Até tabuada! Preparador de goleiros do Corinthians explica suas ‘loucuras’
Em entrevista ao LANCE!, Mauri Lima se diverte ao explicar os exercícios que inventa para os goleiros. Ele também detalhou desentendimento com Cássio e falou sobre Walter
"Três vezes três, cinco, cor vermelha". Ao ouvir isso durante um treinamento no CT Joaquim Grava, fica claro: os goleiros do Corinthians também precisam ser bons de matemática. O preparador Mauri Lima se diverte ao tentar explicar os exercícios que ele exige de Cássio, Walter, Matheus e Caíque.
- Eles até brincam comigo: "pô, Mauri, está ficando louco de novo?", "hoje vai ter mais uma loucura" (risos). Mas é uma forma de mudar o dia a dia, para não ficar monótono. E faz com que eles trabalhem sistemas diferentes do corpo, formas diferentes de a bola chegar, deslocamentos diferentes... Tudo isso acrescenta - afirma Mauri, em entrevista ao LANCE!.
A loucura preferida até agora foi o painel com números, cores, imagens de bolas e escudos do Corinthians implantado nesta temporada. No exercício, Mauri falava alguma tabuada, um outro número e cor. O goleiro, então, tinha de bater no número que simbolizava o resultado da tabuada e depois nos outros itens que haviam sido falados pelo preparador.
- Eu gostei do banner da tabuada, porque força a cabeça. Tem que fazer um raciocínio rápido, e eu acho muito bom. E na parte final é bola. Antes tinha só as cores, mas depois coloquei os números. Obriga o goleiro a pensar com mais rapidez, senão chega atrasado na batida da bola - diz Mauri, nesta hora já com o semblante mais sério ao tentar explicar os benefícios do exercício.
Mauri assiste a vídeos de treinos em outros clubes, mas diz que inventa a maioria, como o próprio painel com símbolos e a lona na barreira fixa para encobrir totalmente a visão do goleiro.
- Às vezes eu vejo alguns vídeos. Se um profissional está fazendo algum trabalho diferente, eu procuro ver e destrinchar em uma, duas ou três coisas diferentes. Mas tiro muito da cabeça, crio quando chego em casa ou em viagens, nos hotéis. Pego uma canetinha e começo a desenhar e escrever. Fico bolando os treinos e vou trazendo. Tem alguns que te ajudam, outros que não conseguem adquirir o melhor do goleiro, então você faz mudanças - conta o preparador, que está no Timão desde 2008.
Em uma entrevista muito descontraída, Mauri também falou de assuntos mais sérios, como o desentendimento com Cássio no ano passado e a situação do reserva Walter. Confira abaixo:
Quais os objetivos destes exercícios "loucos"?
Trabalhamos a parte lúdica e também o deslocamento, porque tem de estar atento onde tocar e ir para a bola. Buscamos trabalhos de velocidade, com a lona que cobre a barreira, tem de ter reação e velocidade muito grandes. O pessoal fala muito em reflexo, mas hoje não tem reflexo. Para goleiro não existe reflexo, tem reação e velocidade. Reflexo é só no espelho (risos). Tudo é preparação para ter a reação.
Como explicar a boa fase de Cássio?
A fase é mais proveniente dele, que trouxe para si a reconquista da responsabilidade e o que apresentou sempre desde que chegou aqui. Em 2016 tivemos uma dificuldade muito grande, mas em 2017 ele viu que perdemos um ano e se conscientizou para fazer esse grande trabalho, com muita regularidade. Esperamos que ele possa continuar assim, ele tem chance de estar na Seleção, tem qualidade para isso, e está em aberto. É o que nós buscamos.
O próprio Cássio já disse que mudou na parte extracampo. Conversam sobre isso?
Nós conversamos um pouco sobre o extracampo, mas a gente cobra quando está errado. Quando está certo deixamos caminhar. Ele me falou sobre essa mudança, com a religião e com a esposa que o ajuda também na parte da alimentação, com amigos que também estão ajudando bastante. O profissional precisa do corpo para trabalhar, e o goleiro muito mais, o trabalho é muito mais árduo. Ele tem feito de uma maneira gratificante, provando que aquele goleiro que conhecíamos desde que chegou pode estar cada vez até melhor.
E o Cássio ainda pode evoluir?
Todos nós temos a chance de evoluir, basta queremos. Se ele quiser (evoluir), sim. Daquilo que nós tínhamos e vimos hoje, a evolução foi enorme. Basta querer que dá para crescer.
Como foi a volta por cima após o desentendimento em 2016?
Nós erramos, tanto eu quanto ele. Eu talvez tenha errado em cobrar demais porque sabia que não estava certo. Ele talvez tenha errado porque às vezes sem prensar falava alguma coisa que não condizia com o que pensava. O mais importante foi que ele conscientizou. Foi o melhor ano que ele chegou aqui em relação ao peso e ao percentual de gordura, em termo de condicionamento físico... Então foi fácil dar sequência. Tivemos uma conversa no fim do ano passado e no início do ano, falei que tinha sido um ano perdido: "vamos tentar recuperar". E estamos recuperando. Estou muito feliz por ele, e espero que continue assim, mantendo essa regularidade, ele ajudando o clube e procurando fazer as portas se abrirem em relação ao futuro, em termos de Seleção Brasileira, coisa que eu gostaria muito que acontecesse.
E como motivar o Walter?
O goleiro só joga um. Não diria só o Walter. Tem o Caíque e Matheus também. A motivação bem mais deles. Eles torcem, ajudam e sempre procuram fazer o melhor. Lógico que na consciência de cada um eles sabem, e tem de estar sempre bem. O trabalho é igual para todos, não tem diferença. Os quatro estão no mesmo nível. Tem de estar sempre incentivando da mesma forma cada um. Não tem um jeito especial, tem de tratar todos igualmente. Eles estão ali juntos, e nós sabemos que qualquer um dos quatro pode jogar. É difícil, mas é a vida que eles escolheram (risos). Às vezes é um pouquinho complicado para eles, e até para nós, mas tem de estar preparado.