A paixão que desperta uma Copa do Mundo às vezes corre o risco de que o debate saia do controle. É por isso que a partida de estreia do Uruguai na Copa do Mundo deve passar pela peneira da análise fria. Claro, neste país do futebol não há meias medidas. Para alguns, o gol de Josema Giménez cobriu qualquer falha e o que importa é a vitória heróica; para outros, a vitória ainda deixa uma preocupação.
A realidade geralmente vai pelo caminho do meio. Ou seja: a equipe de Tabárez alcançou uma vitória fundamental, diante de quem nos jornais é o mais duro adversário da série, e que também adquire valor extra pela quantidade de times favoritos que não conseguiu vencer em sua estréia. Mas também é verdade que a vitória aponta coisas para corrigir, mais ou menos urgentes.
A PARTE POSITIVA
A equipe cumpriu o que havia sido visto nos últimos meses: uma intenção de tratar melhor a bola, não tanto um jogo de contra-ataque, mas para propor o jogo, sem abandonar o desdobramento físico, a solidariedade tática e a pressão na saída de bola. O Uruguai dominou o jogo. Não só por causa dos 57% de posse - uma estatística incompleta se analisada isoladamente - mas também tinha mais situações de gol e muito mais eficácia nos passes. E, de fato, mesmo com o gol no minuto 89, gerou muitas chances claras, especialmente três de Suárez e duas de Cavani. E com um pouco mais de eficácia de suas estrelas, o placar poderia ter sido aberto mais cedo e gerar mais espaço para o time celeste. Não foi vencido pelo sofrimento; o empate teria sido muito injusto.
Se analisado friamente, o Egito quase não tinha chances claras. O perigo máximo foi dado pelos poucos contra-ataques em que a defesa uruguaia foi mal parada, mas a zaga acabou resolvendo. Muslera foi um espectador em grande parte do encontro. Foi um ponto importante, considerando que muitas vezes, para atacar um pouco mais, os objetivos originais são negligenciados. Ficou claro que Tabárez ainda está pensando para trás, mas acrescentou mais controle da bola, o que transforma o Uruguai em um time mais perigoso, que não só precisa de Suárez e Cavani para resolver tudo. É mais imprevisível.
A PARTE NEGATIVA
O fato de o Uruguai ter dominado o Egito não significa que ele tenha conseguido uma receita perfeita. No primeiro tempo teve a bola, mas custou muito para gerar o volume do jogo. Se ele se classificar para as oitavas-de-final, encontrará adversários muito mais duros, que o obrigarão a ajustar seu plano e recorrer a mais defesa. Isso leva a um ponto importante: o novo esquema ainda não foi testado contra grandes rivais.
Diego Forlán, um dos bastiões históricos da Seleção, fez alguns pontos importantes na sexta-feira, durante a transmissão do jogo.
- Temos dois jogadores que tecnicamente jogam outro futebol, os outros não. Em equipes como Espanha ou Brasil, os defensores estão no meio do campo, mas Godín e Josema estão por trás, eles não saem. Não sabemos como jogar em triângulos para cima, não temos saída das laterais, temos um jogador defensivamente muito bom (Cáceres), mas ofensivamente joga com uma perna trocada. Luis e Edi jogaram muito centralizados. Eu não estou indo contra o treinador, ele sabe o que faz. Quando Cebolla e Pato entraram no jogo, em pouco tempo a equipe mudou.
POR FIM
O Uruguai conseguiu o que Argentina, Alemanha e Brasil não fizeram: começar com vitória. Agora enfrenta o rival mais fraco do grupo, e mesmo que não possa ser confiável, deve levar uma vitória confortável e continuar a evoluir em sua mudança de estilo de jogo. Também certamente não sofrerá tanto a falta de espaço contra um adversário que costuma sair para atacar apesar de sua pobreza de recursos.