Luiz Gomes: ‘Enrolação… Flamengo não pode virar refém de Gabigol’
'Gabigol, com as cartas na mesa, tem de decidir-se. Colocar suas exigências de forma transparente. O que o Flamengo não pode é virar refém, nem dele, nem de ninguém'
Gabriel Barbosa foi personagem central nas vitórias do Flamengo em 2019. Artilheiro do time, artilheiro do Brasil na temporada, foi uma verdadeira máquina de moer recordes, superando inclusive a marca de Zico, o maior de todos os tempos na Gávea, como o maior goleador do Rubro-Negro em um Brasileirão.
O ano só não foi perfeito - e este outro lado não pode ser encoberto pela profusão e o entusiasmo dos elogios - pela quantidade de confusões em que se meteu dentro do campo, uma enxurrada de cartões amarelos e alguns outros tantos vermelhos em momentos decisivos de jogos e campeonatos. A final da Libertadores contra o River Plate, em Lima, pode ser considerada o resumo de tudo isso com os dois gols salvadores que garantiram o título continental e a expulsão que se seguiu, felizmente, nos minutos finais quando já não havia mais tempo para os argentinos reagirem. Um susto desnecessário.
O que importa, porém, de verdade, é que Gabigol redescobriu com a camisa do Flamengo o Gabigol que surgiu como um meteoro nos gramados da Vila Belmiro, explodiu e ganhou o ouro olímpico. Deixou para trás o irreconhecível jogador que sucumbiu em solo europeu nas fracassadas passagens pela Internazionale de Milão e o Benfica, em Portugal. Caiu nas graças da Nação rubro-negra – os cartazes de "hoje tem gol do Gabigol" ganharam o mundo – e já escreveu seu nome na história do clube na galeria de honra destinada aos grandes heróis das grandes conquistas.
Manter o quarteto Gabigol-Bruno Henrique-Everton Ribeiro-Arrascaeta é tudo o que o torcedor flamenguista quer neste ano que se inicia. Para muitos isso é essencial tanto quanto a permanência de Jorge Jesus à frente do time, para repetir os resultados de 2019 e continuar hegemônico no futebol brasileiro. E, convenhamos, não se trata de um sonho impossível, é algo difícil, caro, mas bastante plausível dentro da realidade que o clube construiu e do equilíbrio financeiro que hoje desfruta.
As negociações com Bruno Henrique avançaram bem apesar do interesse do milionário futebol chinês e dos olhares europeus terem se voltado para o atacante desde antes do duelo contra o Liverpool no Mundial de Clubes, no Qatar. Everton Ribeiro e Arrascaeta têm contratos mais longos, não apresentam assim um risco iminente de saírem. Resta, então, Gabigol.
Pelo que afirma a diretoria rubro-negra, o acerto com os italianos da Inter para a compra de 80% dos direitos econômicos do atacante foi fechado em novembro, quando a Libertadores ainda acontecia, envolvendo algo em torno de 16 milhões de euros. O impasse, portanto, seria apenas com o jogador. A decisão de sair ou ficar, de aceitar ou não a proposta salarial e as condições do clube cabe exclusivamente a ele, mas o que reina até aqui é o silêncio, em meio a boatos que crescem do interesse do West-Ham e do Chelsea em levá-lo para a Premier League.
Faz bem o Flamengo em dar um ultimato – a semana que se inicia - para que Gabriel se manifeste. Um ano de muitos campeonatos vem por aí e o elenco precisa ser definido antes da batalha começar. É preciso planejar, ir ao mercado se a perda for inevitável. Não vale correr o risco - que acabou superado em 2019 - de remontar o time no meio da temporada com o entra e sai de jogadores a partir da janela europeia. Isso, definitivamente, não combina com o que o Flamengo quer ser.
Gabigol, com as cartas na mesa, tem de decidir-se. Colocar suas exigências de forma transparente. O que o Flamengo não pode é virar refém, nem dele, nem de ninguém. Recolher-se indefinidamente enquanto o atacante dita o ritmo do jogo. Isso não dá certo, isso nunca deu certo em lugar algum por mais fundamental que seja um jogador. É o clube que tem de tocar a bola, correr e cabecear para fazer o gol. Por mais que o Fla precise dos gols de Gabigol, essa deve ser a regra.