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Dívidas do Flu, salários atrasados e Peter Siemsen: Abad analisa finanças

Ao L!, presidente do Fluminense admitiu que encontrou uma situação financeira pior do que esperava da gestão anterior e estratégias para resolver "asfixia" do clube

Pedro Abad - Fluminense
imagem camera(Foto: Mailson Santana/Fluminense FC)
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Lance!
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 25/10/2018
18:11
Atualizado em 26/10/2018
13:00

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Os problemas financeiros vividos pelo Fluminense são de conhecimento geral. Mesmo com a entrada de dinheiro pelas vendas de Henrique Dourado e Douglas, pelas transferências de Wendel e Richarlison, e pelo negócio de João Pedro, os salários continuam atrasados. Situação que é explicada por Pedro Abad. Na segunda parte da entrevista com o presidente, o mandatário fala ao LANCE! sobre finanças, revela busca por soluções, que a saída de atletas não significa dinheiro em caixa. 

- Primeiro, que o Fluminense não é só salario. Temos diversos outros compromissos, um passado complexo, de soluções difíceis. Temos diversas penhoras, só da Fazenda foram R$ 27 milhões. Fora penhora de receita, as mais diversas penhoras. Nosso fluxo de caixa foi muito pressionado. Nem sempre o valor total da venda é destinado ao Fluminense. Caso do Henrique Dourado, Richarlison... É uma equação difícil de fechar. Temos diversas outras obrigações que o torcedor não enxerga porque não faz parte do dia a dia dele. Por isso que dá essa falsa sensação de que tem muito dinheiro e que as obrigações com os atletas não são pagas - declarou o presidente. 

Abad é cobrado pelos torcedores por suas declarações. Durante a campanha presidencial, falou em austeridade financeira e que "ajudou a equacionar as dívidas do clube". O primeiro se cumpriu, mas os números do segundo não coincidem com a fala: o endividamento era de R$ 331 milhões em 2015 e cresceu para R$ 631 milhões em 2017. Além disso, o clube aumentou as dívidas bancárias e trabalhistas. O presidente se defende, explica a diferença entre as dívidas contraídas e afirma "ter um plano" para resolver os problemas. 

- Houve várias diferenças de forma de apuração do passivo, novas regras contábeis. O que a gente vem fazendo é o que podemos. Ou seja, reduzir custo operacional e responsabilidade no gasto. Tem coisas que a gente não comanda, como despesas financeiras, que são R$ 35 milhões ao ano, despesas de atualização de tributos. Isso tudo impacta no resultado, que acaba indo para o passivo. O que fazemos é um trabalho de reestruturação de modelagem do passivo, reforço a Xerém para obter novas receitas. Acreditamos que isso pode chegar a um bom termo. Grande parte das nossas dívidas são fiscais, do "Profut", dívidas trabalhistas, que estão parceladas. O pior é o dia a dia, as penhoras cíveis e algumas outras trabalhistas que atrapalham. Mas vamos resolver, temos um plano para isso.

Pedro Abad - Presidente do Fluminense
Abad e Peter, atual e ex-presidente (Foto: MAILSON SANTANA/FFC) 

Confira outras respostas da entrevista de Pedro Abad ao LANCE!: 

LANCE!: Fluminense entra em setembro sem patrocinador master, com a venda do Pedro sem ser concretizado e com o Maracanã dando mais prejuízos que lucros. Qual é a sua estratégia para tirar o clube dessa "asfixia financeira"?

Pedro Abad: É complexo. Os públicos não tem sido o que esperávamos. Isso traz prejuízo. Por isso ressalto que torcedor é importante no estádio. O Pedro ter se lesionado foi um complicador. Temos que ter criatividade. As vezes negociações não tão boas pela necessidade. Temos um plano de reestruturação parceira maior, temos uma pessoa especifica trabalhando em cima disso. É a nossa melhor tentativa de resolver. No inicio do ano, muitos veículos de mídia e torcedores achavam que o Fluminense ia ser rebaixado porque vendeu o Dourado. Ironizavam o Pedro e hoje ele é o jogador que é porque apostamos nele. É importante o torcedor entender isso, jogador a gente forma porque temos matéria prima pra formar. Obvio que há uma perda técnica, mas a gente tem matéria prima e monta. Torcedor pode dar um voto de confiança no nosso trabalho de base.

