De acordo com uma pesquisa feita em 2021 pelo 'Reach3 insights' em parceria com a Lenovo, as mulheres representam mais de 50% dos gamers. Entretanto, 59% desse total não revela o gênero em seus perfis nos jogos ou então mentem indicando que são do masculino. Isso é justificado por um outro dado triste: 77% das jogadoras entrevistadas afirmam ter enfrentado situações de assédio ou descriminação.
Ferrenha defensora do direito das mulheres, a juíza aposentada Maria Consentino, que por anos foi titular no Juizado da Violência Doméstica e Familiar de Belo Horizonte, e hoje atua como advogada especialista da causa, lamentou os resultados mostrados pela pesquisa supracitada. Segundo ela, os casos no mundo gamer são apenas reflexos do machismo encruado na sociedade.
"Nós, mulheres, só precisamos de respeito. Isso deve ser ensinado desde o ensino básico. O corpo de uma mulher não é espaço público para ser tocado ou comentado por todos. Mulheres precisam se sentir seguras em qualquer lugar, serem livres para serem o que quiserem e estarem onde quiserem. E nós, mulheres, devemos lutar por isso, pelo nosso mais precioso e escasso valor: a liberdade", frisa.
Apesar dessa triste realidade, vale destacar que a comunidade gamer, e isso inclui empresas desenvolvedoras de jogos, maiores eventos e principais times, costuma ser bastante rígida em relação a punições a casos envolvendo assédio. Maria Consentino acredita que, pelo fato do mundo dos jogos eletrônicos ser bastante popular entre os jovens, o setor pode ser uma ferramenta útil no combate aos preconceitos.
"A educação é primordial na questão de desigualdade de gênero, que leva a índices alarmantes no Brasil. Somos o segundo pior país da América Latina neste quesito. Há muito o que se educar ainda, mas, o game, por ser um ambiente tipicamente de jovens, ajuda muito. Inclusive, uma pesquisa do IPEA demonstra que os índices de violência doméstica contra mulher entre jovens é altíssima", atenta a advogada.
"Também acho que a imprensa tem um papel primordial nessa missão educativa. Mas tudo começa em casa, depois nas escolas. Para mim, as crianças deveriam, desde o ensino básico, aprender as questões de gênero, sobre a luta feminina, sobre a história dessa luta, sobre a lei e dados estatísticos sobre agressões e mortes de mulheres e desigualdades salariais etc. Pelo mundo também", sugere Maria Consentino.