O volante Allan vai permanecer no Fluminense até dezembro. O empréstimo do jogador se encerrou neste domingo, mas o Liverpool vai renovar o vínculo com o Tricolor por mais seis meses. Quem confirmou essa informação foi o próprio atleta. Em entrevista exclusiva ao LANCE!, Allan afirmou que fica no clube e está muito feliz por ficar no clube.
- Sim fico, é o que eu quero. Estou muito feliz. Não só eu mas minha família também está sendo muito feliz aqui. Já estou retomando minha felicidade e meu futebol aqui no Fluminense.
Contratado no início do ano, o volante é titular absoluto do técnico Fernando Diniz, sendo o grande maestro da equipe. Aproveitando a boa fase, Allan espera continuar por mais tempo no Fluminense, evitando os contantes empréstimos feitos pelo Liverpool. Com apenas 22 anos, Allan já defendeu oitos clubes na carreira.
- Pretendo ficar no Brasil, não pretendo voltar para o Liverpool agora. É um sonho sim, um dia atuar lá. Foi o clube que me acolheu, que me levou para o profissional, mas eu não pretendo voltar. Como eu te disse antes, é muito louco você todo ano ficar rodando e mudando de time. Isso não faz bem para o jogador. Então pretendo ficar aqui no Fluminense ou no Brasil. Não sei, vamos esperar até o fim do ano e ver como que as coisas vão ocorrer para poder falar melhor sobre isso - afirmou Allan, que completou, reforçando o desejo de seguir mais tempo no Tricolor.
- Não existe acordo no papel, mas o bom relacionamento que eu tenho com as pessoas, e acho que as pessoas também gostam de mim aqui no clube, então a prioridade é ficar aqui. Gosto do clube, então não tenho motivos para trocar o Fluminense.
Bate-bola com Allan
L!: Você é revelado pelo Internacional e sai muito novo do Brasil. Como foi a sua transferência para o Liverpool?
- Eu era da base do Inter e fizemos um campeonato que estava a equipe do Liverpool sub-20. A gente acabou sendo campeão e foi de lá que eu fui para o Liverpool. Quando eu fui, não sabia da questão do visto, que eu teria que ter para jogar lá. Eu sabia que seria emprestado para algum clube, mas imaginava que era para ganhar experiência por nunca ter jogado profissionalmente. Eu cheguei muito rápido e a janela já estava fechando, então a solução que tinha era ir para a Finlândia, por uma amizade do técnico que já havia trabalhado no Liverpool.
L!: Como foi então essa passagem pela Finlândia e também pela Europa como um todo?
- Na Finlândia joguei apenas seis meses. Em janeiro procurei outro clube. Por lá foram nove jogos, dois gols e cinco assistências. Com mais calma acabei indo para a Bélgica, que é uma liga boa também. Lá defendi o Sint-Truiden. Tive duas passagens pela Alemanha, uma com o Hertha Berlin e outra pelo Eintracht Frankfurt. Depois fui para o Apollon Limassol, do Chipre.
L!: Você considera como positiva a experiência em todos esses países da Europa?
- Muitos acham que estar na Europa é tudo mil maravilhas. Claro que não reclamo, não me arrependo, mas é difícil todo ano mudar de casa, mudar de país. Não dá tempo de você resolver tudo, se acostumar com o clima, com o futebol. Então por isso que eu falei que agora no Fluminense, estou tendo a felicidade de novo. Fazia tempo que eu não tinha esse sentimento de alegria que é estar no meu país. Essa volta fez bem para mim e para minha família.
L!: Você tem muita qualidade na saída de bola e em diversas situações do jogo, faz uma espécie de terceiro zagueiro, armando as jogadas desde trás. Se sente adaptado a função?
- Isso passa muito pelo Fernando. A gente treina muito, todos os dias querendo melhorar. É o estilo de jogo dele, né. Eu acho que não é o treinador que tem que se adaptar ao jogador e sim o jogador que tem que se adaptar ao estilo do treinador. E quando eu cheguei, eu tentei fazer isso o mais rápido possível, escutando bastante, olhando, e ao decorrer do tempo fui pegando o estilo dele. Está dando certo, o time foi encaixando. Eu estou feliz, me diverto em campo e quando se faz com gosto e alegria, tudo sai melhor. Dá gosto e prazer de jogar no Fluminense.
L!: Pelo sua característica de articulação, acha que daria para jogar um pouco mais adiantado?
