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‘A torcida do futebol não tem só um tipo de pessoa. Temos de entender a diversidade’, diz Rodrigo Moreira, do Comitê de Inclusão do Cruzeiro

O gestor falou com exclusividade sobre os desafios de ter uma ação contínua na Raposa para entender melhor o seu torcedor que vai além de um padrão estético e social

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imagem cameraRodrigo Moreira ajudou a implantar ações no Cruzeiro que trabalhem no combate ao racismo, LGBTQI fobia,algo pouco visto no mundo do futebol-(Divulgação/Cruzeiro)
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Lance!
Belo Horizonte
Dia 29/11/2020
04:51

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A reestruturação profunda e intensa pela qual passa o Cruzeiro vai muito além de uma mudança esportiva ou mesmo de gestão das finanças e patrimônios do clube mineiro. A Raposa quer entender quem é o seu torcedor. Como ele torce. E, não é para descobrir hábitos de consumo, mas compreender as diversas camadas sociais em que estão inseridos seus mais de 9 milhões de apaixonados.

Com uma visão pouco usual no futebol, um ambiente machistas, preconceituoso e pouco inclusivo , o Cruzeiro criou um Comitê de Diversidade e Inclusão para não apenas debater temas espinhosos como racismo, acesso para pessoas com alguma deficiência e LGBTQ fobia.

A reportagem Valinor Conteúdo/L! conversou com Rodrigo Moreira, superintendente de comunicação digital e inovação do Cruzeiro, que detalhou esse ambicioso, mas necessário projeto, que vai além das fronteiras do marketing, pois busca posicionar o clube no cenário do seu torcedor, saindo do modelo ultrapassado de que o amante de de futebol possui apenas um tipo de personalidade e modo de viver.

Destacamos na conversa com Rodrigo a abertura para ver no futebol como uma ferramenta poderosa de mudança social, já que as agremiações esportivas conseguem mobilizar milhões de pessoas. Daí, por que não usar dessa força para colocar o esporte de vez na vanguarda de mudanças tão necessárias para o mundo.

Dividimos em tópicos temáticos as falas de Rodrigo, que podem ser conferidas abaixo.


SURGIMENTO DO COMITÊ DE DIVERSIDADE E INCLUSÃO E SEUS PROPÓSITOS

A ideia de um comitê dedicado aos temas de inclusão foi para que o Cruzeiro tivesse uma posição que deveria ser majoritariamente vanguardista no cenário do futebol, mas ainda não é. A gente tem oportunidade de impactar muita gente, de falar com mais pessoas. Da nossa parte, pelo menos dialogar um mínimo com os nossos torcedores, que são perto de 9 milhões. Nesse contexto, há um dever nosso de levar uma mensagem que seja de alguma forma transformadora.

Nós precisamos fazer a diferença na vida das pessoas e a imensa maioria de torcedores do Cruzeiro não é formada por um tipo só de público. O volume de torcida não é formado só por homens brancos ou mulheres brancas. A gente tem uma diversidade de públicos e temos interesse em atender a todos os públicos. Então, a ideia é trabalhar com a aceitação de crenças diferentes públicos, diferenças biológicas, diferenças nas suas ideias e sua importância para a construção do mundo que a gente quer viver, que a gente quer transformar.

Digo como dirigente esportivo que o objetivo do Cruzeiro não é apenas um time de futebol vitorioso. A gente tem uma missão muito clara de estabelecer uma transformação social e a nova transformação social não é só fazendo gol. Daí o comitê foi criado com o objetivo de promover a discussão sobre esses temas. De entendermos os problemas porque não adianta apenas eu aqui na minha posição decidir como que nós temos que trabalhar com pessoas com deficiência. Para compreender de fato eu tenho que conversar com as pessoas para que eles conversem e nos fale o que podemos fazer. Devemos gerar mais pautas mais propositivas e não tem de ser só uma estrutura de marketing. Temos de criar ações para conseguir conviver em um ambiente mais justo e seguro. queremos valorizar e respeitar a diversidade e queremos usar o comitê como uma área de ação e transformação. Para fazer isso, é importante primeiro criar uma cultura. É esse o nosso caminho.

UMA DEMANDA ANTIGA DE VÁRIAS GERAÇÕES DE CRUZEIRENSES


Quando iniciou essa nova gestão vimos que esse tipo de ação era uma demanda antiga, que não era algo enraizado na cultura do clube. Aqui há pelo menos 500 funcionários e essas pessoas vinham de outras gestões, com tempos variados de casa. Umas com mais de 20 anos, outras de cinco a 10 anos. Então, quando a gente definiu em que um dos nortes do Cruzeiro era que o Cruzeiro era um time de todos não adiantava que isso ficasse apenas um discurso então a gente foi para o front de batalha e resolveu criar um plano de ação para trabalhar com algumas frentes e deixar isso de uma forma mais prática e não ficar só na teoria. Com esse norte, definimos quatro frentes: equidade de gênero, pessoas com deficiência, diversidade racial e LGBTQI+. Chamamos esses grupos primeiros esses para que a gente converse com eles e possamos entender as necessidades, as demandas para fazer um plano de ação de entregas recorrentes e de atuações com cada um deles. Já fizemos algumas reuniões com quase todos os grupos e a gente já tem alguns planos de ações mais bem definidos.


UM POSICIONAMENTO DIFÍCIL EM UM MEIO MACHISTA E PRECONCEITUOSO

O Cruzeiro é uma máquina de comunicação. Qualquer ação gera repercussão. Por isso que é difícil um clube desse tamanho ter um posicionamento que seja afrontoso ao mundo machista de hoje em dia. Mas é importante que haja uma posição sobre temas dessa natureza, pois o futebol não pode ser visto apenas como um jogo de ganha e perde. Queremos ser uma imensa plataforma de transformação social em todos os sentidos.

