O ferrolho: saiba como surgiu o sistema de defesa que caracteriza a Suíça nas Copas do Mundo
Próxima adversária do Brasil, Suíça é conhecida pela fama de retranqueira e costuma dar trabalho para grandes seleções
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Nesta segunda, o Brasil terá pela frente, uma boa conhecida na Copa do Mundo. A Suíça sempre foi um adversário que dificultou a vida da Canarinho, como na estreia do Mundial em 2018. Muito desse desempenho dos suíços vem de um sistema tático que há anos é parte da identidade do futebol no país. Tal sistema ajuda a entender os números de defesa da seleção helvética. O LANCE! explica como surgiu a fama de "retranqueira" da segunda rival da Seleção Brasileira.
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TÁTICA EM CONTEXTO
Geralmente quando lembramos da Suíça, falamos de chocolates, relógios e bancos, além de ser um país neutro politicamente e ter uma economia descomplicada. Os suíços, em geral, são marcados pela organização, porém o futebol nem sempre foi o esporte mais popular entre eles. Com esse cenário, o técnico austríaco Karl Rappan desenvolveu um sistema de jogo que refletisse bem o país.
Em entrevista à revista inglesa "World Soccer", pouco antes da Copa do Mundo de 1938, ele explicou bem como o estilo de jogo que ele desenvolveria refletia na cultura do atleta suíço.
- O suíço não é um jogador de futebol natural, mas é sério ao fazer as coisas. Ele pode ser persuadido a pensar à frente e, a calcular à frente. Pode-se escolher um time com dois pontos de vista. Ou você tem onze indivíduos que com classe e habilidade natural, têm condições de vencer - o Brasil seria um exemplo - ou você tem onze jogadores medianos, que precisam estar integrados em uma concepção particular ou plano de jogo. Esse plano tem o objetivo de tirar o melhor de cada jogador para benefício do time. A parte difícil é executar a disciplina tática absoluta sem acabar com a liberdade de pensar e agir dos jogadores.
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Assim, o treinador desenvolveu um sistema tático, que seria um pioneiro entre os mais defensivos quando chegou ao Servette, que na época, era um time semi-amador. O sistema mais comum na época era o 2-3-5. Pegando essa formatação, ele colocou mais jogadores na defesa.
Basicamente, ele converteu os alas em laterais e recuou dois pontas da linha de cinco atacantes para jogar no meio. Eles mantiveram funções ofensivas, mas a função principal era conter o avanço dos extremos adversários. A dupla de zagueiros ficava mais no centro e começaram o jogo posicionados por ali. Porém, na prática, se o adversário atacasse pela direita, o defensor esquerdo se movimentava na direção da bola enquanto o direito cobrindo e vice-versa. Este se chamaria “verrouller”, como apelidou a imprensa suíça. Esta função também passou a ser conhecida como líbero.
O sistema defensivo de Rappan, contudo, tinha um problema, visto que o meia central (ou o centromédio) era muito exigido. Apesar do sistema parecer bastante um 4-3-3, os pontas se mantinham lá na frente como atacantes centrais e não recuavam para ajudar na marcação na linha de meio-campo. Quando enfrentavam times que jogavam no 3-2-2-3 (também chamado de WM), tinha-se um certa dificuldade porque os três da frente batiam com os defensores e os atacantes encaravam os pontas rivais, deixando os centromédios sozinhos para cuidar dos outros dois meias que jogavam pelo meio. A formação com o líbero fechava um lado, mas dava espaço no outro.
Por isso, a tendência era de que o time jogasse mais recuado e cedesse o meio-campo para o adversário e tentasse obrigá-lo a passes laterais e não verticais. O volante teve a carga diminuída pelo auxílio do outro, mas a principal mudança foi na defesa com um zagueiro atrás do central que atuava como um líbero convencional.
Com essa metodologia, Rappan também assumiu o comando técnico da seleção suíça em 1937, um ano antes da Copa do Mundo disputada na Itália. A chegada do austríaco surtiu um efeito imediato e os suíços venceram um amistoso contra os ingleses e bateu a Alemanha já no Mundial de 1938, na primeira rodada.
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MAIS QUE UM SISTEMA, UMA IDENTIDADE
A partir das introduções do técnico Karl Rappan, a Suíça passou a ter uma identidade futebolística baseada nestes conceitos. Isso explica o seu desempenho defensivo em grandes torneios. A identidade futebolística da seleção nacional e de seus times se resume em não marcar muitos gols, mas sobretudo, não sofrer.
Isso é demonstrado nos seus desempenhos em Copas do Mundo, o que lhe dá uma cara de uma equipe bastante equilibrada, sólida e sempre muito difícil de ser enfrentada. Gigantes como Brasil e Argentina já tiveram muitas dificuldades contra esta equipe, em 2018 e 2014, respectivamente. Os brasileiros empataram em 1 a 1, numa partida marcada pelo alto desempenho defensivo dos suíços. Os albicelestes os enfrentaram nas quartas de final e sofreram para passar, sendo segurados até a prorrogação, quando finalmente furaram os bloqueios dos suíços.
Em 2006, a Suíça surpreendeu o mundo, quando na Copa do Mundo, foi eliminada nas oitavas sem sofrer nenhum gol. Foi a única seleção na história dos Mundiais a conseguir tal façanha. Já em 2010, eles caíram na fase de grupos, contudo só vazaram uma vez e chegaram a vencer a Espanha logo na estreia por 1 a 0, segurando a equipe que se sagraria campeã do mundo.
O pior desempenho foi em 1954, quando os helvéticos sofreram 11 gols, sendo sete deles para a Áustria, em uma derrota pelo placar de 7 a 5. Mesmo sofrendo muitos gols, marcou muitos também.
No Mundial deste ano, a Suíça venceu Camarões na estreia e o que se espera contra o Brasil, é uma equipe muito equilibrada e com uma ótima organização, e um grande potencial de protagonizar uma nova surpresa, como foi contra a França na Euro de 2020, quando eles acabaram por eliminar os atuais campeões do Mundo. Ou seja a fama não é só de retranca, mas de dar trabalho para os grandes.
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