Vestido de forma impecável, Roberto Martinez se instala silenciosamente na mesa de poker. O catalão tem o luxo de um gole de água, em seguida, coloca os óculos escuros.
Talvez porque o homem que o enfrenta não olhe para si mesmo sem proteção. Na frente dele, o Brasil pisca novamente. Quatro anos após a sua derrota em casa, sentou-se à mesa do favorito do torneio russo. Tudo encenado, é preparado para deslumbrar a competição, camisa amarela brilhante para colocar cinco estrelas perto do coração. A constelação auriverde parece ser observada à distância. Na janela do telescópio, vemos brilhar Neymar, Philippe Coutinho, Willian ou Marcelo.
Roberto Martinez responde tossindo uma citação latina: "Sorte sorri na ousadia.". Viril, quente como um catalão, o treinador dos diabos posa logo no início da partida com uma equipe que aposta em um inédito 4-3-1-2 quando o Brasil está na posse de bola.
- Há uma barreira psicológica para a camisa Seleção e cinco estrelas nela - decifra Martinez após a preleção: "Quando você joga Brasil, você deve ter uma vantagem tática sobre ele, tentando pegá-lo."
Primeira rodada de cartões. A Bélgica dá uma olhada em seu jogo, o outro em suas fichas e toma sua decisão: Esses belgas não olharam bem as cinco estrelas que decoram sua roupa?
NO MEIO
O plano belga aparece de cara. Lukaku é colocado nas costas de Marcelo, aproveitando cada bola perdida no ataque brasileiro. Na mesa, Roberto Martinez está agora colocando luvas de boxe. Ele escreveu o roteiro de um jogo disputado no ringue, onde todos têm a oportunidade de distribuir golpes. Perigo é o gancho, De Bruyne e Lukaku diretamente partem para o soco. É 50/50 puro. Arriscado? Claro. Mas que outro plano lhe dá 50% de chance de vencer o Brasil?
Assim que em tempo para levar a bola, a Bélgica encontra sua defesa com três homens. Meunier recua para oferecer o espaço a Lukaku, enquanto Chadli deixa a zona lateral e deixa Paulinho isolado no meio. Nós só tocamos por um minuto e meio quando o Diabo desperta no eixo. Kevin De Bruyne assume Fernandinho, em uma prenúncio de que ele não será capaz de substituir dignamente Casemiro. O espanhol driblou sete vezes nas quatro primeiras partidas do torneio. Fernandinho foi cinco vezes driblado em noventa minutos.
Sempre mais inclinado a dançar perto do retângulo adversário e antes dele, Marcelo tenta triangular com Neymar e Coutinho. Witsel, Fellaini e Meunier se unem para um canto. Miranda desvia a primeira área, e surpreende a todos, mesmo Thiago Silva não pode fazer melhor do que acertar o poste.
A Bélgica nem deixa tempo para ter medo. A conversão é realizada pelo poder de Lukaku, a finura de Kevin De Bruyne e assinatura de perigo, ao contrário da defesa brasileira. O equilíbrio de poder é estabelecido. Ao colocar seus três monstros ofensivos em diferentes corredores para transportar os contras, Bélgica esquarteja o sistema defensivo brasileiro. Fernandinho chega sempre atrasado. Em noventa minutos, ele vê mais nádegas dos marcadores do que areia na praia de Copacabana.
DOIS GOLS PARA A HISTÓRIA
Paulinho ainda recebe duas oportunidades para agitar a Bélgica, mas o terceiro escanteio do jogo é aos pés de Nacer Chadli. Segundos antes, Lukaku se movimentou alertando De Bruyne, autor de um passe para Fellaini. Tudo terminou com um tiro desviado. Chadli procura Kompany, mas encontra o fundo das redes através do ombro Fernandinho. Plano perfeito, o que se torna ainda mais formidável, com um objetivo pela frente.
Belgas continuam a defender com sete, deixando Lukaku a assustar os defensores brasileiros. O risco é uma oportunidade de Gabriel Jesus depois de uma jogada individual de Neymar, e uma primeira participação de Coutinho. Na frente de uma linha dupla de marcação: 4 + 3, De Bruyne dobras, pronto para colocar seus pés artísticas após um rebote fora Kompany ou Alderweireld, soberano em sua superfície (17 balões lançados na área).
Uma vez que a bola está em profunda pelo KDB (24 assistências em 44 no último terço do campo), o ataque belga oferece um balé aquático. Hazard derruba Fernandinho em uma grande ponte, Lukaku passa a bola entre as pernas de Miranda, mas as luvas de Alisson ainda estão intactas.
A história ainda balança em um canto. Decididos a insistir no plano Miranda, em deflexão no primeiro posto, os brasileiros buscam a frente do defensor, mas encontram os músculos de Fellaini e Alderweireld. Lukaku pega o segundo balão e oferece um giro de parábola, como se quisesse ganhar velocidade. Os pneus de Mancunian estão quentes. Romelu esmaga o acelerador, gripado Fernandinho (impossível imaginar sem esta ação um erro tático de Casemiro, se estivesse no gramado) e desliza a bola para De Bruyne às portas da área brasileira. Marcelo lembra por que ele está mais em casa no apoio do que na marcação. O lado abre uma janela de tiro em De Bruyne, que coloca o Brasil em pleno rascunho com um tiro seco. O Auriverde havia concedido apenas cinco tacadas desde o início do torneio. Jogámos durante trinta minutos, a Bélgica fez o enquadramento uma vez e leva 2 a 0. Na mesa, quase já não vimos Roberto Martinez. A felicidade do treinador é escondida pela modéstia.
