ANÁLISE: Corinthians precisa aprender com o del Valle como extrair melhor o suco do elenco que tem
Sem grandes etrelas, a equipe do Equador se mostrou organizada e envolveu o Timão durante os 90 minutos em Quito
Ainda que o Corinthians não tenha visto a cor da bola na derrota para o Independiente del Valle, na noite da última quarta-feira (7), em Quito, a eliminação da equipe alvinegra na primeira fase da Libertadores pela segunda vez na história vai além do revés na capital equatoriana e diz muito sobre o choque de planejamento que as duas equipes possuem.
Comprado em 2006 por um grupo de empresários, o del Valle assumiu uma filosofia de formação, onde o orçamento é destinado muito mais para as categorias inferiores do que para investimento em contratações profissionais. O resultado disso são os resultados esportivos. O time do Equador tem rompido barreiras e feito história desde 2016, quando foi vice-campeão da Libertadores em uma edição em que eliminou os poderosos Boca Juniors e River Plate, ambos da Argentina, e evoluiu aos dois títulos da Sul-Americana, conquistados em 2019 e 2022, e a Recopa vencida em pleno Maracanã, contra o Flamengo, no início deste ano.
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Enquanto isso, o Timão foi o primeiro time na história a ter quatro técnicos diferentes nas quatro primeiras rodadas do Campeonato Brasileiro, nesta temporada, investiu em atletas com idade avançada que ficaram longe de dar retorno técnico ao clube e hoje está a mercê do trabalho de um técnico que foi contratado porque ‘sobrou’ na lista de opções.
No papel, o Independiente del Valle está longe de ter super-craques, mas em campo colocou o Corinthians, de atletas prestigiados, como Cássio, Fagner, Renato Augusto, Róger Guedes etc, na roda, justamente por ter um trabalho coletivo amplamente qualificado. Um modelo de jogo instituído por Miguel Ángel Ramírez, que passou por Renato Paiva e agora é muito bem aplicado por Martín Anselmi.
No primeiro tempo disputado no estádio Banco de Guayaquil, os atletas do Independiente passearam pelo lado direito ofensivo, o esquerdo defensivo do Timão, que estava totalmente fragilizado, com Murillo e Matheus Bidu. Mesmo com três zagueiros e com o lateral-esquerdo apoiando a marcação em linha de quatro, o time alvinegro sempre deixava um atleta do del Valle sobrando. E foi assim que saíram os dois primeiros gols, ambos marcados por Michael Hoyos.
No segundo tempo, o técnico corintiano Vanderlei Luxemburgo colocou o volante Roni no lugar do lateral-esquerdo Matheus Bidu, reforçando a marcação pela esquerda ao prender o zagueiro Murillo como ala no setor canhoto. O Independiente del Valle, então, mesmo não tendo mais tanto poderio por aquele lugar seguiu mandando na partida de outra forma, principalmente pelo rápido entendimento da mudança e deslocamento no posicionamento de Ortiz, que foi o grande pulmão da equipe equatoriana no triunfo sobre o Timão. De toda forma, anotou o terceiro na única escapada que conseguiu pela direita.
O reflexo dessa superioridade do time estrangeiro está na quantidade de finalizações dada pelos dois times: Independiente del Valle 16 (seis no gol) x 3 (uma no gol) Corinthians. Além da forma que esses chutes chegavam. A equipe do Equador colocava, pelo menos, quatro jogadores na linha da grande área quando chegava à intermediária ofensiva. Já o Timão, no seu único momento de perigo, teve Róger Guedes sozinho, tendo que girar contra marcação e finalizar, após, é bem verdade, uma trama interessante entre Fagner e Yuri Alberto. Ainda assim, é muito pouco para um time com peças renomadas.
Portanto, o Corinthians precisará aprender com o del Valle como extrair suco do elenco que tem para não sofrer ainda mais na temporada. E também se inspirar nos equatorianos como gerir de forma mais eficaz o clube, já pensando a médio e longo prazo.