Pool da Copa: ‘O absurdo desejo de um gol de honra que salve a Costa Rica’
Antonio Alfaro, jornalista de La Nación, vê o último jogo da Costa Rica nesta Copa como a oportunidade de finalmente marcar um gol pela honra do país
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Um gol. Eu troco meu lindo país por um gol, com suas duas costas, seus vulcões, seu caloroso Vale Central. O Caribe não. Okay, só de Tortuguero até Talamanca. Meu país por um gol.
Eu dou qualquer coisa por um gol. Minhas melhores lembranças: o autógrafo do lateral brasileiro Roberto Carlos na entrada para a final da Coréia-Japão 2002, as memórias da Itália 90, a entrevista com Raúl, a partida de Federer na quadra de Wimbledon a dois metros do relvado sagrado, a corrida de Usain Bolt...
Eu o troco por um dos 17 gols marcados em suas Copas do Mundo anteriores. Com exceção de Cayasso, claro. O de Medford contra a Suécia também não é negociável. Eu não sei se trocaria o gol de Wanchope no jogo de abertura da Alemanha 2006, o primeiro, que começa a partir do meio. Eu acho que não mudo também. Muito menos o de Bryan Ruiz contra a Itália!
Vale esclarecer que, embora o pênalti de Michael Umaña não conte oficialmente como um gol, também não é negociável. Assim, encerraria a participação na Rússia com uma bicicleta convertida por Bryan Ruiz à la Hugo Sánchez ou Cristiano Ronaldo. Ou então um gol olímpico de Joel Campbell que lhe permita voltar a comemorar com a bola entre sua camisa em honra de sua prole.
As lembranças do Brasil 2014 eu não dou troco nem por uma goleada contra a Suíça.
Quer saber? Indo para a razão, esse gol não muda muito as coisas. Será que vai mudar a história de uma seleção muito bem atrás, mas deficiente no ataque? Costa Rica estava à beira de um 0-0 histórico e heroico contra o Brasil com o melhor que tinha: sua defesa. Seu ataque não chegou, em parte pelas abordagens, em parte pelo momento dos jogadores que se viram obrigados a recuar, em parte pela ausência de atacantes capazes de fazer a diferença. Alguns davam o que tinham, outros chegavam quatro anos mais velhos e alguns simplesmente não conseguiam chegar ao ponto, por causa de lesões, temporadas irregulares e outros males.
Pensando bem, eu prefiro um bom jogo, e porque não uma vitória, uma despedida digna, em vez de mandar todo mundo para o ataque e perder de 6 a 1. Que se dane esse gol de honra se não servir para pontuar ou, ao menos, lutar por uma vitória.
Quero mais ousadia, quero um gol ou dois, claro, um que ponha medo na Suíça, mas não sob o bobo objetivo de conquistar a todo custo 'o gol de honra'. Isso permanece como uma anedota estatística. Vamos pedir uma vitória; pelo menos um empate merecido.
Além disso, após a disputa entre México, Alemanha e Suécia pelas oitavas-de-final, no mesmo dia, as redes internacionais de televisão não se lembrarão do resto do mundo.
Eu retiro a oferta: eu permaneço com meu país, com suas duas costas, seus vulcões, seu pitoresco Vale Central, seu exótico Caribe, sua costa quente no Pacífico. Eu não troco por um gol, não por honra. Há dignidade de sobra para buscar algo ainda mais valioso.
* O Pool da Copa é a união de grandes veículos de comunicação do mundo para um esforço de troca de informações. O objetivo é manter seus leitores por dentro do que acontece com as seleções de outros países, porém, com uma visão local.
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