Mestre e aluno? Primeiros trabalhos de Pep e Dome mostram semelhanças em revezamento do elenco
Levantamento feito pelo L! compara gestão de plantel do início de carreira de Guardiola no Barça com a de seu ex-auxiliar no Fla. Mudanças frequentes na escalação são parecidas
Qual é a escalação ideal do Flamengo? Levando em consideração o elenco e o histórico desempenho na última temporada, cuja espinha-dorsal foi mantida às exceções das saídas de duas peças (Pablo Marí e Rafinha), ela seria Diego Alves, Isla, Rodrigo Caio, Léo Pereira ou Gustavo Henrique, Filipe Luís, William Arão, Gerson, Everton Ribeiro, Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabigol. Nada de muito diferente do que o torcedor rubro-negro esteve habituado e decorou, de ponta a ponta, do time que venceu Libertadores e Brasileirão em 2019.
No entanto, o assunto "escalação do Flamengo" voltou à tona no final de semana. Bastou o clube divulgar os titulares que enfrentariam o Fortaleza, no Maracanã, no sábado, para aflorarem as discussões acerca da forma como Domenec Torrent roda o elenco. Recuperado de uma torção no tornozelo direito que o tirou do jogo do meio da semana passada contra o Bahia, Gabigol ficou no banco de reservas, entrou na volta do intervalo e marcou o gol do triunfo por 2 a 1 diante do Leão.
Anteriormente, Dome já tinha chamado a atenção por poupar, num primeiro momento, Arrascaeta e, depois, Gerson e Everton Ribeiro. Após a partida contra o Santos, pela 6ª rodada, o catalão admitiu que continuará fazendo testes e descansando jogadores.
- Acho que temos que rodar. As pessoas têm que compreender que é impossível jogar 100% com os mesmos jogadores. Quando temos jogadores similares, com a mesma qualidade, temos que rodar. No próximo jogo, vamos rodar também, no seguinte também.
Antecessor do espanhol, Jorge Jesus tinha um discurso diametralmente oposto ao do atual comandante. O português chegou a afirmar, em coletiva, que "minha cultura não é essa, de poupar. (...) Descansar? Isso não existe, a não ser que alguns jogadores mostrem sinais de lesão". Mesmo fazendo uma ou outra mudança pontual, o quarteto com Arrascaeta, Everton Ribeiro, Bruno Henrique e Gabigol raramente era alterado. De qualquer forma, o onze de almanaque que grudou na boca de todo torcedor só foi utilizado em oito das 40 oportunidades que Jesus comandou o Flamengo em 2019.
Ex-auxiliar de Josep Guardiola no Manchester City, Torrent não esconde a admiração e a influência do midiático treinador em seu estilo de jogo. Além da lealdade à manutenção da posse de bola, à construção das jogadas iniciando pelo goleiro ou a outras nuances do batizado "guardiolismo", uma característica de Dome parecida com a de Pep é a que até o momento mais chama a atenção: a gestão de grupo. Justamente a que o faz mexer frequentemente no time.
Domenec Torrent utilizou 23 jogadores titulares em seus primeiros oito jogos no Flamengo
O LANCE! fez um levantamento de todas as escalações de Guardiola em seu primeiro grande trabalho, o Barcelona da temporada 2008/2009. Utilizando como base as 38 jornadas do Campeonato Espanhol, Pep não repetiu nenhuma vez a equipe de uma rodada para outra, mesmo quando não teve nenhum jogador suspenso ou lesionado.
Mais: o chamado "Onze de Gala", alcunha dada à escalação das principais noites num ano onde o Barcelona venceu La Liga, Copa do Rei e Liga dos Campeões da UEFA, só foi campo quatro vezes: na estreia contra o Numancia, na 8ª rodada contra o Almería, na 20ª rodada contra o Numancia e na 34ª rodada contra o Real Madrid, na memorável goleada por 6 a 2 que praticamente sentenciou o torneio.
Traçando um recorte usando os oito primeiros jogos, atual estágio de Torrent no Flamengo, Guardiola mandou 20 jogadores diferentes a campo desde o primeiro minuto, contra 23 do pupilo. Se Dome não hesita em poupar os craques, a mesma atitude tinha Pep. Lionel Messi, por exemplo, foi duas vezes para o banco e uma sequer foi relacionado nos primeiros dois meses com Pep. O argentino tinha 21 anos e não era o gênio que viria a ser lenda no clube e seis vezes o melhor do mundo, mas já vestia a camisa 10 e era o melhor jogador da equipe. O mesmo ocorreu com outras referências do plantel barcelonista: Iniesta descansou em duas oportunidades e Xavi em uma.
Mais do que administrar fisicamente o elenco, a costumeira rotação também permite aos jogadores se adaptarem à transição do antigo para o novo técnico. Para o clássico contra o Fluminense, nesta quarta-feira, às 21h30, no Maracanã, o esperado é que, naturalmente, haja mudança por parte de Torrent, que já avisou não deixará de fazê-las de uma rodada para outra. A torcida terá que se acostumar e entender o processo.
Os 23 jogadores utilizados como titulares por Domenec Torrent nas oito rodadas do Brasileirão:
Diego Alves, César, Gabriel Batista, Rafinha, João Lucas, Isla, Matheuzinho, Léo Pereira, Gustavo Henrique, Rodrigo Caio, Filipe Luís, Renê, William Arão, Gerson, Thiago Maia, Everton Ribeiro, Arrascaeta, Bruno Henrique, Michael, Vitinho, Pedro Rocha, Gabigol e Pedro.