Medo de traições e contas: Timão se prepara para votar impeachment
Grupos favoráveis e contrários à saída do presidente do Corinthians, Roberto de Andrade, se articulam nos bastidores e fazem campanha antes da reunião da próxima segunda-feira
A menos de uma semana para a votação do impeachment do presidente Roberto de Andrade, a política do Corinthians ferve nos bastidores. Grupos favoráveis e contrários à deposição do mandatário trabalham em busca de votos. Os argumentos e táticas de cada um dos lados é diferente, mas os adversários tem previsões e temores em comum. Aliados e opositores acreditam em um resultado apertado nas urnas na próxima segunda-feira e apostam em traições de conselheiros, já que os votos serão secretos.
Atualmente o Timão tem 341 conselheiros, que serão os responsáveis por definir se Roberto de Andrade completará ou não seu mandato, que vai até fevereiro de 2018. Se a maioria simples optar pelo "sim", uma assembléia geral será convocada para que os sócios do clube votem a deposição.
Em um colégio eleitoral tão pequeno, cada voto é importante. Por isso, assim como aconteceu em Brasília, em 2016, quando o Congresso aprovou a abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, há nos bastidores um placar informal da votação. Defensores de Roberto de Andrade garantem já ter a quantidade necessária de apoios para garantir a manutenção do cartola, enquanto os responsáveis pelo pedido de destituição pregam que a maioria é favorável à saída.
O último sábado foi agitado nas articulações no Parque São Jorge, com conselheiros transitando no clube e enviando vídeos e mensagens pelo aplicativo WhatsApp em busca de apoio. Pessoas influentes na política corintiana acreditam que os votos de pessoas que antes eram próximas de Roberto de Andrade, mas que se afastaram dele nos últimos tempos, podem ser decisivos. Vale lembrar que diversos diretores entregaram seus cargos nos últimos meses no Timão e passaram a criticar o mandatário.
Também como foi visto em Brasília em 2016, conselheiros se aproveitam do momento para pleitear cargos e fazer outras exigências em trocas de votos. Na última terça-feira o portal Uol noticiou que Jacinto Antônio Ribeiro, mais conhecido como Jaça, conselheiro influente do clube e um dos padrinhos de Andrés Sanchez na política alvinegra, quer a criação de um time sub-23, que seria dirigido por ele e seus aliados. Segundo a reportagem, o presidente Roberto de Andrade avisou que não está disposto a fazer esse tipo de concessão em troca de apoio.
Pessoas próximas ao presidente corintiano dizem que ele está tranquilo e que já diminuiu o ritmo das reuniões em busca de votos. No fim do ano passado, quando foi feito o pedido de impeachment, ele se reuniu com diversos grupos políticos do clube e ouviu demandas e reclamações.
A primeira chamada para a reunião do Conselho Deliberativo que vai definir o futuro de Roberto de Andrade será às 18h de segunda-feira, dia 20, e a segunda, às 19h. Então, um membro da comissão que analisou o caso irá ler o parecer elaborado, que é contrário ao impeachment. Na sequência, falarão um conselheiro do grupo que entrou com o pedido de destituição e um responsável pela defesa de Roberto de Andrade (provavelmente Alberto Bussab, diretor jurídico do Timão). Logo depois, será aberta a votação, que será realizada em cédulas de papel e não precisa de quórum mínimo.
Se o presidente for afastado, quem assumirá o cargo temporariamente é André Luiz Oliveira, vice-presidente que foi alvo de condução coercitiva na operação Lava Jato. O nome e o endereço dele aparaceram em uma planilha da construtora Odebrecht com uma anotação para pagamento de R$ 500 mil.
- RELEMBRE O CASO
Foi entregue ao Conselho Deliberativo do Corinthians em 22 de novembro do ano passado um pedido de impeachment de Roberto de Andrade com a assinatura de 63 conselheiros do clube.
O requerimento tem como base assinaturas supostamente fraudulentas do presidente alvinegro em contratos da Arena. Segundo reportagem da revista Época, Roberto teria avalizado contratos com datas anteriores à de sua posse como presidente do Corinthians. São dois casos: no primeiro, ele rubricou uma lista de presença de assembleia geral de cotistas do estádio que ocorreu dois dias antes de ele ser eleito. No outro, o nome do cartola apareceu em contrato do estacionamento da arena com a Omni, firmado 27 dias antes do pleito.