Advogados das vítimas da tragédia do Ninho criticam postura do Fla
Representantes de nove das dez famílias criticaram o clube em coletiva nesta terça-feira
"O Flamengo não procurou a família desde a tragédia", "É muito fácil colocar 'Garotos do Ninho'. As famílias não vão ser amparadas?", "Inimaginável o clube não ter feito contato ainda. Foge ao razoável". Essas foram algumas das declarações de Arley Carvalho, Paula Wolff e Mariju Maciel, advogados que, em coletiva na tarde desta terça-feira, representaram uma comissão que defende nove das dez famílias de vítimas fatais do incêndio no Ninho do Urubu, que aconteceu no dia 8 de fevereiro.
Os advogados rebateram informações que, segundo eles, o Rubro-Negro tem divulgado de forma equivocada. Além disso, fizeram questão de afirmar que, em momento algum, estão sendo entraves para uma negociação entre clube e familiares. Os representantes também salientaram não ser verdadeira a afirmação de que o Flamengo negocia com nove das dez famílias.
O advogado que representa Bernardo Pisseta e Vitor Izaias, de acordo com eles, faz parte da comissão, mas procurou o Flamengo e, ainda assim, não houve acordo. A família de Athila Paixão não estava representada, porém, não se sabe se ela chegou a um objetivo comum junto ao Rubro-Negro.
Arley Carvalho, Paula Wolff e Mariju Maciel apontaram que as famílias estão abertas para uma conversa e que a base para uma tratativa seria a proposta apresentada pelo Ministério Público, não aceita pelo clube. Porém, garantiram que não há valores fechados e há a vontade de que se tenha uma negociação razoável, dependendo da necessidade de cada família.
- Gostaríamos de passar que o Flamengo não tem feito nada, mais de 40 dias da tragédia. O Flamengo vem fazendo o inverso do que vem passando para a mídia e torcida. É doloroso estar aqui representando esses familiares na atual situação, de descaso, de falta de atenção e carinho que eles deveriam ser tratados. Nós, na qualidade de advogados, fomos, dito pelo Landim (presidente do Flamengo), que seríamos pessoas que estariam aflorando essa posição. Pelo contrário, estamos dando suporte aos familiares, o que deveria ser feito pelo clube - disse Arley Carvalho:
- Importante que se ressalte que estamos lidando com pessoas no limite da dor. Cada nova notícia é reviver o que estão sofrendo. Algumas informações estão sendo manipuladas - aponta Mariju.
Segundo Mariju Maciel, uma dos entraves nas conversas foi a forma como o Flamengo apresentou valores, escalonando por membros das famílias (R$ 150 mil para pai, R$ 150 mil para mãe, R$ 50 mil para irmãos, R$ 25 mil para avós e R$ 25 mil para avôs), o que causaria grande diferença em relação aos envolvidos.
- As famílias mais numerosas receberiam mais. Tinha uma família que o menino tinha apenas a mãe. Tinha família que receberia R$ 700 mil e outra R$ 150 mil. Discutimos o quanto isso seria justo. Mas não se chegou a ter uma conversa para este parâmetro - afirmou.
Ainda de acordo com os advogados, o Rubro-Negro fez um depósito de R$ 5 mil para cada família referente aos meses de fevereiro e março, mas prazos e valores não foram explicados.
- Nem isso (ajuda mensal) foi esclarecido. Nem para a gente e nem para a família. Não se sabe por quanto tempo. Eles eram jogadores que tinham o sonho de defender o clube, tinham uma paixão pelo clube. A família que represento nunca foi procurada. Ela e nós, advogados, só queremos ser tratados com respeito - aponta Paula Wolff.
Segundo os representantes dos familiares, não há prazo para que essa procura por parte do Rubro-Negro aconteça, mas que, caso não ocorra, não haverá outro caminho que não seja procurar a Justiça.
Há cerca de um mês, em reunião com o Flamengo, o Ministério Público, o Ministério Público do Trabalho e a Defensoria Pública demonstraram a intenção de que as indenizações fossem no valor de R$ 2 milhões e salários de R$ 10 mil até os 45 anos.
Mariju Maciel levantou ainda a hipótese da negociação do Flamengo com um novo patrocinador master possa estar influenciando nas tomadas de decisões por parte do clube nas informações divulgadas:
- Foi dito que isso, que (negociação com família) facilitaria contato com patrocinador. Tenho dúvida de qual patrocinador queira vincular a marca a uma empresa que abandonou as famílias das vítimas. Tivemos a notícia, nesta semana, que um ar-condicionado havia pegado fogo. Fica claro que as crianças não poderiam dormir lá. Nosso objetivo é mostrar que as famílias estão abertas a um acordo. Não há entrave por parte dos advogados.