Exclusivo: Zico escreve carta ao L!: ‘Revivendo o Mundial 40 anos depois’

No dia em que se comemoram 40 anos da conquista do mundo pelo Flamengo, o ídolo Zico divide as memórias do Mundial e a sensação de voltar ao Estádio Nacional de Tóquio

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Nesta segunda-feira, 13 de dezembro, completam-se exatos 40 anos do título mundial do Flamengo, conquistado no Estádio Nacional de Tóquio, no Japão, com vitória por 3 a 0 sobre o Liverpool (ING). O ídolo Zico, que comandou o time diante dos ingleses, esteve recentemente no palco da final e dividiu as memórias e sensações da visita em carta escrita ao LANCE!. Confira abaixo!

Revivendo o Mundial 40 anos depois

"Meus últimos dois meses no Japão antes de voltar ao Brasil foram muitos especiais. Encerrando um segundo ciclo como diretor técnico do Kashima Antlers e na contagem regressiva para os 40 anos da conquista do Mundial Interclubes pelo Flamengo, que celebramos hoje. Foram muitos contatos do Brasil para tentar gravar reportagens em Tóquio, mas as restrições em virtude da pandemia impediram todas elas. O Estádio Nacional de Tóquio, palco da conquista, está completamente modificado e fechado para obras. Mas, exatamente no dia 15 de novembro, data do aniversário do Flamengo, eu consegui fazer uma visita ao lado do meu intérprete no Kashima, o Landow. Só nos dois.

O dia estava lindo em Tóquio e foi emocionante poder retornar ao Kokuritsu, que visitei apenas uma vez após as reformas, e relembrar momentos muito importantes na história do Flamengo. Preciso agradecer ao administrador do estádio, Watanabe, que permitiu acesso total com direito a uma recepção calorosa dos funcionários. Além de acenos carinhosos na beira do campo, eles seguravam a placa usada pela delegação brasileira nas Olimpíadas deste ano. Ainda fui convidado a autografar uma das paredes da parte interna do estádio durante a visita. A emoção começou logo da entrada.

Mesmo com o estádio muito modificado em relação ao que era em 1981, aquele espaço está fotografado em mim com muita clareza, de modo que não tive dificuldade para reviver a nossa entrada em campo e as posições em que eu estava em cada um dos três gols. Não posso negar que em vários momentos as lembranças me transportaram para aquele dia histórico. Eu me peguei olhando ao redor como se mergulhasse no túnel do tempo da minha memória. As cornetas tocando o tempo todo no jogo, poucos torcedores capitaneados pelo querido Moraes, a nossa alegria ao chegar ali, soltos, preparados e muito motivados para derrotar o Liverpool com o nosso jeito de jogar.

Principalmente nos primeiros 45 minutos, acho que fizemos um jogo perfeito tanto individual como coletivamente. Estávamos embalados com a Libertadores, o Carioca e fomos para o campo muito confiantes, então fizemos o resultado no primeiro tempo permitindo administrar na etapa final. Nosso recado já tinha sido dado com Nunes – duas vezes – e Adílio e a mensagem para o time inglês era clara: se vocês vierem tirar a diferença com tudo, vamos contra-atacar para fazer mais gols. E ameaçamos algumas vezes na etapa final.
Visitando a parte interna do estádio, eu sentei na posição do vestiário onde eu gostava de estar nos jogos para visitar algumas dessas lembranças. Procurava sempre um canto para que pudesse me concentrar, geralmente a penúltima posição na ordem numérica em que camisa 11 era o último espaço bem no cantinho. É difícil descrever com precisão como era em 1981, mas os quatro vestiários eram muito pequenos. Lembro que a gente se revezava para se trocar e que na saída tinha um espaço para aquecimento. Foi mais um momento em que pude voltar no tempo.

Toda essa experiência eu registrei em vídeo com Landow usando meu celular. Uma parte do material foi cedida para a FlaTV, mas eu pensei e roteirizei antes o que faria nesse percurso no estádio, inclusive na parte de fora, para que as pessoas que me acompanham hoje nas redes sociais sentissem um pouco do que eu senti nesse dia. Uma série com vídeos curtos começou a ser publicada no dia 8 e terminou hoje no meu perfil no Kwai e você pode ver ainda uma versão ampliada no meu Instagram, Facebook e twitter.

Espero que cada torcedor do Flamengo espalhado pelo mundo possa na data de hoje sentir um pouco da minha emoção, que segue muito clara na memória e no meu coração 40 anos depois. Sempre me contam histórias de 13 de dezembro de 1981 a partir da visão do torcedor. Onde estavam, o que estavam fazendo ou com quem estavam vendo. E eu encerro este texto fazendo uma confissão: como eu queria naquele dia 13 de dezembro de 1981 transportar o Estádio de Tóquio para o Marcanã lotado vibrando com a conquista do Mundial.

Um grande abraço,
Zico."

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