- Meia para mim acho que seria um pouco difícil, pelo tempo que eu não atuou como um 10. Mas de primeiro e segundo volante, acho que eu consigo fazer sem problemas. Não tenho prioridade, eu quero é jogar independentemente se vão me colocar de primeiro ou segundo, o que me interessa é está entre os onze. Mas eu acho que estou bem adaptado como primeiro. Vamos deixar assim que tá dando certo
L!: Você tem uma concorrência grande, com Airton, Bruno Silva e Yuri. Como é ter essa disputa?
- É bom para o time e para o jogador também, porque o jogador sabe que quando tem uma carrapatinho ali no seu caminho não dá para dormir. Se dormir, você perde a vaga. Então acho que é bom para todas as partes. É treinar forte e não deixar a peteca cair
L!: Dificilmente você pisa na área adversária. Isso é um pedido do Fernando Diniz ou uma característica sua?
- É mais uma questão tática mesmo, porque quando você joga com dois jogadores mais leves, como o Ganso e o Daniel, não tem motivo para eu ir lá, vai ficar muito embolado na frente. Já são três, com mais dois, cinco, mais eu, seis. Acho que o time fica um pouco desprotegido quando não fica ninguém no meio. Então minha função é dar proteção para a equipe. Deixar que eles façam os gols e a gente ganhe. Fico feliz assim.
L!: O que o Fernando Diniz tem pedido mais nessa intertemporada?
- A única coisa que a gente precisa melhorar, e todos sabem disso, é a situação de fazer bom jogos e na semana seguinte não conseguir manter o mesmo nível. A gente está conversando bastante sobre isso, como podemos mudar isso juntos para manter um nível só. Fazer bons jogos, conseguir ganhar e aumentar o nível de competitividade. Também acho que é o ponto que ele tá trabalhando mais com a gente.
L!: Você acredita que essa oscilação passa pela inexperiência do elenco, que é muito jovem?
- É difícil responder isso, porque, se eu responder essa pergunta, estaria respondendo pelos outros e acho que não cabe a mim dizer o que passa na cabeça deles. Mas na minha, acredito que não. Todo jogo eu entro para ganhar, eu quero vencer. Porque temos um objetivo nessa temporada que é ganhar um título e a gente não é louco. Sabemos da nossa capacidade. A maturidade influencia bastante, mas estamos crescendo a cada dia e não acredito que seja isso, pelo menos na minha opinião.
L!: Como o grupo recebeu a notícia do doping do Rodolfo?
- É uma situação triste. Acredito que a família dele também está passando por um momento delicado. Acho que é o momento de dar um respiro para ele. Deve estar passando mil coisas na cabeça dele. As pessoas mais próximas devem apoiá-lo. Mas ele sabe que a gente está de braços abertos, o que ele precisar é só falar com a gente. Temos um bom relacionamento, nosso grupo é muito bom, o ambiente é maravilhoso e quando acontece isso com um jogador, amigo nosso, ficamos muito chateados.
L! Como o elenco recebeu a possibilidade da saída do Luciano, que já reclamou de salários atrasados, assim como o Gilberto?
- Falamos para eles não saírem. Não podemos perder ninguém. Sabemos da limitação do nosso elenco, que não tem muitos jogadores, e eles são jogadores importantes. Não queremos que eles saiam. Mas eu vejo isso como uma certa canseira, porque eu não reclamo sobre isso. Quando eu vim para cá, já sabia da dificuldade que o clube estava passando, então não tem como eu chegar aqui depois de seis meses e questionar uma coisa que eu já estava sabendo. E eles já estão há bastante tempo, então acho que foi cansando e por isso está gerando esse desconforto. Mas torcemos para eles não saírem porque são jogadores que nos ajudam muito.
L!: Você tem 23 jogos pelo Fluminense e nenhum gol até agora. Existe cobrança para balançar as redes?
- Não sei se a questão é cobrança, mas fico ansioso para fazer sim. Fazendo bons jogos, nada melhor que coroar com um gol. Não precisa ser bonito, pode ser de qualquer jeito, mas está na hora de sair. Pode ser chute de fora da área, falta, mas espero que nesse segundo semestre possa fazer um golzinho.
Venho treinando bastante para isso.
L!: Como é ver o surgimento do João Pedro, do Marcos Paulo, que são muito novos e já estão se destacando bastante pelo Fluminense?
