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Ao L!, técnico do Sub-20 do Flamengo projeta Copinha e destaca trabalho da ‘parte mental’ feito na base

Em entrevista ao LANCE!, Fábio Matias falou sobre trajetória até chegar nas divisões de base do Flamengo e os desafios da transição dos Garotos do Ninho para o time profissional


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Balanço dos primeiros meses no Ninho do Urubu, planejamento para a Copa São Paulo de Futebol Júnior, transição dos jovens para o time profissional e sua trajetória até o Flamengo: esses foram alguns dos pontos abordados em entrevista exclusiva de Fábio Matias, que assumiu o comando da equipe Sub-20 rubro-negro em julho, ao LANCE!. Veja no vídeo acima o papo com o treinador!

Último elo entre as categorias de base e o grupo principal do futebol do Flamengo, Fábio Matias destacou a importância do suporte psicológico oferecido aos jovens no Ninho. Além do aprimoramento das partes técnica e tática,  a questão mental é trabalhada nas divisões do clube por profissionais.

- É uma das coisas que temos conversado muito. Temos o setor de psicologia, que é muito bom aqui. Tem nos ajudado bastante nessa parte mental. Estamos fazendo a preparação para a Copinha, com os nossos pilares técnico, tático, físico e mental. Tem toda uma periodização relacionada a isso, montada junto com a psicologia, em relação à parte mental coletiva, da equipe, e a individual dos meninos - afirmou Fábio Matias, técnico do Sub-20 do Flamengo, ao L!.

Fábio Matias - Entrevista LANCE!
O técnico Fábio Matias no Sub-20 do Flamengo (Foto: LANCE!)

Leia, na íntegra, a entrevista com Fábio Matias, técnico do Sub-20 do Flamengo:

Para começar, como foi a trajetória do Fábio Matias até chegar ao Flamengo?

Todo menino tem o sonho de jogar futebol, comigo não foi diferente. Eu tentei ser goleiro, mas, infelizmente, era bem pequeninho. Então, até os 20 anos, consegui jogar, mas em paralelo estava fazendo educação física. Isso lá atrás, por volta de 2000. Comecei muito cedo no futebol, comecei a trabalhar mesmo com a comissão técnica nesse período, como preparador de goleiros, depois trabalhei como preparador físico, por cinco anos, no Sub-20 e no profissional até que, em 2008, fiz a mudança para treinador.

Comecei minha carreira como treinador no Sub-15 do Guarani. Depois fui para o Sub-17 (do Guarani) e tive uma passagem muito boa e importante na minha carreira, entre 2011 e 2014, no Desportivo Brasil, que ainda era gerido pela Traffic. Fomos campeões paulistas do Sub-17, um grupo com vários jogadores que estão hoje no cenário nacional e internacional.

'Muito feliz de estar no Flamengo. Talvez, hoje, eu esteja no maior clube no nível nacional, em termos de prospecção de talentos.'

E minha primeira oportunidade no Sul foi no Grêmio, em 2014, no Sub-16 e Sub-17, e depois foi para o Internacional. Fui para o Figueirense, passei um ano e voltei ao Internacional, um clube no qual fiquei cerca de cinco anos, somando as duas passagens. Até que tive esse convite de vir para o Sub-20 do Flamengo.

Trabalhei em várias funções dentro do futebol, comecei muito novo, estudei bastante, tenho pós-graduação em treinamento, fisiologia, terminei a Licença A da CBF e, no próximo ano, provavelmente vou fazer a Licença Pró. Então, por eu não ter sido um jogador de nome, não que isso seja mais fácil ou difícil, mas tive que me preparar de outra forma. A forma que encontrei foi trabalhando nas várias áreas, com vários técnicos e em vários clubes, maiores e menores, e, nos últimos anos, tenho tido essa oportunidade de trabalhar em grandes clubes no Sub-20.

É o meu quinto ano de Sub-20, a nível nacional. Estou muito feliz de estar no Flamengo, um clube que dispensa comentários em relação à estrutura, em relação às divisões de base, e, talvez hoje, eu esteja no maior clube no nível nacional, em termos de prospecção de talentos.

 O quanto a estrutura oferecida pelo Flamengo pesa na decisão de aceitar um desafio como esse e ajuda a implementar as suas ideias no dia a dia?

