Carille analisa futebol no Brasil: ‘Tem tudo para ficar cada vez mais abaixo’

Em entrevista exclusiva ao LANCE!, técnico do Corinthians diz que a economia tem de voltar a estar em alta para o futebol crescer no país: 'Uma coisa puxa a outra'

imagem cameraDaniel Augusto Jr
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Lance!
São Paulo (SP)
Dia 25/12/2017
19:03
Atualizado em 26/12/2017
07:00
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O técnico Fábio Carille sabe que o futebol brasileiro está abaixo em relação à Europa, por exemplo. E o treinador do Corinthians não mostra otimismo para analisar o futuro do esporte mais popular no Brasil. Para ele, "tem tudo para ficar cada vez mais abaixo".

O comandante corintiano acredita que a economia tem que estar em alta no Brasil para o futebol voltar a crescer no país. É também por isso que Carille não gosta de comparar os técnicos daqui com os dos clubes europeus.

Nesta parte da entrevista concedida ao LANCE!, Carille também opinou que só Palmeiras e Flamengo não "estão muito preocupados" com a parte financeira, elogiou o nível dos jogadores brasileiros e analisou a dificuldade nas contratações no mercado interno. Confira:

Na Europa, os técnicos já sabem o elenco da temporada, enquanto aqui há muitas mudanças em pouco tempo. Esse é um dos motivos para tanta diferença?
A maior questão é a financeira do país. Além de ser melhor para o atleta, o clube está louco para vender para entrar receita. Hoje só Palmeiras e Flamengo não estão muito preocupados com isso, mas o restante está. Faz parte. por isso não gosto das comparações de técnicos brasileiros com europeu. Esse ano o Guardiola, além do time montado, parece que tinha R$ 1 bilhão para investir. É totalmente fora da nossa realidade. Mas não quero dizer qualidade do trabalho. Mas para comparar tinha que ser o mesmo nível. É outra mentalidade, outra questão financeira, outra cultura... É difícil comparar.

Acha que dá para chegar perto disso um dia aqui no Brasil?
Primeiro a economia do Brasil tem que estar ótima para depois as outras coisas crescerem juntas. Não vejo o futebol crescer e o país ficar para trás. Uma coisa puxa a outra.

Então concorda que o nível aqui está abaixo?
Está abaixo e tem tudo para ficar cada vez mais abaixo. Por quê? Gabriel Jesus não ficou um ano como titular do Palmeiras. O Malcom em 2015 só jogou o segundo semestre aqui (no Corinthians, antes de ser vendido ao Bordeaux, da França). É interessante para o atleta que vai ganhar muito mais, é interessante para o clube vendê-lo e o cara quer ir. E tem que ir, porque tem todas as condições favoráveis, uma condição familiar muito boa, indo para lugares maravilhosos principalmente na Europa. A China talvez não seja boa para viver, mas em dois anos você praticamente resolve sua vida economicamente. Existe bastante qualidade, é isso que eu discordo. Acabou a qualidade no futebol brasileiro? Sim, está abaixo, mas nossos jogadores estão todos por aí fazendo frente com os maiores jogadores do mundo.

Por isso que é tão difícil ter grandes contratações aqui? Quase todos os destaques vão para clubes estrangeiros...
Muitas vezes, quando acontece o interesse aqui, é que já não foi tão bem. Muitas vezes não sai tão valorizado ou está em final de contrato, como o caso do Lucas Limas. Mas não vejo um time daqui ir lá no Atlético-MG e comprar o destaque deles. Ou um time ir lá no Grêmio e tirar o Luan. Então fica um mercado paralelo. Acaba tendo engenharias, como no caso do Jadson e Pato naquela troca com o São Paulo. Às vezes você pode buscar o destaque do Vitória, que é mais fácil de operar. Mas entre os grandes destaques é muito difícil, a não ser que seja para fora. Teve alguns casos nos últimos anos, como o Leandro Damião para o Santos, mas muito pouco.

Mas apesar da crise financeira, os salários estão cada vez mais altos. Como que o Corinthians fez para reduzir a folha salarial?
Hoje o Corinthians abaixou bem do que foi anos atrás, e perto do que a gente escuta em outros clubes. Abaixou bem em relação a 2011, 2012, 2013... Mas bem mesmo. Foi pela situação financeira, teve vários jogadores vendidos e o dinheiro usado para pagar dívidas. Arrecadou muito, mas ficou uma conta muito alta, teve o estádio e outros fatores. Mas o que não podemos deixar de acreditar é o trabalho. Muitas vezes um jogador não está bem, o clube vai lá e compra outro. Não espera, já descarta, fica inchando o elenco. Esse ano foi uma prova muito grande para o futebol o que aconteceu aqui no Corinthians.

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