Uma Copa do Mundo para acabar com o estereótipo russo
Começa nesta quinta-feira a Copa-2018, que tem o Brasil como favorito. Para os anfitriões,é mais do que um torneio: pode ratificar para o mundo, que o país tem nova e moderna cara
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Começa hoje a Copa da Rússia. Durante a organização, o país se envolveu em várias polêmicas políticas e em escândalo de doping. Também viu Vitaly Mutko, ministro do esporte e chefe do comitê organizador da Copa, renunciar ao cargo em janeiro. E enfrentou denúncias de superfaturamento nas obras dos estádios – a Arena de São Petersburgo custou o valor absurdo de quase R$ 5 bilhões, o triplo do gasto nas criticadas obras do Maracanã em 2014.
Em meio a tudo isso, havia a preocupação com a segurança e a dúvida se a Rússia estaria preparada para sediar uma competição de alto nível, já que trata-se de um país mundialmente famoso por ser fechado, com língua e alfabeto nada amistosos para não iniciados e com fama de arrogante e mal-humorado.
E é tudo isso que a Rússia espera mudar com este Mundial. Centenas de milhares de turistas e jornalistas chegaram e estão tomando sustos: veem que os serviços funcionam, a violência é muito menor do que se alardeia, os preços são bem camaradas e as pessoas, em sua maioria, são prestativas. Fechada? Ela parece um país totalmente ocidentalizado, com seus shoppings enormes, fast foods americanos, cinemas com filmes de super-herois em cartaz.
Sobre a Copa, até onde se pode ver, a coisa está nos trinques. Estádios impecáveis na capital, centros de treinos estruturados (embora pequenos). As ruas não estão muito enfeitadas, é verdade, mas há cartazes e banners por toda a cidade. Não vemos muitos russos com camisas de times (apenas um ou outro com a camisa da seleção russa), mas o país entrou no ritmo da Copa. A carranca russa diminuiu com a chegada de um clima mais ameno nos últimos dias.
Os russos do século 21 são bem mais abertos. Mas ainda frios com estrangeiros. Mas talvez possam ganhar até um pouco da espontaneidade sul-americana, já que impressiona o número de colombianos e peruanos pelas ruas de Moscou, assim como a massa de brasileiros e argentinos.
Mas bem que a (fraquíssima) seleção russa poderia ajudar. Nesta quinta-feira haverá um teste de fogo: a partida de abertura da Copa contra a Arábia Saudita, pelo Grupo A, às 12h (de Brasília), no estádio mais icônico do paçis, o Luzhniki. Uma boa vitória, além de acabar com a má fase do time treinado por Cherchesov, dará ao torcedor a esperança de classificação às oitavas, aumentando o interesse dos russos pelo Mundial também com o resultado nas quatro linhas e não fora dela.
- Com o que já fizemos em estrutura e planejamento, mostramos que somos capazes de fazer grandes eventos. O Infantino, presidente da Fifa, disse que nunca viu uma organização tão boa. Agora é hora de mostrar o nosso valor em campo - disse o treinador, na coletiva de ontem.
Mas quem deu a deixa perfeita para o momento foi o lateral-direito, que faz também a função de apoiador, Samedov.
- Queremos lutar e tentar deixar o nosso torcedor orgulhoso com a equipe, assim como nós estamos orgulhosos da nossa população e da organização.
Em 1986, a Copa ajudou o México a superar uma catástrofe (um terremoto) e tornar a seleção - um saco de pancadas - respeitável; em 2006, a Alemanha reformou estádios, profissionalizou seu futebol e aumentou o patriotismo (pela primeira vez, os germânicos usaram com orgulho a bandeira nacional unificada). Em 2010, a África do Sul fez um belo evento, com muita alegria. Agora será a vez de a Rússia tirar proveito da oportunidade.
A largada é hoje e o mundo está de olho. Quer ver bons jogos e saber se algum favorito (Brasil, Alemanha, França, Bélgica, Argentina, Portugal ou a Espanha, que ontem demitiu seu treinador, colocou Hierro para tapar buraco e vive profunda crise) levará a taça ou se haverá uma surpresa. Para a Rússia, o desafio também é particular: provar que é capaz de derrubar todos os estereótipos.
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