano fundou a FFA (Australian Football Federation) no lugar da ASA (Australian Soccer Association) e criou uma nova liga.
A A-League surge com o slogan “One city. One team”, que indicaria o formato. Cada cidade teria um time e seriam desenvolvidas torcidas em torno da identidade de uma metrópole australiana.
Neste mesmo período, o futebol australiano conseguiria uma nova façanha. Os Aussies eliminaram o Uruguai na repescagem e voltaram para a Copa do Mundo em 2006 depois de 34 anos de espera. Passaram de fase em um grupo que, além do Brasil, estavam Croácia e Japão. Mas acabaram perdendo por 1 a 0 para a Itália nas oitavas.
O marketing cresceu e craques como Romário, Del Piero, Heskey, Robbie Fowler, Dwight Yorke, dentre outros, foram jogar no país.
Além disso, a Austrália mudou-se para a Confederação Asiática, aumentando seu nível de competitividade. Os melhores times da A-League passaram a jogar a Champions da Ásia. A seleção conseguiu se classificar para cinco Mundiais seguidos e foi campeã da Copa da Ásia em 2015.
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FUTEBOL RAIZ ESQUECIDO
Apesar do desenvolvimento do futebol, os clubes étnicos foram esquecidos. Além disso, o sistema de transferências no país foi extinto, proibindo que os clubes obtivessem lucro pela saída de um atleta para outra equipe com a justificativa de equilibrar a disputa na nova competição. Com isso, clubes da A-League passaram a retirar jovens talentos dos clubes étnicos sem nenhuma compensação financeira.
Só em 2013, foi desenvolvida uma liga paralela à A-League para que esses clubes se mantivessem vivos. Com isso, surge a National Premier League (NPL), administrada pela FFA e dividida regionalmente entre os estados do país. Os campeões de cada divisão regional jogariam um mata-mata para decidir o campeonato.
PLANOS FUTUROS
Apesar do crescimento, a A-League não fica nem perto dos outros esportes. A liga australiana só tem média de 12 mil a 13 mil pessoas por jogo, enquanto o futebol australiano registra 40 mil. O campeonato também não tem rebaixamento e divisões inferiores de acesso. Além disso, o sistema de transferências não existe e são poucos os australianos que jogam nas melhores ligas do mundo e dificulta a geração de novos talentos nos clubes.
Assim, é feita uma pressão sobre a federação. O novo CEO, James Johnson, assumiu o cargo em 2020 para realizar novas mudanças como a introdução de uma divisão de acesso. A missão principal é usar do reconhecimento da presença multicultural no país e unir o futebol considerado "raiz'' ao sistema de clubes-empresas e franquias.
Assim, pode-se construir uma unidade nacional maior em torno do esporte a ponto que a Austrália almeje voos mais altos no esporte mais popular do mundo.
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