Com 745 jogos disputados pelo Cruzeiro, o goleiro Fábio se despede de uma das temporadas mais importantes de sua carreira. Titular no time celeste há 13 anos, o arqueiro conseguiu se tornar um dos maiores goleiros do país e realizar feitos históricos diante de mais de 61 mil torcedores que acompanhavam a final da Copa do Brasil entre Cruzeiro e Flamengo. Tanto trabalho em campo não passa despercebido e, para manter o goleiro na Toca da Raposa II, a diretoria celeste estendeu o vínculo com Fábio até 2019.
A experiência adquirida em passagens pelo União Bandeirante, Atlético-PR, Vasco e no período em que defende o Cruzeiro foram essenciais na conquista do pentacampeonato da Copa do Brasil, título ainda mais comemorado por ter sido o único troféu de expressão da Raposa em 2017. Em entrevista ao LANCE!, Fábio analisa o rendimento do time nesta temporada e as cobranças que sofreu após a eliminação precoce da Copa Sul-Americana e da derrota para o Atlético na final do Campeonato Mineiro
- Toda temporada tem o seu desgaste e dentro de todo o planejamento que o Cruzeiro fez, na pré-temporada, o pensamento era conquistar um título de expressão. As cobranças foram fortes por conta da tradição que o Cruzeiro tem e pelos dois anos anteriores, que a gente não fez boas campanhas e também não conquistou nenhum título. Já tinha essa responsabilidade, que agregou um peso ainda maior porque não ganhamos o Campeonato Mineiro e fomos desclassificados da Sul-Americana. Essas condições nos deixaram limitados ao Campeonato Brasileiro, em que o Corinthians já tinha conseguido uma grande vantagem, e a Copa do Brasil, que relembra o Brasileirão nos tempos de mata-mata. A gente precisava focar sem permitir que nos distanciássemos das equipes que ainda brigavam pelas vagas da Libertadores, porque sabíamos que a caminhada dentro da Copa do Brasil seria ainda mais difícil. Então, dentro de toda essa dificuldade, acho que a equipe fez uma bela temporada e isso fortalece para que a gente possa usufruir de coisas boas que aconteceram em 2017 e usar o que teve de ruim como aprendizado para melhorarmos no próximo ano – explicou.
Agora, com a taça da Copa do Brasil em mãos, o Cruzeiro tem bons motivos para comemorar esta temporada, que não foi nada fácil. Além de precisar lidar com a pressão depois de duas eliminações, Fábio revela que o time celeste contou muito com a motivação vinda de resultado anteriores para conseguir superar o Grêmio nas penalidades e encarar o mesmo desafio diante do Flamengo, na final que terminou com festa da torcida no Mineirão.
- A minha cabeça estava tranquila, porque primeiramente, a gente vinha de resultados bons, que nos trouxeram confiança para a disputa da final e tiramos o Grêmio, que era o favorito para a conquista da Copa do Brasil. Então, por termos conseguido a vaga na final, chegamos com um pensamento bastante motivador, mas cientes da dificuldade que seria enfrentar o Flamengo. Apesar disso, entendíamos que faltava muito pouco para conseguirmos concretizar o sonho de ser campeões e conquistar o pentacampeonato para a nossa torcida. O pensamento e a concentração vinham da intenção de fazer um bom primeiro jogo, fora, e trazer a decisão para a nossa casa, junto do nosso torcedor, onde a gente é bem forte – comentou o goleiro.
A conquista teve um gosto especial para o goleiro, que ficou fora do final da temporada passada por conta de uma lesão do ligamento do joelho direito acometida durante uma partida contra o Coritiba, em agosto de 2016, e só voltou a defender o Cruzeiro no Campeonato Mineiro, quase oito meses após a contusão. Herói no gol diante do Rubro Negro, Fábio destaca o momento de superação que foi lembrado durante a disputa de pênaltis.