Então se a gente não entender que o momento do Cruzeiro independentemente de posição política, posição pessoal, se sou mais progressista ou não. ou se sou mais conservador, o mais importante é que a gente entenda que no clube há respeito e valorização da diversidade.

E, para fazer isso a gente precisa assumir alguns compromissos que não dependem só do Cruzeiro. Os compromissos deveriam ser seguidos por todas as esferas da sociedade. Eu acho engraçado que esse tipo de ação esteja dentro de uma área de inovação. Isso não deveria ser um tema inovador. Deveria ser um tema padrão, mas a realidade do futebol brasileiro ainda não é essa. Fico feliz que a maioria dos funcionários seja predominantemente favorável por termos esse tipo de compromisso. E mais feliz ainda por ter uma organização grande como o Cruzeiro por trás, apoiando a iniciativa.

DIVERSIDADE É ALGO QUE FARÁ PARTE DAS ORGANIZAÇÕES

Eu venho da área de inovação,startups, de investimento em negócios digitais mais ágeis. Nesse novo mercado, a diversidade funciona muito bem em algumas grandes e boas empresas pelo Brasil afora;E, no nosso mercado mercado, de onde eu venho, é muito comum a gente falar de diversidade porque a gente a gente olha a diversidade não como uma necessidade apenas de sermos mais justo e igualitários com as pessoas.

Vemos aqueles que tiveram oportunidades diferentes como um movimento que vai ajudar as empresas a terem resultados mais eficientes, porque está provado que pessoas com competências distintas, com histórias de vida de diferentes, que não estejam no mesmo nicho nas com as mesmas os mesmos estudos, farão com que o ambiente produza mais.

Os investimentos em empresas tem privilegiado empresas sócio-responsáveis, ao invés de apostarem em empreendimentos que não levem em consideração questões de diversidade e inclusão em suas rotinas. Quando se tem dúvidas se uma marca do futebol(os clubes). os jogadores e tudo que representam podem interferir de forma negativa, a tendência de ter menos parceiros comerciais é bem menor. Por isso, creio que o Cruzeiro terá mais chances em um futuro breve para obter mais investimentos. Pelo trabalho que vem sendo feito em áreas como a diversidade.


TORCIDA TEM VOZ ATIVA


O futebol brasileiro já evoluiu demais e hoje em dia a gente vê que quando há movimentos de clubes para contratar jogadores que foram acusados de violência doméstica, ou algum ato pouco aceitável, gera uma mobilização das torcidas, que tem se movimentado para levar esse tipo de conscientização.

Se o clube não vê como um problema a vida pessoal do jogador e que tem um jogador no seu time que atos de racismo por exemplo, a torcida já tem se manifesta para não aceitar que defenda as cores do clube que ama. Essa força do torcedor tem feito os time recuarem em alguns negócios que não são mais aceitos, pelo o que essa marcas, clubes representam socialmente.


“APANHANDO” POR DEFENDER A DIVERSIDADE

Quando a gente criou o nosso comitê a primeira frase que eu ouvi do primeiro grupo que a gente chamou para conversar foi que a gente iria apanhar muito, que a gente ia dar a cara a tapa. Sabemos disso e precisaremos trabalhar melhor os temas de diversidade e inclusão na nossa nosso dia a dia. Vamos receber críticas, vamos errar, mas ainda preferimos tentar implantar uma cultura diferente do que não fazer nada e não ter esse assunto sendo discutido.

Temos Feito algumas iniciativas e sabemos que independentemente do tamanho das iniciativas, não vamos ser perfeitos. Mas acreditamos que estamos no caminho certo. Por isso a gente tem trabalhado para aumentar a liderança feminina no futebol que é um meio machista. A pessoa que coordena o comitê comigo é a nossa gerente de comunicação que é Andrea Santos e estamos trabalhando para fortalecer um pouco mais a cultura organizacional e promover comunicações mais inclusivas no clube.

Quando o Sérgio(Santos Rodrigues, presidente) assumiu, a primeira coisa que fizemos foi um canal de comunicação do Presidente com os torcedores, que gerou as lives. Mas percebemos que para falar com todos os torcedores eu precisava comunicar com todos os torcedores, pois alguns deles não entendiam o que se falava. Por exemplo, uns não escutam, daí começamos a fazer a fazer transmissão em Libras, depois um boletim só para surdos com um resumo do clube.

Também estamos reformulando nosso site para que seja mais inclusivo. E, quando a gente fala de ser mais acessível é fazer tentativas de atender até daltônicos e outros públicos que não são tão bem trabalhados ainda no mundo corporativo. Ainda é usual que as pessoas não vêm isso como um grande problema, mas devemos pensar a acessibilidade para todos, inclusive nas dependências físicas do próprio clube.


OBJETIVOS FUTUROS

Criar um comitê de diversidade e inclusão é importante para a gente chamar as pessoas para que elas discutam com a gente temas relevantes ao dia a dia da vida delas com o Cruzeiro. Então, essas pessoas desses grupos que citei, são prioritários neste momento da atuação para focar e abranger em algumas frentes de ações.

Pretendemos fazer algumas ações mais práticas no médio prazo , no sentido de provocar relatos escritos, com o público participando mais ativamente desse movimento. Mas precisamos atrair primeiro as pessoas que vão ser impactados a ser objeto desse comitê, pois o torcedor em geral deve estar satisfeito com as nossas ações, que serão boas para eles também. Esse é o nosso objetivo principal.

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