Luiz Gomes: ‘Tragédia do Cruzeiro é contagiosa e está longe do fim’
Equipe Celeste flerta com a zona da degola e se vê cada vez mais distante do G4
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Apenas três clubes nunca foram rebaixados para a Segunda Divisão do futebol brasileiro: Flamengo, Santos e São Paulo. Cinco anos atrás, esse grupo seleto tinha o dobro do tamanho, incluía ainda o Internacional, o Cruzeiro e, embora em outra dimensão, a Chapecoense, que não havia caído desde que chegou à elite em 2013. Mas o Colorado desceu em 2016, a Raposa e a Chape afundaram em 2019.
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Entre os 12 chamados grandes – os que frequentam aquela listinha com quatro cariocas, quatro paulistas, dois mineiros e dois gaúchos, hoje muito mais por tradição do que por resultados em campo - a regra sempre foi cair em um ano e subir no outro. Ainda que, como o Vasco, acabe por se transformar em um clube ioiô, com rebaixamentos em 2008, 2013, 2015 e 2020, ou o Botafogo, mais cometido, em 2002, 2014 e também em 2020.
Mas toda regra tem exceção, e nesse caso a exceção é trágica.
Nesta rodada, ao enfrentar o Avaí, no sábado, o Cruzeiro completou 50 jogos na Segundona. E não estamos falando, como se sabe, de um clube qualquer. Duas vezes campeão da Libertadores, quatro vezes campeão brasileiro e seis vezes campeão da Copa do Brasil, o time azul celeste amarga o segundo ano consecutivo de Série B e, o que é pior, quase sem perspectivas de conseguir o acesso, flertando mais com o Z4 do que com o topo da classificação.
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Do Cruzeiro que enfrentou de igual para igual o Santos de Pelé, daquele time mágico de Piazza, Zé Carlos, Tostão, Dirceu Lopes, Natal e de tantos outros craques que revelou só restam lembranças. Do clube pioneiro, que fez da Toca da Raposa um modelo de Centro de Treinamento no Brasil, servindo inclusive à seleção brasileira só sobrou a história.
A cartolagem tupiniquim sempre se caracterizou pelo amadorismo e o oportunismo – não muito raramente associados à malandragem e à desonestidade. Mas no caso do Cruzeiro, o céu (ou o inferno) foi o limite dessa gente. A dilapidação do patrimônio do clube, a multiplicação geométrica das dívidas, a temeridade da gestão, levaram o gigante mineiro às cordas. Onde não encontra forças para se levantar.
No ano passado, ainda houve a desculpa – um agravante, é verdade – de que o time começou a disputa com seis pontos negativos, resultado de uma punição da Fifa por dívidas assumidas e não pagas por antigos gestores cruzeirenses com a contratação de jogadores. O clube terminou em 11º lugar na tabela, sem nunca ter se aproximado do G4. Este ano, mesmo saindo do zero, em igualdade de condições com os adversários, a situação, infelizmente para a apaixonada torcida celeste, não parece que será diferente.
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A parada é dura. Esta tem sido considerada a maior Segundona de todos os tempos, reunindo cinco campeões brasileiros - além do Cruzeiro, do Vasco e do Botafogo, também o Coritiba e o Guarani. Sem falar na ascensão de clubes nordestinos que cada vez se apresentam mais bem estruturados, como o Sampaio Correia e o CRB, que há anos namoram o acesso, e o renovado e surpreendente Náutico. Com um elenco ruim, que mistura jogadores anônimos com garotos da base e uns poucos veteranos, e sem a menor condição de contratar reforços, não há milagre que possa ser feito pelo técnico Mozart Santos. Aliás, o sexto treinador a passar pela Toca desde o rebaixamento, um a cada três meses em média.
O ocaso cruzeirense é sem dúvidas o mais dramático de um modelo falido de gestão que ainda perdura no futebol tupiniquim. Mas está longe de ser o único. Na Série B, Botafogo e Vasco se debatem sofrendo no calor do campo as consequências do que se faz nos gabinetes refrigerados dos cartolas. Há outros, como o Inter, o Corinthians, o Santos, o Fluminense que mantêm a cabeça fora d`água, ainda que economicamente e, em alguns casos politicamente também, estejam afogados em crises. E o mais triste é que nada indica que essas lições – más lições – estejam sendo aprendidas para evitar novas tragédias que poderão vir por aí.
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