Luiz Fernando Gomes: ‘Barbieri, Dorival, futebol e política no Fla’

Analista do LANCE! avalia panorama no Flamengo nesta reta final de temporada

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A demissão de Mauricio Barbieri, consumada após a eliminação do Flamengo pelo Corinthians, quarta-feira, pela Copa do Brasil, marcou o final de uma intensa queda de braços entre o presidente Eduardo Bandeira de Melo, que defendia a permanência do treinador, e seu vice de futebol, Ricardo Lomba, que o queria fora do Ninho do Urubu desde antes, quando o time ficou no empate de 1 a 1 contra um combalido Vasco em Brasília, graças a um gol contra do adversário.

O episódio é mais uma demonstração da fraqueza com que Bandeira de Mello chega ao fim de seu segundo mandato no comando do clube da Gávea. Sua administração teve o mérito - reconhecido até internacionalmente - de colocar nos trilhos as finanças rubro-negras e implementar mudanças estatutárias importantes que modernizaram a governança tornando mais rígidos os controles éticos, profissionalizando e democratizando as decisões. Mas nada disso refletiu-se no futebol onde os resultados dos últimos anos foram pífios, injustificáveis se considerados o tamanho dos investimentos que foram feitos em contratações milionárias e na estrutura do CT.

Sob a administração atual o clube fechou alguns dos maiores contratos de patrocínio, fornecimento de material esportivo e venda de direitos de TV da história do futebol brasileiro. Mas as discrepâncias acentuadas entre o Flamengo bem sucedido nas finanças e o Flamengo inconsistente do campo de jogo foi minando a credibilidade e o apoio a Bandeira de Mello. O grupo que o levou ao poder em 1º de janeiro de 2013 - vale lembrar que não era ele o nome preferido para encabeçar a chapa - foi aos poucos se dividindo, boa parte virou oposição enfrentou o presidente das urnas já na reeleição em 2015.

Ricardo Lomba, como se sabe, apesar dos embates com Bandeira é o candidato da situação - ou do que restou dela - nas eleições deste final de ano. Vai ter pela frente adversários duros, fortalecidos internamente, alguns que outrora foram aliados. Já o atual presidente, irremediavelmente picado pela mosca do poder decidiu aventurar-se na política além das fronteiras da Gávea candidatando-se a uma cadeira de deputado federal. A falta de resultados e a apatia do futebol rubro-negro com certeza serão obstáculos relevantes a minar as pretensões de ambos.

Esse jogo político explica em boa parte a demissão de um treinador a 12 jogos do final da temporada, três meses antes do fim do ano e com o time, bem ou mal, disputando as primeiras posições no Brasileirão. Barbieri fez 39 jogos no comando do Fla, entre interino e efetivo, com 19 vitórias, 12 empates e apenas oito derrotas. Estava sob pressão, é fato, desde a volta da Copa do Mundo quando o rendimento do time caiu e ele passou a ser questionado internamente, por setores da mídia e, logo depois, pela maioria da torcida. Meteu os pés pelas mãos em alguns jogos, com escalações e substituições equivocadas. Errou ao não definir desde a saída de Guerrero, um camisa 9 e um sistema de jogo que transformassem em algo objetivo - gols e vitorias -, a ineficaz supremacia de posse de bola comumente demonstrada no campo.

A mudança do treinador, portanto, pode até ter razões técnicas, mas se reveste também de claro viés político. Ao impor a demissão de Barbieri, cujo profissionalismo e competência o clube elogiou muito além do formalismo no comunicado de destrato, o vice candidato Ricardo Lomba demonstra um precoce desespero eleitoral. Faz uma aposta arriscada em Dorival Junior para conseguir o título que não veio com os 13 treinadores que passaram pelo Ninho do Urubu na atual gestão. Pode ser a última tentativa de tirar da oposição sua bandeira mais vistosa: a sucessão de fracassos esportivos. Mas se o time ao invés de subir, cair na tabela para fora da Zona da Libertadores? A sorte está lançada.

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