Com rosto, projeto e ideologia, saiba por que o Corinthians se tornou referência no futebol feminino
Desde 2018 com um projeto próprio na categoria, encabeçado pela diretora Cris Gambaré, as Brabas são referências dentro e fora de campo
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Não existe maior referência no futebol feminino brasileiro atualmente do que o Sport Club Corinthians Paulista. Com três títulos conquistados em três campeonatos disputados na última temporada, as meninas do Timão faz valer o rótulo de 'As Brabas'.
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Mas essa bravura não é somente reflexo do desempenho do time dentro das quatro linhas, mas de toda a construção de um projeto, que teve início em 2016, em uma parceria com o Osasco Audax, e seguiu de forma individual a partir de 2018.
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A CARA DAS BRABAS
Hoje, sobrando na categoria, os rostos de muitas mulheres refletem no sucesso do futebol feminino corintiano, mas uma em especial foi fundamental para que a modalidade fosse tratada com o devido respeito, não só de palavras, mas com ações de planejamento: a diretora Cristiane Gambaré.
Ex-conselheira do clube alvinegro, função que exerceu durante 11 anos, a empresária foi convidada em 2015 para formatar um projeto de futebol feminino, que iniciou junto com o Audax, mas que teve a profissional mantida na transição para que a modalidade fosse cuidada de forma individual pelo Corinthians, a partir de 2018.
Esse processo de transição foi acompanhado de perto por um dos maiores nomes do futebol feminino brasileiro: Milene Domingues. Corintiana declarada, ela foi atleta do Timão no fim da década de 90 e com a individualização da administração da categoria pelo clube do Parque São Jorge se tornou embaixadora do Timão na modalidade.
Milene certifica o protagonismo de Gambaré na elaboração e efetivação de um projeto de bravura.
- Um nome essencial disso tudo é a nossa diretora, Cristiane Gambaré. Ela que move tudo, "puxa a carroça" e todas nós vamos atrás. Ela é a nossa comandante. Muito trabalho e resultados. Uma máquina que todas as engrenagens tem que estar juntas, ninguém é melhor do que ninguém, ninguém tem mais poder ou mais valor. São todos juntos por um só objetivo. Isso tem dado certo, dado títulos - disse Milene Domingues com exclusividade ao LANCE!.
PROJETO RESPEITOSO E RESPEITADO
Ainda que muito rapidamente o Corinthians tenha conquistado títulos no futebol feminino desde 2016, o projeto corintiano, liderado por Cris Gambaré, foi muito além de taças, mas de avanços na modalidade, dando condições para as atletas e sempre elevando o patamar da categoria.
Os primeiros passos foram de manutenção da comissão técnica. Arthur Elias é o treinador do time feminino do Corinthians desde a parceria com o Audax e hoje sobra na sua função na categoria. Além dele, há mais de 10 profissionais com funções distintas, entre auxiliares e supervisores, passando por preparadores físicos e até analistas de desempenho, para aperfeiçoar o desenvolvimento das atletas.
A base dos elencos também sofrem pouquíssimas mudanças de uma temporada a outra. Ainda que tenha algumas baixas, elas são muito pequenas de acordo de ano a ano. Algumas atletas do Timão estão há temporadas consecutivas defendendo a equipe.
Paralelamente a isso, há um investimento em infraestrutura, com campo de treinamento próprio no CT Joaquim Grava, academia do Parque São Jorge, e também na formação, com categorias sub-20 e sub-17 para o time feminino, disputando competições, e com o intuito maior de manter a competitividade da instituição na modalidade.
Mas essa construção não foi feita do dia para a noite, como relata Milene Domingues.
- É muito trabalho, trabalho de formiguinha mesmo, entre todos. Trabalho entre uma ótima comissão, confiança nela, nas jogadoras eles buscam e querem, confiança das jogadoras, nesse projeto. Por muitíssimas vezes não tem o dinheiro que elas merecem, mas infelizmente não temos, mas elas (jogadoras) acreditam no projeto, em trabalhar nas condições que elas mereçam, e isso o Corinthians dá, essa infraestrutura, mas também que foi ganhando ao longo desses anos de trabalho - destaca a embaixadora corintiana.
Mas os maiores passos dados pela administração do futebol feminino no Corinthians foi o tratamento das jogadoras como profissionais, e não meras prestadoras de serviço, modificando o modelo de contratação em 2020, migrando as Brabas na categoria CLT, resguardando pagamento de direitos de imagem, multa rescisória, entre outros direitos que há tempos são aplicados na categoria masculina.
- O Corinthians Feminino virou referência, não somente pelo o que ele faz dentro de campo, mas também pela qualidade que a diretoria Cris Gambaré dá para suas atletas, como, por exemplo, carteira assinada para todas. Foi o primeiro time a fazer isso de forma clara e justa. Tem todo um envolvimento por parte do Corinthians, que não trata como obrigatoriedade ter o time feminino, mas, sim, tem por amor mesmo, e sabe que o público já está aderindo a ver as 'brabinhas' em campo - pontuou a jornalista Marcella Azevedo, da ESPN, em contato com a reportagem.
- Fora que, não é fácil um time ser campeão de tudo, por muitos anos. O sarrafo do Corinthians é alto demais e não tem como não ser referência no Futebol Feminino - acrescentou Marcella.
- O sucesso do Corinthians feminino está atrelado ao comprometimento com o projeto. O clube abraçou, de fato. Não só abraçou, como estruturou. E o resultado a gente vê em campo, com uma equipe a ser batida no futebol brasileiro, e me arrisco a dizer no sul-americano também, com o desempenho da equipe na última Libertadores, muito aquém das outras equipes - analisa a jornalista Jordana Araújo, da rádio Band News FM.
- Tem muito a ver com o comprometimento da diretoria com o projeto do futebol feminino e a forma como é conduzido e a liberdade que se dá a diretoria para conduzir esse projeto. Eu acho que o segredo é comprometimento e respeito ao trabalho da Cris Gambaré, da comissão técnica, que tem estrutura e respaldo - complementa Jordana
IDEOLOGIA EXPLÍCITA
Com todo o modelo de trabalho implementado e tendo muito sucesso, o Corinthians dá um recado claro para o futebol feminino brasileiro: é fundamental que valores sejam agregados à modalidade para que ela possa ser valorizada.
E no caso desses valores, eles vão além da parte financeira que, mesmo com todos os avanços corintianos nos últimos anos, está longe de ser o ideal para o futebol feminino. A inclusão de departamentos específicos e qualificados ao time feminino, uma comissão técnica encorpada e até mesmo as categorias de base para as meninas são passos fundamentais para o avanço da profissão no Brasil, algo que agrega muito, e que ainda é escasso na modalidade em um país que se diz do futebol.
- Eu sinto que isso ainda falta ao futebol feminino do Brasil, que é sustentar projetos de futebol feminino. Não é só ter um time pra dizer que tem, mas investir pra colher lá na frente. O time feminino do Corinthians ainda não é autossustentável, mas caminha pra isso, o que é incrível - destaca a jornalista Isebelly Morais, do Grupo Bandeirantes de Comunicação.
O Corinthians deu o primeiro passo e alcançou a mais alta prateleira do futebol feminino nacional, mostrou que há muito o que extrair da categoria e os frutos estão sendo colhidos, com patrocínios e ações específicos, recordes de públicos em partidas decisivas e uma presença e participação cada vez maior de todos do certame, dos torcedores à diretoria.
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