Todo profissional, em algum momento, tem que mensurar se o ciclo dele pode ter terminado ou pode ter continuidade em determinado lugar. Foi uma decisão minha profissional. Esse é o primeiro ponto

O segundo é sendo uma situação estrutural do Flamengo, um clube que está no centro do país, tem um processo de formação muito claro. A estrutura que temos no Sub-20 se compara, no mínimo, aos clubes da Série B. Dá todas condições de fazer o trabalho e transitar esse meninos para o profissional. São questões que me nortearam. Nós, treinadores, temos que entender as questões de oportunidades. Uma oportunidade vinda do Flamengo é algo que você balança, pensa, e foi o que aconteceu comigo. E optei profissionalmente em fazer essa troca para o Flamengo, que é um clube que tem me dado totais condições de trabalho.

No Flamengo, há alguns anos, trabalha-se com a ideia do DNA rubro-negro, desenvolvendo um estilo ou forma de jogo nas divisões de base. O quanto a ideia de jogo que o clube propõe se encaixa com os seus conceitos?

No período do Desportivo, entre 2011 e 2014, tive a oportunidade de vivenciar muitas experiências fora do país. Era um clube no qual pensava-se muito na formação do jogador para o exterior. Então, tive contato com várias culturas, ideias e modelos de jogo, e vários clubes. Tive a oportunidade de conhecer todos esses espaços. Quando falamos do DNA do Flamengo, que é algo muito importante, o treinador que está no Flamengo precisa ter esse DNA também. É dessa forma que vejo o futebol.

Eu tenho um DNA de jogo ofensivo. Historicamente, as minhas equipes têm alto número de gols marcados, é um jogo de posse e tentativa no campo adversário o tempo inteiro, de imposição técnica e tática. Isso faz também que, teoricamente, agregue dentro do processo que o Flamengo já tem. O atleta do Flamengo tem esse DNA de querer buscar o gol, de ser um atleta de certa liberdade de jogo ofensivo.

'O treinador que está no Flamengo precisa ter esse DNA rubro-negro também. É dessa forma que vejo o futebol.'

Acho que isso é um dos pontos importantes. Tem a ideia do clube e a ideia dos treinadores que estão na base voltadas para isso. Tenho um estilo de jogo ofensivo muito forte, sempre tive, mesmo no Sul do país. O período que fiz no Internacional foi de um jogo muito de proposição, em relação à parte ofensiva. Se pegar a última Copa SP, que conquistamos você verá isso, os resultados dos jogos. No outro ano, que fizemos a semifinal contra o São Paulo, nossa equipe foi a mais ofensiva do campeonato, fizemos 25 gols em oito jogos. É um número altíssimo. Então temos esse DNA, sim, e o jogador do Flamengo tem isso. É muito claro, ele cresce escutando, vivendo isso.

Acompanho as categorias menores do clube, tenho esse cuidado pois daqui a pouco esses meninos estarão comigo, e a gente vê isso nos olhos e no jogo desses meninos. Um jogo muito forte da parte ofensiva.

Qual balanço você faz desse início de trabalho no Flamengo?

Cheguei bem no final de julho, então conto como quatro para cinco meses de trabalho. É preciso ter uma adaptação, conhecimento do que está acontecendo dentro do clube. Chegamos dentro de um processo já consolidado em relação a algumas questões do trabalho.

Foram bem importantes esses primeiros quatro meses. Pude conhecer os jogadores, criar algumas situações internas, junto com outros membros da comissão técnica, que já estavam aqui. Avalio muito positivamente. Conquistamos a vaga da Copa do Brasil, que nos dá um calendário para o segundo semestre do ano que vem. A tendência é que o Campeonato Brasileiro seja no primeiro semestre.

No Campeonato Estadual, conseguimos olhar alguns meninos que, talvez, no Brasileiro a gente não conseguisse. No Brasileiro, tivemos uma campanha top em relação a jogo, foi o ataque mais positivo, terminamos a primeira fase em primeiro lugar. É importante dentro do processo de desenvolver o jogador e criar essa cultura do jogador vencedor. É algo importante que a equipe e o clube têm que ter.

Infelizmente, na semifinal fomos eliminados pelo São Paulo, mas quem assistiu os jogos viu que foi uma equipe que buscou o gol e propôs o jogo o tempo inteiro, teve maior controle de jogo. Às vezes, o resultado acaba não vindo, mas isso faz parte. Temos que pensar que estamos em um processo de formação e desenvolvimento final, isso é uma das coisas mais importantes.

