O presidente do Corinthians, Roberto de Andrade, entregou na última quarta-feira a sua defesa no processo de impeachment que tramita no Conselho Deliberativo do clube há pouco mais de duas semanas. O dirigente nega que tenha cometido fraude em contratos da Arena e sustenta que as ações que embasam o pedido de destituição não geraram dano à imagem do Timão.
Juntamente com a defesa, Roberto de Andrade anexou documentos, trocas de e-mails e apontou testemunhas, que serão convocadas para depor à Comissão de Ética do conselho corintiano. Serão ouvidos representantes das empresas diretamente envolvidas nos contratos apontados como fraudulentos.
O presidente corintiano é acusado de assinar documentos com datas anteriores à de sua posse, em fevereiro do ano passado. Foram duas supostas irregularidades, ambas reveladas pela Revista Época: na primeira, ele rubricou uma lista de presença de assembleia geral de cotistas do estádio que ocorreu dois dias antes da eleição. Na outra, o nome do cartola apareceu em contrato do estacionamento da arena com a Omni, firmado 27 dias antes do pleito.
- Confiamos na Comissão de Ética e nos membros do Conselho Deliberativo. Temos certeza que os conselheiros vão barrar essa proposta se houver análise jurídica e técnica. Os documentos juntados na defesa são cristalinos, provam que o presidente assinou os contratos após a posse. Se fosse um julgamento apenas jurídico, tenho 100% de convicção de que a destituição não aconteceria - afirmou Alberto Bussab, diretor jurídico do Corinthians e responsável pela defesa de Roberto de Andrade, em entrevista ao LANCE!.
Contudo, o processo de impeachment tem caráter muito mais político do que jurídico. Sendo assim, o presidente alvinegro tem articulado nos bastidores e vem se reunindo com conselheiros. Foram inúmeras reuniões nas últimas semanas, inclusive com alguns dos 63 signatários do pedido de destituição:
- Alguns nos procuraram e outros foram convidados por nós. Muitos dos que apoiaram o impeachment estão se dando por satisfeitos com nossas explicações, já mudaram de ideia. Tem aqueles que querem entender e os que não querem. Aos que têm motivo político, não adianta explicar - disse Bussab.
Agora, a Comissão de Ética corintiana ouvirá testemunhas e analisará os documentos de defesa e acusação. A expectativa é de que até o fim de janeiro o parecer do órgão seja enviado para votação no Conselho Deliberativo.
Caso a saída de Roberto de Andrade seja aprovada (basta maioria simples dos votos no Conselho), ele será afastado temporariamente, mas é preciso que os associados do clube, em uma Assembleia Geral, ratifiquem a decisão. Se isso ocorrer, uma nova eleição ocorrerá em até 30 dias.
Se o presidente for afastado, quem assumirá o cargo temporariamente é André Luiz Oliveira, vice-presidente que foi alvo de condução coercitiva na operação Lava Jato. O nome e o endereço dele aparaceram em uma planilha da construtora Odebrecht com uma anotação para pagamento de R$ 500 mil.
Os que defendem a saída de Roberto de Andrade se apegam ao artigo 104 do estatuto do clube, que afirma que o presidente pode ser destituído caso tenha "acarretado, por ação ou omissão, prejuízo considerável ao patrimônio ou à imagem do Corinthians".
Em caso de impeachment, não há consenso entre os conselheiros sobre como a nova eleição deve ser realizada. No clube, há quem defenda que o pleito seja feito com voto dos associados, como ocorre a cada três anos. Outra ala, contudo, é favorável a votação indireta, realizada dentro do Conselho Deliberativo.
O mandato de Roberto de Andrade vai até fevereiro de 2018.