Suárez: experiente, de bem com a vida, e muito respeitado na Celeste
Em coletiva descontraída na base do Uruguai na Copa, goleador fala sobre sua importância para o grupo, a fase "sem cartão" da sua seleção e alfineta Griezmann: 'Meio uruguaio? Tá!"
Luis Suárez é, definitivamente, o cara do Uruguai. Aquela história de destemperado, “mordedor” de orelhas adversárias, ficou muito para trás. Hoje, o jogador que brilha intensamente na Celeste e no Barcelona, mantém a mesma postura guerreira em campo. Muito mais experiente, segue fazendo gols decisivos, liderando seus companheiros e contando com o carinho de toda a imprensa uruguaia.
Nesta terça-feira, quando a assessoria de comunicação da seleção confirmou que Suárez seria um dos dois jogadores que falariam na coletiva, realizada no Centre Borsky, complexo esportivo a 20km de Nijny Novogorod e escolhido para ser a base da Celeste na Rússia, os cerca de 100 jornalistas - depois de passarem meia hora sob sol de 40 graus e serem revistados minunciosamente pelos policiais - se agitaram. Dois radialistas ligaram para seus chefes e pediram entradas ao vivo (a coletiva rolou às 13h de Moscou, 7h da manhã em Montevidéu). Um jornalista de uma TV do Uruguai pediu para que, diferentemente do padrão, onde os dois jogadores falam em conjunto, Suárez desse a entrevista depois de Laxalt, o outro escalado, pois assim o apoiador que virou titular apenas a partir da terceira rodada, teria a chance de responder algumas perguntas. Foi atendido.
Quando chegou a vez de Suárez , ocorreu um contra-tempo. Um pequeno principio de incêndio no CT – no fim das contas não foi nada – atrasou o papo por 20 minutos.
Enfim, depois de esperar do lado de fora (na verdade o corredor do hotel do complexo ) e sorrindo para os voluntários, Suárez entrou, distribuiu acenos para os jornalistas espanhóis (muitos) e uruguaios que ele conhecia e até brincou com mais um contra-tempo: os microfones da acanhadíssima sala de imprensa (40 lugares sentados) não funcionavam. Dois minutos de espera e o som voltou, mas quase estourando os tímpanos dos ouvintes. Suárez só olhava para a cara dos desesperados voluntários que buscavam a solução para o problema e sorria. Estava se divertindo.
Começou, então, um papo muito tranquilo. Quando perguntado por qual motivo ele e Cavani, os maiores astros, são sempre os primeiros a ajudarem na marcação, com muita garra e sem omissão em nenhum momento dos jogos, Suárez diz que o trabalho faz parte da estratégia do treinador e que tem condições físicas para seguir as ordens à risca, com humildade e sem estrelismo. Depois, falou um pouco sobre ser exemplo para os mais jovens:
- Quando cheguei, mirava Loco Abreu, Forlán, Andrés, Pablo Garcia. Me espelhava nesses caras e queria aprender tudo. Depois foram chegando os da minha geração. Admiro muitos deles. Agora, estão aí vários garotos e eu virei um dos mais experientes. Espero estar ajudando quem entra, mostrando humildade e trabalho, essenciais para termos um bom grupo. Parece dar certo. Vejam o Lucas (Torreira), que chegou, não foi intimidado e se enturmou. O garoto tem um jogo pela Celeste e se sente bem, parece que já está com a gente há muito tempo.
Outra mudança de parâmetro foi citada: a surpreendente marca que o Uruguai ostenta de ter levado um cartão amarelo em quatro jogos e apresentar baixíssima média de faltas , fatos incomuns para uma seleção históricamente "catimbeira", que faz multas faltas e leva muitos amarelos e vermelhos por causa do estilo duro de seus jogadores.
- Isso mostra que o Uruguai é forte e agressivo na marcação, mas sem má intenção com os rivais. Mais uma prova de que o importante não sou eu ou o Cavani individualmente, mas o conjunto. Estou orgulhoso, um cartão em quatro jogos - disse enquanto abria o seu maior sorriso na entrevista.
Nem mesmo uma pergunta sobre o seu passado de polêmicas (estava nítido que o repórter inglês falava da "mordida" em Chielini no Uruguai x Itália em 2014 que o fez pegar nove jogos de suspensão e da "mordida" no braço de Ivanovic que valeu dez jogos de suspensão quando ele ainda atuava pelo Liverpool) deixou de ser respondida, com muita educação.
- Vou amadurecendo e buscando viver o presente, que agora significa um bom jogo nas quartas de final contra a França, buscando vencer e fazer história.
História essa que passa em encarar M'Bappé e Griezmann. Sobre o primeiro, ele pediu atenção, mas lembrou que a França tem um elenco forte e não apenas um astro-revelação. Já sobre Griezmann, ele deu a sua única estocada, quando foi perguntado sobre a declaração de que o jogador do Atlético de Madrid se diz meio uruguaio por ser muito amigo do zagueiro Godín (o mais importante jogador do Uruguai após a dupla Suárez/Cavani).
- Ele é um grande jogador, mas não é meio uruguaio. Ele é francês não tem nosso sentimento, nossos costumes, não sabe a entrega e o esforço para um pais com tão pouca população ter o futebol que tem. Sentimos as coisas de outra maneira - concluiu nesta que foi a última pergunta da entrevista.
E é esse sentimento uruguaio que Suárez, muito provavelmente sem Cavani ao seu lado, pretenderá levar a campo para o jogo desta sexta-feira que valerá vaga na semifinal e será disputada a apenas 20km do QG celeste, em Nijny Novgorod. Falta de vontade, garra e alma na chuteira não faltará ao maior goleador da história da seleção uruguaia.