Dome critica diretoria do Flamengo e dispara: ‘Quando perdíamos, alguém lá dentro ficava feliz’
Ex-técnico do Rubro-Negro revela que sentia falta de apoio e comentou sobre a alta rotatividade de treinadores no futebol brasileiro
Domenèc Torrent foi demitido do Flamengo em novembro de 2020 após uma curta passagem de altos e baixos. Agora, quase três meses após a saída do clube, o técnico catalão enfim resolveu quebrar o silêncio. Entre os diversos pontos tratados na entrevista ao site "ge", um chamou a atenção: as constantes críticas à diretoria rubro-negra.
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Em 26 jogos no comando do Flamengo, Dome teve um aproveitamento de 63,8%. A equipe ainda estava viva na disputa da Copa do Brasil, da Libertadores e na parte de cima do Brasileirão, mas as goleadas sofridas para São Paulo e Atlético-MG em sequência foram determinantes para a demissão. Sobre o momento do clube na época, Dome demonstra confiança de que conseguiria conquistar algum título nesta temporada.
- Nós tínhamos certeza disso. Nós tínhamos muita confiança, conversávamos com os jogadores, não tinha a intenção de ganhar tudo, seria muito complicado, mas eu sempre dizia que poderíamos ganhar 2 títulos, porque, para mim, o time estava evoluindo bem. Apesar do último jogo, estava evoluindo bem, estávamos felizes com o desenvolvimento como um todo.
Outro ponto discutido foi a falta de paciência dos clubes brasileiros e a alta rotatividade dos técnicos no país. Para Dome, essa cultura dificulta o trabalho no cotidiano e impossibilita a implementação de uma filosofia.
- Agora sei um pouco como o Brasileirão funciona. A cada 3 ou 4 meses, infelizmente, os treinadores são trocados. É impossível fazer um bom trabalho assim, porque é impossível dar continuidade a um trabalho. Há muita impaciência, esse é o dia a dia. Aqui o projeto é ganhar no próximo domingo. Não sei de cabeça, mas, de 20 times, acho que trocaram 16, 17 treinadores. Essa não é a melhor maneira de implementar uma filosofia.
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Dentro desse contexto, o técnico catalão fez críticas à diretoria do Flamengo. Segundo ele, a comissão técnica nunca sentiu apoio dos dirigentes e imaginavam que a qualquer momento poderiam ser demitidos.
- A sensação que eu tinha desde o início, e comentava como a equipe, quando liderávamos havia várias rodadas, que, com a primeira partida que perdêssemos, estaríamos fora. Por quê? Pela sensação que eu tinha lá dentro. Nunca senti apoio de verdade. O que eu sentia, o que nos parecia, é que estaríamos fora após perder a primeira partida. E foi o que aconteceu. Não sentiu nenhuma garantia, nenhum apoio da diretoria. Nunca.
- O que aconteceu no Equador foi muito forte. Então, a partir dali, eu sabia que a diretoria não confiava mais em mim. Era isso que nós sentíamos, e era verdade. Eu sentia o apoio dos jogadores, de muita gente que trabalhava no clube, estava muito satisfeito com os analistas, com o treinador de goleiros, com os fisioterapeutas etc. Mas nunca senti o afeto de... E devem ter seus motivos.
Ainda sobre a diretoria, Dome declarou que não havia diálogo com os dirigentes, com exceção de Marcos Braz e Bruno Spindel.
- Nunca falei com essas pessoas. Em três meses, eu falei uns 5min com o presidente. Eu só conversava rapidamente com Marcos Braz, da diretoria, e com Spindel, que estava praticamente no dia a dia lá, não todos os dias, mas ia com mais frequência à sede. Nunca me perguntaram como jogava ou como queria jogar. Não sei se sabiam como eu jogava ou como joguei nas outras equipes.
- Não te atinge quem quer, e sim quem pode, mas eu ficava triste por falarem mal de nós lá dentro, de forma interesseira, não sei por que, porque se atacam o treinador e os jogadores do Flamengo, isso atinge o próprio time. Inclusive, muitas vezes eu sentia que, quando perdíamos, alguém lá de dentro ficava feliz, era o que eu sentia. Minha equipe e eu tínhamos essa sensação.