Gerson: ‘Não quero aparecer. Não sou nenhum palhaço. Eu vou até o final na causa’
Meia do Flamengo, que já prestou depoimento na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), falou à 'FlaTV' sobre o episódio de racismo envolvendo ele e Ramírez
O jogo frenético entre Flamengo e Bahia, no último domingo, quando o time rubro-negro venceu por 4 a 3, após duas viradas e duas expulsões, extrapolou a esfera esportiva e foi palco de um triste episódio de injúria racial. Gerson, quem relatou as ofensas de Índio Ramírez, voltou a falar sobre o caso, desta vez no quadro "Resenha do Craque", divulgado nesta quarta pela "FlaTV".
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O meio-campista contou mais detalhes da "noite ruim" e a respeito da motivação para relatar o caso e ir adiante, com denúncia à delegacia especializada, inclusive (veja mais abaixo).
- Uma noite ruim, até porque eu nunca tinha sofrido um ato racista. Quando a gente sofre, sente na pele, é pior ainda. (Racismo) Já é uma coisa ruim, mas quando sentimos na pele, é pior ainda. Um dia que não vou esquecer, mas as medidas foram tomadas. Não sei qual é a diferença que as pessoas veem entre um ser humano e outro. Você é branco (para João Mércio, repórter da FlaTV) e eu sou negro. Quando você sangra, qual a cor do seu sangue? Sente dor? Alcança um objetivo, fica feliz? Eu também fico. Não sei porque as pessoas, no mundo em que vivemos, têm dessas coisas. É muito triste, mas já tomamos todas as medidas. Espero que seja uma das vozes ativas no mundo para aquelas pessoas que, talvez, se sintam acuadas. É um caso chato, que não desejo para ninguém, mas a vida continua, bola para frente. Não cheguei ao topo, mas estou trabalhando e não vai ser esse ato que vai me parar.
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'NÃO SOU NENHUM PALHAÇO'
Gerson ainda falou de uma de suas características fora das quatro linhas, que é não conceder muitas entrevistas. Assim, realçou que não precisa de holofotes para "querer aparecer na mídia" e que não é "nenhum palhaço".
- O Vinicius (assessor de imprensa do Flamengo) fica até triste comigo, que sou um dos caras que menos dá entrevista. Não gosto tanto de falar. Agora, com uma acusação grave dessa, não ia aparecer na televisão para ganhar mídia. Não sou nenhum palhaço. Eu apareço e, depois, iam provar que é mentira... E aí? Minha filha, meu familiares, me veriam como o quê? Um mentiroso? Um cara que precisou ganhar mídia? Não preciso disso. Cheguei até aqui com os pés no chão, não preciso querer aparecer na mídia. Até porque, onde tenho de aparecer é no campo. E todos os jogos do Flamengo passam na televisão, não tenho o porquê querer aparecer dando entrevista.
- Vocês viram ali que teve um deboche. Não tenho nada a falar para eles também, não. Que Deus abençoe e tudo de bom. Vida que segue - emendou.
O camisa 8 do Flamengo também citou sobrinhos e uma filha negra, clamando pelo fim de todos os preconceitos, sobretudo visando as relações interpessoais das próximas gerações.
- Eu nunca sofri de alguém chegar e falar alguma coisa para mim. Olhar estranho sempre olham, mas isso eu nem ligo muito, mas quando falam, já é diferente. Como falei, a cor do sangue é a mesma, sente a mesma dor, fica alegre como eu, acho que tem de parar para pensar que todos nós somos seres humanos. Tenho sobrinhos negros, uma filha negra. Passei por isso, mas não quero que eles passem. É uma coisa chata demais. Espero que as pessoas possam pensar mais. Não só em relação ao racismo, mas também em relação a outros preconceitos. É fácil quem está de fora falar, mas só sabe quem sofreu o preconceito.
IDA À DELEGACIA
Na última terça, Gerson prestou depoimento na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) sobre a acusação de injúria racial ao meia Ramírez, do Bahia, acompanhado do vice-presidente geral e jurídico do Flamengo, Rodrigo Dunshee.
Nas redes sociais, Gerson já havia destacado a importância de dar voz às lutas da população negra.
- Eu vou até o final na minha causa e até o final na causa de outras pessoas também. Em pleno Século XXI não podemos estar passando por isso. Pandemia, pessoas perdendo familiares e amigos, e a gente tendo de lidar com coisas assim. Já falei o que tinha de falar, fiz o que tinha de fazer, e espero não passar mais por isso.
O Flamengo, por meio de Dunshee, afirma ter prova que revela "que teria havido a ofensa" de injúria racial de Ramirez, em determinado lance da partida de domingo, no qual Gerson e Bruno Henrique estavam envolvidos. De acordo com o dirigente do Rubro-Negro, o documento será apresentado ao STJD e entregue à Polícia.
Veja a entrevista de Gerson à "FlaTV" na íntegra: