Em entrevista a Zico, Jorge Jesus relembra trajetória e afirma: ‘A exigência continua para ganhar’
O Mister conversou com o ex-meia e eterno ídolo do Flamengo sobre sua trajetória no futebol, desafios no futebol brasileiro e a pressão por resultados após o sucesso de 2019
Grande nome da história do Flamengo, Zico foi ao Ninho do Urubu na última semana para entrevistar o técnico Jorge Jesus. A conversa entre os dois ídolos da Nação foi ao ar no canal do ex-meia no Youtube. O treinador português relembrou sua trajetória no futebol até chegar ao clube da Gávea, em junho de 2019, tempo suficiente para alcançar feitos históricos, na visão do craque Zico.
Ao eterno camisa 10 da Gávea, o Mister contou sobre a influência de seu pai, Virgolino António de Jesus, no início de sua carreira como jogador. O técnico também respondeu sobre as preocupações que tinha, especialmente em relação ao futebol brasileiro, ao aceitar o desafio de comandar o Flamengo .
'Já entrou para a história. E vem mais por aí, seu Deus Quiser', disse Zico, sobre a idolatria da Nação a Jorge Jesus.
- Fui inspirado pelo meu pai. Meu pai foi um antigo jogador do Sporting. Foi uma grande equipe que o Sporting teve, ganhou por muitos anos o Campeonato Português. Fui inspirado por meu pai e iniciei a minha carreira como jogador na equipe da minha terra, que é a Estrela Amadora. Foi aí que comecei a dar meus primeiros passos como jogador de base, até chegar na equipe juvenil da Estrela Amadora, até ser contratado pelo Sporting, uma grande equipe de Portugal - disse o Mister, ao "Canal Zico 10", antes de seguir:
- Sobre o futebol, nada me preocupava. O que me preocupava, e era o que eu sabia, era que no Brasil, o treinador não ganha três, quatro jogos, e já se vai. Estava convicto no nosso trabalho. Acreditei por conhecer o futebol brasileiro muito bem, por conhecer os jogadores brasileiros. Já trabalhei 170 brasileiros ao longo do meu trabalho em Portugal. Em Portugal se vê muito ao futebol brasileiro. Eu via todos jogos, e não só dá primeira divisão, Série B, estaduais. Eu tinha o conhecimento. e isso me dava a confiança de fazer um trabalho e implantar ideias em um clube que já achávamos que tinha matéria prima.
O encontro entre Zico e Jorge Jesus aconteceu na última semana. No mesmo dia, os dois foram submetidos a exames do coronavírus, e testaram negativos. No Canal Zico 10, no Youtube, a parte final da entrevista irá ao ar na quarta, 25.
O primeiro semestre de Jorge Jesus no comando do Flamengo não poderia ter sido melhor: futebol em alto nível e títulos. Campeão da Copa Libertadores do Brasileirão, em 2019, e da Supercopa do Brasil e Recopa Sul-Americana, em 2020, Jorge Jesus mostra-se consciente que a pressão por resultados na atual temporada seguirá.
- O Flamengo é sempre assim. Quando não ganhava, a exigência era de ganhar. Só que não ganhava. Agora ganha, e a exigência continua para ganhar. Vamos fazer parte daquela tua geração, que está na história do Flamengo, que por 30 anos, mas ninguém conseguiu entrar. Hoje mais gente já entrou. Portanto, a história do Flamengo tem, cada vez mais, ganhar mais títulos - avaliou o treinador.
Zico, por sua vez, o questionou sobre as dificuldades que os adversários poderão impor à equipe rubro-negra a partir de agora, visto que o trabalho de Jorge Jesus à frente do clube passa a ser mais estudado e servirá como referência no futebol brasileiro.
- Nós pensamos que os adversários conhecem as estratégias e as ideias da equipe do Flamengo, mas como é uma equipe criadora, é muito difícil parar a equipe do Flamengo só com a ideia estratégica, ou só com uma ideia organizativa defensiva.
Confira outras respostas de Jorge Jesus ao "Canal Zico 10", no Youtube:
ESTRUTURA DO FLAMENGO
Tu conheces e podes falar muito mais do que eu. Eu só conheço do Flamengo o que é bom, o que não era bom eu não conheci. As condições de trabalho aos profissionais, a cada dia, vai melhorando mais. Portanto, com jogadores com talento, as coisas tornam-se mais fáceis.
INFLUÊNCIA DE CRUYFF
Para mim também foi (um dos melhores jogadores do mundo). Um ídolo como jogador. A informação, antigamente, não é como agora. Víamos mais jogos da Europa. O Pelé, particularmente, eu não vi jogar. Lembro de um jogo do Benfica contra o Santos, que não tive a oportunidade de ver. Não tinha transmissão. Ao vivo nunca vi. Do Flamengo deu para ver muita coisa. Deu para ver que tu eras um craque. Minha história como treinador tem uma vantagem, eu vejo, em relação aos demais. Eu comecei por baixo. Corri todas divisões em Portugal até chegar ao topo. Nesse período eu quase sempre subi as equipes que trabalhei. Eu só cheguei à primeira divisão subindo equipes. Quando entro na primeira, escalei todos patamares até chegar lá. Ninguém disse: "Mister, aqui está uma equipe da primeira divisão." Acho que isso me favoreceu como treinador. Tem que improvisar. Como treinador, preciso ser um criador.
FORMAÇÃO COMO TREINADOR
Nesta profissão, eu acho, quantos mais anos de carreira você tem, melhor você é. Os primeiros dez anos são fundamentais, principalmente, para o seu crescimento. Por mais qualidade que você tenha, você tem muito a aprender. Sempre temos.
Minha paixão sempre foi o jogo de futebol. Isso obriga que tenha o maior cuidado possível com o que está exercendo. Tem que estar atento a tudo, pois o futebol está sempre evoluindo. Eu não durmo muito, quatro, cinco horas da manhã no máximo. É o meu biotipo. Preparo meus treinos no fim da noite, e os completo no início do manhã.
OPÇÃO POR NÃO TER MAIS AGENTE
Tinha o melhor agente do mundo, Pini Zahavi. Eu saí de um para o outro. Era o Jorge Mendes e passei para o Pini Zahavi, mas hoje já não tenho agente. E não vou ter mais. Não quero ter responsabilidade com nenhum agente, quero estar livre e escolher.
O agente que me arranja trabalho passa a ser o meu agente. Mas quando se chega a um patamar, já não precisas de ter agente, eles procuram-te. Não precisas de vender o teu peixe. Só o advogado é que tem de ir sempre.