Artigo: ‘Descanse em paz, Freddy Rincón’
'Rincón é um dos símbolos de uma das eras mais vencedoras do Corinthians. E, isso, depois de ter jogado no principal rival, o que, para a época, tinha um peso maior do que hoje'
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Foi na Copa de 1990 que Freddy Rincón chamou a minha atenção pela primeira vez. Eu gostava do Valderrama. Demais. Menos pela bola que jogava, que era muita, mais pela cabeleira extravagante. Não era comum, na época, e eu ficava me perguntando como ele enxergava a bola, porque os cachos, queira ou não, tapavam parte da visão do sujeito.
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Pois Valderrama fez uma baita jogada, deixou um monte de gente para trás e tocou para Rincón, contra a Alemanha. Ele meteu a bola no meio das pernas do goleiro.
E eu achei uma coisa ousada, porque como a Colômbia vai fazer aquilo justamente contra a Alemanha, que eu tinha como símbolo do poder e da soberania em tudo? Eu era um garoto de 12 anos.
Mas, depois, o foco mudou para a tranquilidade que Freddy teve para, de novo, meter a bola entre as pernas do goleiro. “Imagina esse cara jogando no Brasil?”, eu pensei. De verdade.
Como se sabe, claro, ele jogou. Vestiu as camisas de Palmeiras, Corinthians, Santos e Cruzeiro. Mas foi pelo Timão que mais se destacou, empilhando títulos, boas atuações e construindo uma história. Rincón é um dos símbolos de uma das eras mais vencedoras do clube alvinegro. E, isso, depois de ter jogado no principal rival, o que, para a época, tinha um peso maior do que hoje em dia.
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História recheada de jogos memoráveis e casos memoráveis. Porque Rincón foi intenso, com a bola nos pés e na vida. E, talvez por isso, tenha sido diferente. Um cara que era simplesmente completo, como jogador, executando todos os fundamentos com maestria. Forte, marcava bem, era duro - às vezes, demais -, chutava, cabeçeava e passava.
Sem a bola, não se privava da condição de líder, mesmo que isso, de vez em quando, significasse bater de frente (quase que literalmente) com alguns dos companheiros de time e até mesmo com a torcida. Quem tinha peito para encarar o sujeito, sabendo o que ele entregava em absolutamente todo jogo, dentro de campo, sem mimimi?
Rincón teve lá seus problemas. Mas faz falta ao futebol. Por tudo o que fez, por tudo o que, eventualmente, ainda poderia fazer e, principalmente, porque, hoje, existem poucos como ele.
Descanse em paz, Freddy.
* Plínio Rocha é jornalista. Trabalhou no LANCE! durante 12 anos, como repórter e editor, nas redações de São Paulo e do Rio de Janeiro. Também teve passagens na Rádio Jovem Pan, no Diário de S.Paulo, na Editora Abril e na ESPN Brasil. Cobriu Olimpíadas e Copa do Mundo, além de outros eventos
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