Futuro técnico, Filipe Luís fala sobre influências e avalia trabalhos de Dome, Jesus e Ceni no Flamengo

Em entrevista ao jornal "O Globo", o lateral-esquerdo do Flamengo falou sobre o futuro como técnico e os aprendizados que teve com quem trabalhou ao longo da carreira

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Aos 35 anos, Filipe Luís ainda é titular, líder e cumpre função importante como lateral-esquerdo do Flamengo. Contudo, com contrato até o fim de 2021, o jogador com passagens por clubes grandes da Europa e Seleção Brasileira, já tem o futuro traçado: será técnico de futebol. Ao jornal "O Globo", o camisa 16 falou sobre a influência dos técnicos com quem trabalhou, entre eles Diego Simeone, José Mourinho e Tite, projetou-se como comandante e comentou os trabalhos de Jorge Jesus, Domènec Torrent e Rogério Ceni no Flamengo.

Apesar de já ter muitos planos, ideias e até um catálogo de treinos acumulados durante a carreira, ainda há pontos de dúvida e que Filipe Luís sabe que precisará aprimorar para alcançar o sucesso que teve como jogador na área técnica. Até por isso, o planejamento é iniciar nas base. Oportunidades é que não faltaram, com as portas do Flamengo e do Atlético de Madrid já abertas.

- Não posso ser passivo, tem que ter cobrança. Mas se você me vê jogando, não é meu estilo. Por isso, quero começar primeiro em uma categoria de base para errar, ver, perceber se tenho condições totais de ser treinador. Muitas coisas que a gente imagina que vão ser de um jeito vão ser de outro. Não quero errar no profissional. Atlético de Madrid e Flamengo ofereceram me apoiar no início da carreira. Seria o ideal começar ali (na base). É um jogo mais puro, você percebe até que ponto o treinador pode melhorar o jogador, há mais tempo. Imagina começar no Flamengo e errando no profissional? (risos) - afirmou.

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JORGE JESUS, DOME TORRENT E ROGÉRIO CENI

Comandado por Jorge Jesus ao longo de um ano, Filipe Luís fez parte do histórico time do Flamengo de 2019, que, além de vencer, convencia. As atuações massacrantes tinham muitos méritos do treinador, conforme o próprio lateral ressaltou na entrevista ao "O Globo". Como costuma estudar os adversários antes da partidas, o camisa 16 nem sempre concordava com as instruções passadas pelo Mister, mas, ao final do jogo com o plano dando certo, procurava o técnico e seus auxiliares para entender o processo.

Foi assim contra o Santos, na vitória por 1 a 0 no Maracanã., pelo Brasileirão.

- Jorge Jesus tomava decisões táticas com as quais eu não concordava. Mas não é que ele estivesse certo e eu, errado: não tem isso no futebol. Existe o que funciona. Mas a minha função como jogador era fazer o que ele pedia. Quando acabava o jogo, e costumava dar certo, eu ia conversar com os analistas e perguntava por que foi feito assim, se não era melhor fazer da forma que eu imaginava - explicou Filipe, antes de dar um exemplo de quando isso ocorreu: 

- A gente jogou com o Santos do Sampaoli no Maracanã, e foi o jogo mais difícil para nós. Eles tiveram a bola, dominaram, mas ganhamos de 1 a 0. Eu não concordei, porque, na preleção, ele (Jesus) falou: 'Hoje, nós não vamos jogar, vamos lançar bola longa no Bruno Henrique e jogar a partir daí'. A gente estava voando. Por que não confiar na gente? Mas fizemos tudo o que ele pediu. A bola vinha, e lançava no Bruno Henrique. Um jogo mais direto, vertical. Fui conversar com os analistas, perguntar se não poderíamos ter vencido mais facilmente, e eles responderam que o Santos era o time que mais tinha feito gols com roubadas de bola no último terço do campo. Viu? Tem muitas coisas que eu ainda não controlo.

Depois da saída de Jorge Jesus, o Flamengo apostou na contratação de Dome Torrent, que ficou no cargo por três meses marcados pelo surto de Covid-19 que atingiu o elenco. Com elogios feitos ao ex-comandante, Filipe Luís afirmou que faltou ao catalão definir um esquema de jogo durante seu tempo no clube.

- Ele fala muito do Messi, tem muito vivo o Guardiola dentro dele. Falar que deu errado, que não sabe nada... Não! O Dome sabe muito de bola. Ele veio na hora errada, não tenho dúvida. Qualquer um que viesse depois do Jesus seria na hora errada, mas tem muitas coisas boas. A única coisa de que senti falta era de definir um sistema de que ele gostava e dizer para nós: vamos jogar assim, do jeito que eu quero. Ele gostava de jogar num 3-4-3 ou 4-3-3 e não tinha pontas no estilo Douglas Costa, Coman... Então, talvez ele não tenha podido fazer o sistema que queria pela característica dos jogadores. Mas se tivesse feito assim, falado que a gente ia jogar no 4-3-3 e ele iria ensinar para a gente o sistema, talvez tivesse dado certo. Mas ele tinha uma saída de jogo excelente, estudo e pressão no adversário excelentes, ele é muito bom. Mas veio na hora errada. Pegou lesões, Covid... Mas aprendi muito com ele - avaliou Filipe Luís.

Agora, Filipe Luís está trabalhando sob o comando de Rogério há dois meses. Observando um estilo mais parecido ao de Jorge Jesus, o camisa 16 do Flamengo projeta o sucesso do novo treinador, que poderá chegar à Seleção.

- Mais do que paizão, é um amigão da gente. O Rogério é o que mais parecido joga com o Jesus. O 4-4-2, com algumas ideias diferentes. Sob esse aspecto do cara que vive o futebol 24 horas por dia, Rogério é igual ao Simeone. Ele está começando, tem quatro ou cinco anos, mas já está mais cascudo do que quando estava no São Paulo: entende mais o jogo, soluciona problemas. Na Libertadores, fomos eliminados, mas com um a menos empatamos o jogo pelas trocas dele. Com o passar dos anos, ele tem potencial para chegar à seleção.

José Mourinho, Diego Simeone, Jorge Jesus, Tite... Ao fim de sua carreira, Filipe Luís terá acumulado trabalhos com grandes e vitoriosos treinadores. É dessa experiência que o também vencedor lateral-esquerdo pretende tirar o máximo possível para tornar-se também um técnico de futebol profissional de sucesso.

- É uma mistura de todos os treinadores que tive na carreira. O Simeone é perfeito na parte defensiva, praticamente anula as chances de gol do adversário. Ele vai tomar gol, claro, mas as chances são poucas. Ele fecha espaço, a bola não entra pelo meio. Na área, ele enche de jogadores. Aí conheci o Tite, com uma abordagem bem diferente, bem completa. Tem coisas que o Simeone não tem. O Jorge Jesus tem coisas que o Tite não tem, mas em alguns pontos são parecidos. Aí vem o Rogério com coisas que os dois não têm. Fui pegando um pouco de cada um.

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