Título, na base, é legal, enche prateleira, currículo e os olhos, mas, o principal é formar bem. Essa é a intenção, pelo menos é a visão que tenho. Por onde passei sempre tive esse discurso e trabalhei dessa forma. Eu quero formar bem, título é uma consequência, uma cereja do bolo no trabalho. Então acredito que esses quatro meses para cinco foram muito bons em termos de desenvolvimento dos atletas.

E agora o próximo desafio é a Copinha, já em janeiro. Uma competição muito tradicional, que o Flamengo e você tem história. Como está o planejamento para esse torneio?

Iniciamos o planejamento essa semana, tivemos os meninos 04 com a gente, fizemos essa junção de processo, já estamos com os inscritos da competição. Começamos a preparação. Vamos ter três amistosos, é uma competição que tem visibilidade. Todos olhos se voltam para a Copa SP, que é a maior competição de base do mundo. 128 equipes, se não me engano. É uma competição que gera a visibilidade e expectativa, mas que ao mesmo tempo é perigosa.

São vários cenários. Campos não tão bons, dias de chuva terrível, tempestade... Nas últimas três edições que participei, enfrentei cenários mirabolantes. Jogo que começa um dia e termina no outro. São cenários que a Copa SP é diferente por isso.

Você também contará com alguns atletas vindo do Sub-17 que geram grandes expectativas? Ganharam tudo nesse último ano e se destacaram, como Victor Hugo, Matheus França, Petterson...

Acredito que sim. Estão inscritos. Mas tem toda situação do grupo profissional, que pode precisar de alguns meninos a partir de janeiro. Estamos cientes disso. O importante é essa transição do Sub-17 para o Sub-20. Muitas vezes, essa transição é das mais difíceis. Temos que tomar muito cuidado em relação às expectativas em cima dos meninos e quanto elas podem ser frustradas. São meninos com um potencial tremendo, mas que precisam ser avaliados e têm três anos de categoria ainda. Tem aqueles que nem passam pelo Sub-20 e aqueles que precisam ficar na categoria para desenvolver alguns aspectos.

'São meninos com um potencial tremendo, mas que precisam ser avaliados e têm três anos de categoria ainda.'

O Flamengo divulgou que fechou 2021 com 34 atletas da base utilizados no time principal. Você é o técnico do último estágio antes dos profissionais e, nessa fase, os atletas já costumam subir para integrar o elenco, seja num treino ou jogo específico. Imagino que, além do trabalho técnico e tático, tenha essa preocupação em trabalhar essa ansiedade do atleta, esse lado mental também, certo?

O atleta que chega no Sub-20 do Flamengo, automaticamente, já se tornou profissional. Tenho falado muito com os meninos: "Vocês precisam definir qual o nível que vocês querem chegar". Champions, Série A, Série B, Série C... Esse nível está muito relacionado à questão mental. O quanto esse menino vai sustentar a competitividade, o quanto vai conseguir fazer essa transição. Por mais que tenha a qualidade técnica, tem a parte mental, que tenho classificado em 40%, 50%, que faz muita diferença para o alto nível.

Estamos falando de alto rendimento, jogador top. É uma das coisas que temos conversado muito. Temos o setor de psicologia, que é muito bom aqui. Tem nos ajudado bastante nessa parte mental. Estamos fazendo a preparação para a Copinha, com os nossos pilares técnico, tático, físico e mental. Tem toda uma periodização relacionada a isso, montada junto com a psicologia, em relação à parte mental coletiva, da equipe, e individual dos meninos.

É importante e faz muita diferença em como ele chegará no profissional. A questão de quanto ele vai ter essa mentalidade de jogar em alto nível nessa transição.

Como funciona esse setor na base do Flamengo?


Temos uma profissional que atende a categoria Sub-20. Cada categoria é assim. Na Sub-20 é a Michelle, na Sub-17 é a Duda. São excelentes. Ficam responsáveis por esse auxílio, tem se dado muito valor a isso cada dia mais. É uma adaptação de processo. O processo de 10 anos atrás era um, o de 20 era outro, e o de hoje para frente é outro. Como treinador também temos que interpretar isso, entender a importância desse fator hoje. Redes sociais, mídias, visibilidade. É tudo muito diferente da minha época.

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