"No inicio do ano, muitos achavam que o Flu ia ser rebaixado pois vendeu Dourado"

O Fluminense tem quitado os meses de salário da CLT, mas os direitos de imagem seguem atrasados. Como está sendo trabalho para resolver esse problema?

O elenco sempre é posicionado, não terceirizo essa tarefa. Eu faço questão de reunir os atletas e falar. O que temos conversado e de certa forma eles tem uma confiança grande no trabalho da administração, é que estamos sempre nos mexendo para resolver. Não prometemos nada que não podemos cumprir. Fluminense ta sempre se mexendo no mercado, buscando saídas. Ano passado passamos por uma situação complicada, em determinado momento dei uma data e ela foi cumprida. Quando não tenho informação concreta, digo isso a eles por mais que cause chateação. Isso mantém confiança. Trabalho para resolver o mais rápido que pode, em casos isolados procuramos ajudar.

A Amil cortou o pagamento de planos de saúde de funcionários do clube. Poucos dias depois, a situação foi resolvida. Mas, como a situação chega a ponto de uma coisa tão básica como plano de saúde chegar a ser cortada?

É fruto de problemas financeiros. Em algum momento você acaba não tendo disponibilidade financeira ou não chega no momento que você precisa. Foi o que aconteceu. Ficamos dois dias sem plano de saúde ativo, mas já foi restabelecido. É fruto da dificuldade financeira que o clube passa. É uma questão mais sensível e visível que outras que já aconteceram. É uma dificuldade global que as vezes se manifesta em uma questão sensível como plano de saúde.

"É um objetivo estratégico do clube e vamos procurar a Caixa como patrocinadora"

Valle Express rescindiu o contrato de maneira polêmica. DryWorld teve seu contrato rescindido com necessidade de ir para a justiça. O mesmo com a Vitton. Como você visualiza um cenário onde todas as marcas que mais investiram no Fluminense saíram em situações problemáticas?

Não enxergo desta forma. Acho que a Unimed é um caso que saiu, mas teve uma parceria extremamente longa. A Adidas foi fornecedora do Fluminense por muito tempo e também não saiu com problemas. Tivemos algumas questões por falta de pagamentos e isso é motivo de rescisão porque precisamos colocar alguém no lugar. A relação com as empresas sempre foi boa. Problemas sempre ocorreram, mas acho que isso não permite concluir que todo mundo que resolver se associar ao Fluminense com valores mais relevantes terá problemas. Outros clubes também enfrentam esses problemas. Houve problemas pontuais, mas temos relações na história que eram grandes e foram de sucesso.

Como está a busca pela CND? Isso abriria uma nova porta para investimentos...

Fizemos alguma operação financeira para pagar diversos impostos. Estamos com alguns problemas na área trabalhista, algumas ações judiciais que precisamos resolver antes de obter as certidões negativas.

"A foma como as rescisões foram feitas não foi boa ou ideal"

Para 2019, na busca para a CND, a ideia é começar com a Caixa?

A CND é importante para o clube como um todo, independente de patrocinador. Porém, está no radar. A partir do momento que temos a CND, abre a possibilidade não só da Caixa, mas de outras também. É um objetivo estratégico do clube e vamos procurar a Caixa como patrocinadora, sem dúvidas.

Fluminense está somando processos na justiça do trabalho, a maioria dos jogadores que foram dispensados no início do ano. Diego Cavalieri e Marquinho, principalmente. É possível afirmar que o destrato foi mal executado, ou a situação caminha como o clube planejava?

A foma como as rescisões foram feitas não foi boa ou ideal. Não mesmo. O Fluminense não tinha condições de arcar com os salários, mas esse processo poderia ter sido feito de forma diferente sem dúvida. Reconhecemos isso. Esse foi um episódio que não andou bem.