- Todo ano entra uma geração boa e a gente fica feliz porque já passamos por isso, sabemos que é difícil o começo. Ver eles dando certo, já fazendo gols e bons jogos, é motivo de felicidade. A relação é igual a que temos com todos. Eles às vezes só pegam um suco ou pagam um castiguinho, mas é brincadeira e brincadeiras fazem parte.
L!: Apesar de ter apenas 22 anos, você passa uma grande maturidade. Como adquiriu experiência sendo tão novo?
- Passa por eu ter saído muito cedo de casa, ainda com 14 anos e estou até hoje fora de casa. Tive que me virar sozinho e aprendi muito. Fiquei fora e aprendi novas culturas, novos jeitos de lidar com as pessoas e isso tudo me deixou mais maduro.
L!: Como é o Allan fora do campo?
- Sou casado e tenho uma filha de oito meses, a Antonela, e gosto de aproveitar com elas o meu tempo livre. Gosto de fazer um churrasquinho, eu mesmo faço o meu churrasco que aprendi no Sul. Lá fora era difícil arrumar uma churrascaria e tinha que fazer em casa mesmo, com os amigos, ouvindo umas músicas e ficando tranquilo.
L!: Você fez parte do elenco do Brasil, no Sul-Americano Sub-20, de 2017, que acabou fracassando, ficando de fora do Mundial. Por quê aquela Seleção que tinha você, Caio Henrique, Paquetá, Vizeu, entre outros, não deu certo?
- Já vem de um tempo né, essa pedra no caminho que é cair no Sul-Americano. É difícil explicar o por quê de não ter dado certo. A gente estava com os melhores jogadores ali, só faltaram o Gabriel Jesus, que estava com a Seleção principal, e o Malcom. O time não encaixou e eu não sei o motivo. Não sei se foi erro do treinador ou dos jogadores. Isso não aconteceu só com a gente, vem acontecendo constantemente, esse ano inclusive com os meninos.
L!: Você sonha com um retorno para Seleção Brasileira?
- Eu pretendo sim voltar para a Seleção. Tudo no seu tempo, não estou ansioso e não me cobro por isso, por não ter sido convocado. Acho que no momento certo as coisas vão acontecer. Se for para ir, ok, se não for, vou trabalhar mais e esperar a próxima. As coisas acontecem no tempo certo.
L!: O Fernando Diniz parece ser muito querido pelos jogadores. No entanto, a gente sabe que futebol é resultado e o Fluminense não vem bem no Campeonato Brasileiro. Você teme pela saída do treinador?
- A gente sabe que no Brasil é complicado, os clubes não dão muito tempo para os treinadores. Todos sabem do trabalho que ele vem fazendo. A gente não tem o que falar sobre ele, como pessoa e como treinador. É complicado essa situação de não conseguir ganhar, porque a gente vem jogando bem e eu fico triste por esses comentários (críticas), que eu acredito que dentro do clube não exista, de troca de treinador, pelo bom relacionamento que ele tem com todos.
L!: Você considera o Fernando Diniz um dos melhores técnicos com quem trabalhou?
- Em toda a minha carreira, nesses cinco anos no profissional, conheci só dois treinadores que eu tiro o chapéu. Um é o Fernando e o outro é o Jürgen Klopp. Não só como treinador, mas também como pessoa, a relação humana que possuem com os jogadores. Porque ser treinador é ser o chefe e todos têm que te respeitar. Você chega ali, se impõe e pronto. Eles não. Procuram ver o lado da pessoa, o lado da família, do jogador, entende porque foram jogadores, sabe como o atleta pensa. Eles ajudam muito no crescimento, tanto pessoal como profissional da gente.
L! Você tem como dar mais detalhes sobre a sua relação com o Jürgen Klopp?
- Todas as pré-temporadas eu fazia com eles. Quando eu voltei do futebol da Finlândia, eu fiquei com o Liverpool de outubro à janeiro, treinando com o Klopp e dali que firmamos um contato. Conversávamos bastante e ele sempre me ajudou. Na minha primeira passagem no futebol alemão, foi ele que conversou com o Hertha Berlin e na minha volta à Alemanha, novamente foi ele que fez eu fechar com Eintracht Frankfurt. Eu Allan, perto de Firmino, Henderson, Fabinho, Alisson, quem sou eu, vamos dizer assim, para ele me ajudar? Isso é para você ter noção do ser humano que ele é. Ele vê o lado do jogador, sempre me ajudou e me dava conselhos. Por isso que eu cito o nome dele e do Fernando como grandes treinadores.