O debate sobre a permanência ou não de Cristiano Ronaldo no Real Madrid chama atenção às vésperas da Copa do Mundo. Mas, no time do atual melhor jogador do planeta, a influência do assunto é mínima. O que tem preocupado mesmo a seleção portuguesa é a crise do Sporting, um dos maiores clubes do país e onde atuaram na última temporada europeia quatro dos 23 convocados pelo técnico Fernando Santos.
A equipe de Lisboa vive momentos mais do que turbulentos desde 12 de abril, quando foi eliminado da Liga Europa pelo Atlético de Madri (que terminou o torneio como campeão) nas quartas de final. O presidente do time, Bruno de Carvalho, chamou os jogadores de "mimados", afastou 19 deles e a insatisfação chegou ao ponto de cerca de 50 torcedores invadirem o centro de treinamento do Sporting, encapuzados, para agredir atletas e membros da comissão técnica, inclusive desferindo facadas, em 15 de maio. Na sequência, o time perdeu do pouco tradicional Desportivo Aves na final da Taça de Portugal.
Os quatro envolvidos nessa crise que estão com Portugal na Rússia são o goleiro Rui Patrício, o volante William Carvalho, o meia Bruno Fernandes e o atacante Gelson Martins. Rui Patrício é apontado como um dos líderes do movimento contra o presidente do Sporting e foi um dos primeiros a entrar com pedido de rescisão na Federação Portuguesa de Futebol, na Liga de Clubes e Sindicato dos jogadores. Nessa segunda-feira, os outros três colegas de clube na seleção fizeram o mesmo.
A crise fez o Sporting deixa de ser o clube com mais representantes no grupo de Fernando Santos para não ter mais nenhum. No ambiente da seleção, há um temor em relação à influência no rendimento de cada um deles. William Carvalho, de 26 anos, e Bruno Fernandes e Gelson Martins, com 23 anos cada, tiveram suas redes sociais tomadas por xingamentos, ofensas e ameaças de torcedores do Sporting depois da confirmação de seus pedidos de rescisão.
Mas a situação que mais preocupa é a de Rui Patrício. Apesar de ter 30 anos, ser titular da seleção desde 2012 e eleito o melhor da posição na Eurocopa conquistada pelo país em 2016, há um debate sobre sua condição psicológica por sair desta forma do único clube que defendeu como profissional e no qual era referência.
O desempenho do goleiro nos treinos tem sido analisado individualmente pela imprensa portuguesa com tanto ou mais destaque do que as atividades de Cristiano Ronaldo. O jornal Record, de Portugal, inclusive, pediu que quatro de seus especialistas avaliassem se a situação do Sporting o afetaria, e dois indicaram que sim, apontando que ele certamente não está feliz e motivado como deveria. Apesar disso, Rui Patrício é elogiado por seu rendimento em treinamentos e amistosos antes do Mundial.
E é bem claro como os problemas com o Sporting seguem vivos na preparação da seleção. Nessa segunda-feira, o presidente do clube, Bruno de Carvalho, avisou que deixa o cargo se todos que pediram rescisão enviarem uma carta com dois pontos: avisando que seguem no Sporting caso ele saia, e que continuam no time mesmo se o atual mandatário disputar e ganhar novas eleições. Obviamente, a situação pode estar sendo debatida entre os atletas, mesmo com o discurso de foco na Copa do Mundo.
Em meio a isso, a dúvida sobre o futuro de Cristiano Ronaldo no Real Madrid tem movimentado mais a imprensa da Espanha, curiosamente adversária de Portugal na estreia do Mundial, na sexta-feira, do que os lusitanos. Os próprios companheiros do atacante não veem nenhuma influência nessa indefinição do melhor jogador do mundo.
- Não tenho nenhuma observação negativa sobre Ronaldo. Ele está concentrado em ajudar Portugal, e Ronaldo irá ajudar Portugal a ter maior apoio da torcida na Rússia, inclusive - comentou o volante Manuel Fernandes, em entrevista coletiva nessa segunda-feira.