ÁGUA BELGA
Sempre mais ambicioso, o Brasil acumula seus homens em torno do retângulo belga. Meunier desvia um centro de Marcelo, mas Courtois já está na pista. Suas luvas ainda estão no fim de uma maravilha embrulhada por Philippe Coutinho, poucos segundos depois. O guardião dos demônios se convida para a mitologia. Torna-se uma versão moderna da Hidra de Lerne. Em cada parada (9 no total), ele parece ganhar um braço extra. E as últimas notícias, Hercules não é brasileiro.
Entre Fernandinho e Fagner, Eden Hazard desfruta de um terreno aberto aos seus passeios. Em um drible, ele coloca o adversário do lado direito no chão e o Brasil nas cordas. Apenas a imprecisão do passe enviado a Lukaku por De Bruyne salva os cinco vezes campeões mundiais de nocaute. As últimas aparições do primeiro período são para Alisson, que coloca suas luvas depois de um chute livre do KDB e um complemento do calcanhar de Kompany.
A RESPOSTA DO TITE
Quinze minutos de reflexão depois, Tite muda de cartas. Roberto Firmino substitui Willian, e recebe a companhia de Neymar no topo de um 4-4-2, onde Coutinho fica no meio esquerdo, enquanto Gabriel Jesus se posiciona à direita. O Citizen está agitando a Bélgica quando Kompany o enfrenta depois que uma pequena ponte escorregou para Vertonghen, mas o árbitro indica apenas a linha do pequeno retângulo.
A Bélgica recua, repelida pelo acúmulo de ondas brasileiras. A travessia também cruzada de Hazard, lançada por De Bruyne aos 62 minutos, será a última noite demoníaca. No segundo tempo, os belgas tocam apenas cinco bolas na superfície brasileira. Eles atiram apenas uma vez, contra 17 tentativas de seus oponentes.
O cenário oferece protagonismo nacional na parte mais baixa do esquema preto-amarelo-vermelho. Maltratado por Douglas Costa, montado na direita com foguetes em vez dos tornozelos, Vertonghen vê o atacante da sucesso dar três dribles e alerta Courtois, que empurra Paulinho muito desatento a concluir. Fellaini continua a sufocar Coutinho e respiração Bélgica no ar (7 duelos aéreos ganhos pelo belga), Meunier faz o que ele pode lidar com Neymar (4 desarmess bem sucedidos), enquanto Toby joga a controlar o tráfego aéreo com Kompany. Courtois empurra para trás um chute de Douglas Costa, mas deve se curvar a um perfeito chefe de Renato Augusto, apenas montado para provar que você pode jogar na China e desempenhar um papel importante na Copa do Mundo. Sem fôlego, Chadli não pode mais acompanhar a infiltração do substituto de Paulinho. Os olhos se voltam para o escritor. Quinze minutos.
A BOCA-A-BOCA DE EDEN
O Brasil não calcula mais. Kompany contra um chute de Firmino, antes de oferecer um enorme cartucho canarinho enquanto balançava uma recuperação imprecisa no eixo, enquanto Chadli e Fellaini já corriam para a frente. Se movimentando, Coutinho encontra facilmente Renato Augusto, lançado na entrada da área por um telefonema de Firmino que deixou Kompany em seu rastro. O gol é aberto, mas o tiro não é enquadrado.
Firmino, mais uma vez, coloca Neymar em órbita nas costas de Miller. Alderweireld fecha o gol, mas repassa o número 10 do brasileiro Coutinho. A bola do gol é enviada para as arquibancadas. A Bélgica não respira mais. Roberto Martinez oferece-lhe um pouco de oxigênio instalando Tielemans no meio, para tapar as brechas abertas pelo cansaço belga e pela audácia brasileira. Mas é o capitão que se encarrega da ressurreição.
Perigo é boca-a-boca para toda a nação. Entre o gol brasileiro e o apito final, é ele quem toca mais bolas (13). Para fazer um uso insolente: cinco dribles bem-sucedidas (10 no total do jogo, um recorde na Copa do Mundo) e três com saldo perfeito (dois cartões amarelos para Fernandinho e Fagner). Eden brinca com uma ampulheta no bolso e tenta que suas posses durem uma eternidade para que o tempo passe mais rápido.
No final da história, como na última cena de um videogame, a Bélgica enfrenta o chefe final. Seu ataque decisivo é inventado por Douglas Costa, que deixa cair um match point nos pés de Neymar, na entrada da superfície belga. A lenda do brasileiro cai na luva de Courtois. Cinco dedos contra cinco estrelas. A Bélgica está nas semifinais.
Na loucura das comemorações, Roberto Martinez deixa os louros para os outros. O catalão explica que, se ele acabou removendo o Brasil da mesa, é principalmente porque ele tinha boas cartas. Não "eu" na frente dos captadores. Ele sabe que o futebol pertence aos jogadores, que é o talento deles que permitiu que o seu plano 50/50 passasse para o lado direito. Que seu povo escreveu a página mais bonita da história de sua camisa.
Mas mesmo em países onde alguns quase exigiram sua renúncia há algumas semanas por ter afastado o nome de Radja Nainggolan ou avaliação médica de Vincent Kompany, ele terá que admitir que o maior movimento tático desta Copa do Mundo é a de um catalão, que ajudou a Bélgica a retirar cinco estrelas da corrida pela coroa mundial.
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