Entrevista: coordenador de psicologia do Fla destaca importância de DNA rubro-negro em ano de pressão
Ex-diretor da Traffic, Fernando Gonçalves nega qualquer tipo de envolvimento com contratações e fala sobre importância de não se confundir vontade com obsessão por taças
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A temporada promete muita pressão por títulos para o Flamengo. Com cinco competições pela frente e nenhum título conquistado desde o Estadual de 2014, o Rubro-Negro sabe que precisa de taças. No aspecto psicológico, o grande desafio é não deixar a vontade se transformar em obsessão, numa carga extra, que pode pesar nas costas dos jogadores. Para evitar este problema, o clube montou um aparato no setor de psicologia.
- Há uma diferença muito grande entre ser obstinado pela vitória e transformar isso em obsessão, o que pode realmente causar problemas. A fronteira é muito sutil. Você quer muito um objetivo é muito bom, mas, se passar um pouco do ponto, aquilo vira um veneno. Você desenvolve essas competências e treina as habilidades mentais. Uma das coisas importantes é gerenciar o que podemos - disse o coordenador de psicologia do clube, Fernando Gonçalves, em entrevista ao LANCE! no Ninho do Urubu.
Um dos trunfos do Flamengo para ter bons resultados neste ano é identificar os jogadores com a característica do clube, conhecido por ter times "raçudos" e "futebol moleque" ao longo da história.
- Toda nossa abordagem de filosofia começa por isso, o que é o Flamengo, quais são as características, qual é o DNA do clube? É o jogador de entrega, que deixa tudo, feliz e alegre. São características do DNA do clube. É um argumento que usamos sempre - garante.
Fernando nega ajudar em contratações
Ex-diretor executivo da Traffic, Fernando Gonçalves chegou ao Flamengo, em 2014, para auxiliar na psicologia do clube. Apesar da função no passado, ele garante que não tem qualquer tipo de responsabilidade na contratação de reforços, como era especulado.
- Absolutamente zero (envolvimento com contratações). Já são quase dois anos ajudando a implementar a filosofia do CEP (Centro de Excelência em Performance no Ninho do Urubu). Envolvido com o desenvolvimento humano - garante.
Fernando Gonçalves é formado em psicologia e conta que conversa diretamente com os jogadores e outros funcionários do clube.
- Faço isso com todos, com treinador, preparador físico... Temos acesso livre a todo o processo - diz.
Em 2015, o diretor geral do Flamengo, Fred Luz, disse, ao Globoesporte.com que Fernando tinha 'simplesmente um trabalho de consultoria', concentrado em ações que o clube gostaria de desenvolver no departamento de futebol.
Cuidado especial com garotos das categorias de base
Fernando Gonçalves afirma que o clube faz um trabalho de preparação para os garotos que são promovidos das categorias de base para o elenco profissional do Flamengo.
- Instituímos um projeto chamado Pratas do Ninho, que aportamos estes elementos do modelo sistêmico do profissional também na base. De maneira que, no futuro, você nem precise do pratas do Ninho, pois isso já estará disseminado por todas as categorias. Temos uma atenção superespecial com todos os jovens, existe um trabalho na base também. De alguma maneira, ele (atleta) já foi atingido quando chega ao profissional. Temos um carinho especial para fazer este processo de transição, treinamento respeitando os diferentes graus de maturidade - afirma.
BATE-BOLA com Fernando Gonçalves, coordenador de psicologia do Flamengo
Explique um pouco mais como o Flamengo pode melhor regular suas emoções neste ano de pressão por títulos?
Temos que botar toda a nossa energia nos elementos que a gente influencia. Por exemplo, eu tenho uma prática absolutamente disciplinada, envolvimento, só depende de mim. O foco está onde eu domino, gerencio. Não posso gastar energia com o que não gerencio. Isso você só pode fazer se regular estas habilidades, da atenção e regulação das emoções.
No ano passado, um ator foi contratado para ajudar com a motivação do grupo. Haverá este tipo de coisa também nesta temporada?
Ainda não, mas temos que entender que qualquer coisa que venha a ser feita está dentro de um planejamento, de uma sistemática de treinamento, o modelo de cinco pilares para trabalhar com recursos emocionais e mentais. Marcio Libar (ator que foi contratado) e nossos amigos do Bope (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar) representam os extremos da confiança. Qualquer coisa que venha a acontecer (chamar estas ou outras pessoas) não será uma ação isolada. Acreditamos que faça sentido dentro do sistema de treinamento chamado cinco pilares.
Você falou há pouco sobre o Bope. Como foi este papo com os policiais no ano passado?
Pessoas vieram, deram uma abordagem dentro desta filosofia, sempre dentro de um planejamento, é importante frisar isso. Serão pessoas inspiradoras, dentro deste conceito dos cinco pilares.
E o que são estes cinco pilares?
São atenção, atenção plena, regulação das emoções, disciplina e autoconhecimento. Dentro de cada um destes pilares, há quatro blocos. Ou seja, existem vinte portas de entrada. É um método que tem várias práticas de avaliação. Da mesma maneira que o atleta treina a parte física, nós construímos um modelo que ele pode treinar a parte mental. Existe um protocolo, um método, esta questão da motivação. O que existe é chamar pessoas dentro do plano que já está traçado, não é simplesmente "Vamos chamar o motivador A, B ou C". Abominamos isso, não acreditamos neste tipo de coisa.
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