- Eu queria que fosse resolvido o mais rápido possível, no tempo normal e acreditava nisso. Mas entendi que Deus tinha preparado algo surpreendente para a minha vida ao me colocar ali naquele lugar depois de retornar de uma lesão do ligamento do joelho direito e ter voltado em alto nível, perto de completar 37 anos, para jogar uma decisão três dias antes do meu aniversário, e vindo de uma sequência muito boa. me deu a oportunidade de fazer a defesa do pênalti do Diego e, com muita qualidade, os meus companheiros conseguiram finalizar bem as cobranças, o que nos deu a oportunidade de comemorar com o torcedor dentro da nossa casa lotada, com muita emoção e expectativa para um final feliz. Então, essa conquista foi um momento ímpar que, com certeza, ficou marcado na história do Cruzeiro, na minha vida e, com certeza, na vida do torcedor pela emoção que foi essa competição até o último jogo, até o último minuto, até a última penalidade. Foi uma final abençoada e concretizada da melhor forma possível com a conquista do pentacampeonato – comemorou.
Agora, com duas Copas do Brasil no currículo, o arqueiro identifica a as diferenças marcantes entre a conquista do primeiro título, em 2000, quando ainda era reserva, para a segunda, 17 anos depois, quando já vinha de um período de 12 anos como titular de um dos principais times do país. Com muita fé, o goleiro detalha sua caminhada pelo futebol até alcançar o patamar em que está hoje, recebendo o reconhecimento da torcida, mídia e dos seus companheiros.
- A minha primeira conquista foi em 2000 em um jogo que também foi bastante dramático e mesmo não atuando, eu pude crescer como pessoa, na minha carreira e dentro da minha posição, onde aprendi com grandes jogadores e vivenciei momentos superimportantes. Então, foi muito marcante mesmo não estando em campo. Além do mais, 17 anos depois pude concretizar o bicampeonato da Copa do Brasil e foi ainda mais marcante para a minha carreira no clube, consegui escrever mais uma página vitoriosa. Isso tudo aconteceu depois de eu me recuperar plenamente de uma lesão e aos 36 anos, prestes a completar 37, jogando em alto nível, podendo ajudar meus companheiros, tendo destaque dentro da competição e reconhecimento de todos. Foi um momento que ficou eternizado na minha memória e vai ser sempre uma fase de boas lembranças, superação e muita fé. Foi maravilhoso o que Deus proporcionou para a minha vida.
Contratado pelo Cruzeiro em setembro de 2015, Mano Menezes encontrou um time que ocupava a 16ª colocação do Campeonato Brasileiro e lutava contra o rebaixamento. Apesar da rápida passagem, o técnico reformulou a equipe, chegando a brigar por vaga na Libertadores nas últimas rodadas da competição. De volta ao comando do time celeste em julho de 2016, o treinador não desapontou os torcedores e, como garante Fábio, está concretizando seu ano de trabalho com sucesso.
- Acho que o trabalho do Mano se concretizou. Na primeira oportunidade que ele teve de trabalhar aqui, pegou o campeonato no meio do caminho e conseguiu dar um padrão ao Cruzeiro para o time poder sair da situação difícil que vivia, de estar lutando para não ser rebaixado, e logo na sequência ele saiu, então não pôde dar continuidade. Agora, ele voltou em um período que novamente o time estava em uma situação delicada e conseguiu tirar a equipe daquele momento. A oportunidade de continuar no Cruzeiro e começar um trabalho com planejamento, resultou em uma equipe muito consistente e ele ganhou ainda mais prestígio com a conquista do pentacampeonato da Copa do Brasil. Então acho que é um trabalho que foi benéfico para a carreira do Mano, que havia um tempo que não ganhava um título de expressão e também para nós, jogadores, que conseguimos atingir o objetivo de voltar a ser campeões, fazer o nosso torcedor feliz e pensando no que será realizado em 2018 – analisou.
Além de ser o jogador que mais vestiu a camisa celeste, Fábio tem conquistas importantes registradas em sua carreira. Com duas Copas do Brasil (2000 e 2017), cinco Campeonatos Mineiros (2006, 2008, 2009, 2011 e 2014) e dois Brasileiros (2013 e 2014), o goleiro está confiante de que a lista de títulos do Cruzeiro vai aumentar em 2018.