"Gosto de dar soluções para os problemas e não ficar remoendo culpados"

Peter Siemsen adicionou cláusulas aditivas que se tornaram uma bola de neve e tornaram o Maracanã praticamente inviável. Você tinha conhecimento desses aditivos quando era presidente do Conselho fiscal? Tem posição sobre eles?

O Fluminense pontualmente em anos anteriores efetivou testes em relação ao Maracanã de mudanças contratuais. Uma delas, que sequer chegou a ser assinada, foi o que baseou a Justiça para mexer na forma como Fluminense e Complexo Maracanã se relacionavam. Na verdade o Flu não adicionou cláusulas. O clube fez aditivos em que momentaneamente as cláusulas atuais mudavam, mas retornavam a sua formação inicial passado o prazo do instrumento. Esse que está vigorando hoje não foi assinado. A decisão judicial foi esta e entendemos, mas não foram alterações contratuais. O contrato original permanece válido, já foi reconhecido na Justiça em outras situações, embora a discussão macro se esse contrato vai ficar de pé ainda esteja em curso. Não é porque eu era presidente do Conselho Fiscal que eu deveria saber disso ou não, eu não sabia de tudo em tempo real. Hoje tenho uma relação muito estreita com o presidente do conselho e deixo ele por dentro do que está acontecendo. Seja bom ou ruim. Diminui a possibilidade do presidente tomar decisões que comprometam o futuro do clube.

O clube foi obrigado a revisar o balanço da gestão anterior e, por isso, atrasou para liberar o referente ao ano passado. Você acha que o ex-presidente Peter Siemsen colocou uma bomba em sua mão?


Eu tenho sempre dificuldade de aceitar essas frases bombásticas e deterministas para analisar tudo de um lado só. Se de fato a situação financeira que eu encontrei é muito complexa, também houve coisas boas. Não adianta personificar exageradamente. Tiveram erros da gestão do Peter, sem dúvidas, principalmente no futebol, mas gosto de trabalhar olhando para frente. Temos que resolver nossos problemas. Não adianta pensar quem foi ou não foi. Não resolve. Prefiro olhar para frente. Sem querer defender o Peter, esse é a minha postura. Gosto de dar soluções para os problemas e não ficar remoendo culpados. A situação do Fluminense já vem de décadas.

"O resultado principal mostrou necessidade maior de governança dentro do clube"

Você disse que o investimento nos esportes olímpicos era por ser auto sustentável. O balanço financeiro foi divulgado e o Esporte Olímpico consome muito mais do que gera lucro. Como você vê essa situação?

Na verdade, as mensalidades do clube social, sócio proprietário e aletas são rateadas para o departamento social, meios do clube e os esportes olímpicos. Dentro de um critério pré-estabelecido, existe uma receita que eles podem utilizar. O Fluminense tem que ter o esporte olímpico. Temos, especificamente para o vôlei feminino, um projeto na Tim que tem um financiamento externo. Não é verdade que os esportes olímpicos sejam totalmente deficitários, até porque muitas pessoas não seriam sócias se não tivesse isso. Foi feito uma estimativa de quanto eles poderiam utilizar. Não é nada absurdo ou muito grande. O Flu também é esporte olímpico.

Você formulou uma auditoria no clube ao lado de Ernest & Young. Qual foi o resultado obtido?


O resultado principal mostrou a necessidade de uma maior governança dentro do clube. Tivemos que fazer um trabalho de redução de funcionários, reestruturações do funcionamento organizacional do clube. Não foi bem uma auditoria, mas uma consultoria de funcionamento operacional. As conclusões foram essas, principalmente da governança. Isso é fácil de entender, a partir do momento em que o presidente tomava as decisões que quisesse. Sempre consulto muito as pessoas. Foi isso que tentamos implementar. Temos alguns comitês e, quando o assunto foge dele, levamos para o conselho diretor para tomar uma decisão, inclusive contratação de atletas e renovações.

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