Ciclistas profissionais comentam desafio de Fred para chegar ao Flu

LANCE! conversou com Henrique Avancini e Adriana Nascimento, duas referências no ciclismo brasileiro, sobre viagem de bicicleta do atacante tricolor de Belo Horizonte ao Rio

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Mais novo reforço do Fluminense, o atacante Fred decidiu encarar uma aventura em nome de uma boa causa. O ídolo do Tricolor iniciou, na última segunda-feira, uma viagem de bicicleta de Belo Horizonte ao Rio de Janeiro. O percurso será percorrido em cinco dias e cestas básicas serão doadas por cada um dos 600 quilômetros pedalados. Para entender os desafios que o camisa 9 tem pela frente, o LANCE! conversou com dois nomes do ciclismo brasileiro: Henrique Avancini e Adriana Nascimento.

Avancini , integrante da equipe Cannondale Factory Racing, foi o segundo melhor do mundo em 2018 e 2019, no ranking mundial da UCI (União Ciclística Internacional). Atualmente é considerado a maior referência do mountain bike no Brasil em atividade. 

– Até onde eu vi, o Fred vem pedalando bem há algum tempo, então já consegue ter um domínio da parte técnica e de pilotagem. Apesar dele ter escolhido um trecho que é desafiador para um atleta amador, acredito que com o preparo que ele tem, na parte de impactos vai conseguir se sair muito bem – analisou Avancini. 

Outra referência no Brasil no esporte sobre duas rodas, Adriana Nascimento é uma multi campeã em diversas modalidades do mountain bike (cross country, maratona, ultramaratona e downhill) e hoje atua como treinadora. Para ela, Fred deve ficar atento a eventuais dias chuvosos.

– Pedalar na chuva causa um desgaste físico maior, pela energia consumida para manter o corpo aquecido, e porque fazemos mais força para manter a bike em movimento com a lama grudando nos pneus – alertou.

No primeiro dia da viagem até o CT Carlos Castilho, Fred teve mais de 15 horas na estrada até chegar a São João Del Rei, no interior de Minas Gerais. Na terça-feira, o jogador percorreu mais 171 km até Caxambu. Para não ter aglomerações em tempos da pandemia do novo coronavírus, o itinerário tem sido feito por caminhos alternativos, em estradas de terra.

Veja a análise do "Tour do Fred":

HENRIQUE AVANCINI

Avancini foi o segundo melhor do mundo em 2018 e 2019 (Divulgação)

"Como é uma modalidade de endurance e o Fred passar muitas horas por dias e vários dias seguidos em cima da bike, com certeza, em um curto período de tempo ele vai perder um pouco de mobilidade, principalmente na região de quadril. O mais importante é ele fazer uma movimentação no final de cada dia de pedal, principalmente nas articulações de quadril para que isso não possa gerar uma lesão com a repetição ao longo dos dias.

Até onde eu vi, o Fred vem pedalando bem já há algum tempo, então já consegue ter um domínio da parte técnica e de pilotagem. Apesar dele ter escolhido um trecho que é desafiador para um atleta amador, acredito que com o preparo que ele tem, na parte de impactos vai conseguir se sair muito bem. O risco dele ter alguma lesão por impacto é bem pequeno.

Além disso, acho que ele deveria tomar alguns cuidados extras. Apesar de ser um atleta de alto rendimento, é uma modalidade diferente, mais metabólica. Principalmente quando você entra na sequência de dias. Você pedalar 100km em um dia com um tempo de recuperação é diferente de quando você faz isso por cinco dias seguidos. Há uma chance de catabolizar os músculos. Pode virar um problema a curto e médio prazo, mas acho que não é nada muito difícil de controlar com a alimentação e suplementação correta ao longo do desafio que ele está encarando."

ADRIANA NASCIMENTO

Adriana é referência no mountain bike no Brasil (Foto: Acervo pessoal)

"A preparação física para um esforço como esse precisa ser feita à longo prazo, evoluindo de forma gradual com pedaladas dentro dos limites de cada pessoa, mas de forma frequente para se adaptar. O Fred teve acompanhamento de um treinador e o Mountain Bike já era um esporte praticado por ele com frequência.

Para quem deseja superar um desafio como o do Fred, pedalando 600 km em cinco dias com muitas subidas e desafios extras que a natureza vai oferecendo ao longo do caminho, recomendo que a preparação seja feita com pelo menos um ano de trabalho. O começo de tudo deve ser uma consulta médica para saber como está a saúde, e depois procurar orientação de um educador físico para treinar de forma segura e eficiente.

Também é importante considerar além do preparo físico, há uma logística complexa que inclui monitorar a previsão do tempo, escolha de equipamentos adequado para as condições a serem enfrentadas, alimentação e condições adequadas de descanso, porque uma boa noite de sono é muito importante para recuperar do esforço diário. O Fred vai acampar ao longo do caminho e terá uma exigência extra de energia pelo desconforto e frio previsto para essa semana, com possibilidade de chuva.

Pedalar na chuva causa um desgaste físico maior, pela energia consumida para manter o corpo aquecido, e porque fazemos mais força para manter a bike em movimento com a lama grudando nos pneus. Apesar de mais seguro, o percurso pela Estrada Real que é todo em terra usando uma bicicleta Mountain Bike oferece um desafio bem grande, tanto físico quanto técnico."

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