‘De lá, nem bom vento’: rivalidade de Portugal com Espanha supera campo
Diferença econômica e guerras são parte marcante da história dos dois países da península ibérica que se enfrentam nesta sexta-feira, na Rússia, pelo Grupo B da Copa do Mundo
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"Da Espanha, nem bons ventos nem bom casamentos". Essa expressão antiga, mas ainda utilizada por portugueses, ilustra bem o sentimento do país em relação ao adversário da seleção de Cristiano Ronaldo na estreia da Copa do Mundo, nesta sexta-feira. O duelo em Sochi vai além do campo e atravessa séculos diante dos vizinhos na península Ibérica, no extremo sudoeste do continente europeu.
O ponto destacado por historiadores como o início de relações mais acirradas foi em 1580. Dom Sebastião, rei de Portugal, desapareceu em uma luta no Marrocos, o seu sucessor, Dom Henrique, já estava em idade avançada e, por uma falha na linha sucessória, a Coroa Portuguesa foi anexada à Coroa Espanhola, formando a União Ibérica até 1640. De lá para cá, a inferioridade econômica dos lusitanos em relação aos vizinhos deflagrada desde o século passada aumentou a rivalidade.
- Há motivos nessa partida para falar que, entre os ibéricos, há uma certa tensão. Hoje em dia, a gente pode dizer que a globalização, sobretudo, acabou quebrando os ranços nacionalistas que se construíram ao longo da história, mas é um jogo de duas fases. Se Cristiano Ronaldo é ídolo na Espanha e a globalização aproximou as pessoas, por outro lado há um sentimento de resistência para reforçar tendências nacionais. Copa do Mundo é o momento de os espíritos nacionais se reforçarem, porque coloca uns contra outros - disse Rogério Baptistini, sociólogo da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
- No período da União Ibérica, se fortaleceu um nacionalismo português e, de lá para cá, houve, sim, um período de tensão e constrangimento entre os os dois povos. Até o século XIX, existiu uma certa resistência dos portugueses quanto aos espanhóis, e isso se manifesta ainda. Portugal é um país menor do que a Espanha, tem PIB (Produto Interno Bruto) menor e enfrenta dificuldades. E, talvez, esses jogadores da seleção portuguesa tenham um constrangimento maior em relação à Espanha pelo sentimento de inferioridade econômica.
A tensão ibérica foi testada em torneios recentes por Cristiano Ronaldo, que caiu para a Espanha com Portugal na semifinal da Eurocopa de 2012, nos pênaltis após 0 a 0 no tempo normal, e nas oitavas de final da Copa do Mundo de 2010, perdendo por 1 a 0. Os resultados, para os torcedores, fortaleceram um ranço com os vizinhos presente há mais de 400 anos.
- No período da União Ibérica, o rei Filipe III, da Espanha, rebaixou o status de Portugal e, como mantinha ligações com a Coroa dos Países Baixos, que seria a Holanda, nesse período os holandeses ocuparam territórios de Portugal, como o Cabo da Boa Esperança, na África, Pernambuco, Salvador e possessões no Oceano Índico. Foi destruído o sonho de grandeza de Portugal e veio uma guerra civil para Portugal restabelecer seus territórios, como uma reconquista de independência - disso o sociólogo Baptistini, lembrando que, no século passado, a ditadura de António de Oliveira Salazar em Portugal aumentou as diferenças econômicas com a Espanha.
- Enquanto Salazar dominava Portugal, da década de 1930 até 1974, a Espanha respondia por um PIB cinco vezes maior do que o de Portugal. Houve um verdadeiro êxodo de portugueses para a Espanha não só pela ditadura de Salazar, mas pela ausência de perspectiva econômica. Os portugueses faziam compras na Espanha porque o custo de vida era mais barato - contou.
Com tanta história, Portugal e Espanha se enfrentam no estádio Fisht, em Sochi, às 15h (horário de Brasília), nesta sexta-feira. Os dois países dividem o grupo B da Copa do Mundo na Rússia ainda com Marrocos e Irã.
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