A Copa do Mundo da Rússia é a primeira que conta com o auxílio do VAR (sigla em inglês para árbitro de vídeo) e essa novidade já influenciou o resultado final de alguns jogos, fato que coloca a tecnologia em evidência no quinto dia de Mundial. O uruguaio Andrés Cunha entrou para a história das Copas como o primeiro juiz a marcar um pênalti com ajuda do VAR, na partida entre França e Austrália. Depois desse jogo, a tecnologia entrou em ação em Peru 0x1 Dinamarca, Costa Rica 0x1 Sérvia e Suécia 1x0 Coreia do Sul.
Os procedimentos estão corretos? As decisões foram acertadas? O LANCE! conversou com ex-árbitros que explicaram melhor o VAR na Copa do Mundo.
Carlos Eugênio Simon, ex-árbitro e comentarista
"Sou favorável a tudo que possa legitimar o resultado de um jogo e a tecnologia pode e deve ajudar a arbitragem. O VAR é o melhor amigo dos árbitros, mas não acabará com todas as polêmicas do futebol, tem lances interpretativos que continuarão gerando discussões. Agora lances, como por exemplo o gol do Lampard na Copa 2010 em que a bola entrou um metro além da linha, com certeza hoje seria confirmado e na época a arbitragem não viu. Eu entendo que ainda precisa de alguns ajustes mas é um caminho sem volta", afirmou.
José Roberto Wright, ex-árbitro
"As polêmicas não irão acabar, mas sem dúvidas a tecnologia facilitará o trabalho dos juízes. Há casos em que a consulta do VAR não é necessária, há lances teoricamente fáceis e que são possível de marcar a olho nu. O pênalti desperdiçado pelo Cueva foi uma jogada que não precisava pedir o auxílio da tecnologia, foi possível ver que ele recebeu o toque por baixo. A minha dúvida é que em um determinado momento aparece um sujeito de paletó na beira do campo e fala com a equipe de arbitragem dentro de campo. O que foi falado ali? É algo que precisaríamos saber para não deixar dúvidas", afirmou.
"Ao meu ver está sendo positivo, o espetáculo das transmissões com 33 câmeras contribuem bastante com a tecnologia, além de facilitar o trabalho dos árbitros. Estamos em um caminho legal em função da tecnologia. Precisamos ver quais são os campeonatos ao redor do mundo que terão condições de arcar com os custos benefícios. E saber também ao certo quanto custa esta ferramenta, pois com certeza é muito caro", completou.
Sálvio Spínola, ex-árbitro e comentarista
"Não tem como ter uma decisão unânime, o VAR não vai acabar com todos os erros e nem com as polêmicas. O árbitro de vídeo está sendo usado da maneira correta, de acordo com o que o protocolo permite, porém irá apenas reduzir as falhas dos juízes. Por exemplo, pra mim não foi falta no primeiro gol da Espanha contra Portugal, Diego Costa pula com o braço aberto e o Pepe ainda não estava no local, portanto a decisão foi correta da arbitragem. Mas muitos telespectadores acreditam que o árbitro deveria pedir o auxílio do VAR para revisar o lance e em momentos interpretativos será difícil não ter polêmica".
Veja abaixo os lances que foram decididos com ajuda do VAR:
França 2 x 1 Austrália - Lance de pênalti
O jogo ainda estava 0 a 0 quando o árbitro Andrés Cunha decidiu conferir a jogada em uma tela do lado do campo. Inicialmente ele não tinha marcado pênalti em Griezmann e o jogo seguiu por cerca de 20 segundos. Após paralisar partida para acompanhar o replay, ele apontou para a marca da cobrança de pênalti e ainda deu cartão amarelo para o jogador australiano.
Dinamarca 1 x 0 Peru - Lance de pênalti
A partida estava 0 a 0 quando Cueva recebeu a bola dentro da área, driblou seu adversário, mas acabou sendo derrubado. Após quase meio minuto, o árbitro Bakary Gassama, de Gâmbia, paralisou o jogo para acionar o recurso do VAR e então, decidiu dar o pênalti. Cueva bateu para fora.
Sérvia 1 x 0 Costa Rica - Dúvida sobre cartão
No minuto final da partida, o atacante sérvio Prijovic deu uma braçada no rosto de Acosta. Em dúvida sobre a cor do cartão, o árbitro senegalês Malang Diedhiou usou o recurso tecnológico para conferir o replay do lance e deu cartão amarelo para o jogador.
Suécia 1 x 0 Coréia do Sul - Lance de pênalti
Já no segundo tempo e com empate no placar, o juiz de El Salvador Joel Aguilar não viu pênalti do coreano Kim Min-Woo em Claesson e seguiu normalmente a partida, mas cerca de 30 segundos depois foi avisado pelos responsáveis do VAR sobre uma possível irregularidade e parou o jogo para consultar o recurso tecnológico. Com o replay da jogada, ele voltou atrás e assinalou a penalidade, que resultou no único gol do jogo.
Quando o VAR é acionado:
1) Anular um gol ilegal, feito com a mão ou por um jogador impedido (ou validar um gol legal);
2) Marcar um pênalti claro e que tenha passado despercebido (ou corrigir uma simulação);
3) Expulsar um jogador que tenha cometido falta passível de cartão vermelho direto (e que tenha passado despercebida pelo árbitro);
4) Em caso de confusão de identidade - ou seja, se o juiz mostrar cartão, amarelo ou vermelho, ao jogador errado.
A revisão desses tipos de lance será feita por uma equipe de cinco juízes profissionais, instalados em uma cabine dentro do Centro Internacional de Transmissões, em Moscou. Ao todo 13 árbitros se revezarão nessa tarefa, entre eles o brasileiro Wilton Pereira Sampaio.
Portanto, não será em toda jogada duvidosa que haverá o sinal de consulta com o árbitro eletrônico. Vale destacar que quem questionar com o juiz sobre a revisão ou pedir de forma acintosa a participação do VAR, será punido com cartão amarelo.