- Tenho fé e vou me dedicar dentro de campo para que o Cruzeiro aumente sua lista de títulos. Eu tenho o pensamento de que a gente tem que aproveitar as oportunidades e nada melhor do que uma temporada de 2018, cheia de competições importantes, principalmente a Libertadores, em que o Cruzeiro estará retornando depois de dois anos fora da disputa, para provar o que digo. Vamos ir a campo com a mesma expectativa de conquista do nosso torcedor e da comissão, com o novo presidente que chega para iniciar um novo projeto de crescimento do clube. Então o meu pensamento é agregar mais conquistas – contou o arqueiro.
Com mais de 50 partidas disputadas na Libertadores, além do vice-campeonato de 2009, Fábio é o atleta que mais representou o Cruzeiro na competição. Baseado no que vivenciou nas edições anteriores e no desempenho da equipe nesta temporada, o goleiro acredita que o time mineiro chega com boas condições de ser um dos finalistas do torneio conquistado pelo Grêmio neste ano.
- São situações importantes que eu vivenciei, mas sabendo que a cada ano novas situações são criadas e muitas que você vai aprender naquele momento. A experiência é bom ponto, porém o mais importante é ter consciência e estar preparado para saber lidar com coisas que ainda vão acontecer. O meu pensamento é tentar ajudar da melhor forma possível com a minha experiência, mas também aprender algo que com oportunidade de disputar a Libertadores de 2018, ciente de que temos que estar preparados para tudo com a intenção de levar o Cruzeiro para a decisão.
Em outubro, a Raposa apresentou uma nova proposta ao goleiro, que renovou seu vínculo até dezembro de 2019. Longe de pensar em se aposentar, Fábio demostra satisfação pela atenção que recebe agora, depois de anos de trabalho, e garante dedicação em campo nos próximos anos.
- Eu fico feliz pelo reconhecimento, fruto da minha dedicação. Pelas pessoas que me viram jogar ao longo desses anos e graças a Deus eu consegui a renovação por mais dois anos e mantenho o pensamento de sempre estar jogando em alto nível. No dia de me aposentar, terei discernimento para ver que chegou o momento de descansar. Enquanto eu estiver fortalecido e capacitado dentro e fora de campo, vou estar buscando estar bem fisicamente, tecnicamente e psicologicamente para que eu possa estar jogando em alto nível. Sou bem tranquilo quando a isso e sei que Deus vai saber me colocar na melhor direção nesse momento.
O Cruzeiro encerra sua participação do Campeonato Brasileiro neste domingo. Diante do Botafogo, o time celeste busca sua última vitória do ano no Estádio Nilton Santos, no Rio de Janeiro. A disputa promete ser acirrada, já que o Alvinegro briga por uma vaga na Libertadores, enquanto a Raposa tenta encerrar o ano com um triunfo, depois de ter se despedido do Mineirão com derrota. Apesar de saber a dificuldade que o time celeste vai encontrar, o goleiro, que deve ser poupado da partida, acredita que a comemoração será azul e branca.
- O resultado positivo pode acontecer dentro de tudo o que realizou-se na temporada. Acho que a equipe jogou muito bem contra o Vasco, mas infelizmente não foi o dia de acontecer a vitória e o adversário conseguiu abrir o placar em uma oportunidade e segurar o resultado. Contra o Botafogo, a minha expectativa é boa, sabendo que eles almejam ainda conquistar uma vaga na Libertadores. O Botafogo entra em campo com responsabilidade total de querer buscar a vitória e o Cruzeiro está ciente de que precisa honrar a camisa cada vez mais e mostrar que independente de ter vaga na Libertadores e ter sido campeão da Copa do Brasil, vem jogando jogo a jogo, tentando sempre melhorar em todos os aspectos. Com certeza, esse jogo contra o Botafogo vai ser dessa forma, com os jogadores se entregando e cientes da dificuldade que vão encontrar dentro da partida - finalizou.