As dívidas com ações judiciais cíveis e trabalhistas são, há anos, uma enorme dor de cabeça para o Fluminense. Segundo balanço financeiro do ano de 2019, publicado no final de abril, o montante estimado desse passivo é de mais de R$240 milhões. O LANCE! conversou com o especialista em marketing e gestão esportiva, Amir Somoggi, sobre o tema. Segundo ele, o Tricolor precisa estar atento ao que chamou de "bola de neve" para evitar mais problemas no futuro.
– O Fluminense tem um passivo trabalhista gigantesco, assim como outros clubes como Vasco, Botafogo, Cruzeiro, Atlético-MG, Santos ou Corinthians. Esses números assustam. Há um acordo para o Ato Trabalhista de R$39 milhões, outras dívidas trabalhistas na ordem de R$133 milhões e ainda dívidas cíveis de R$68 milhões. Quando você tem um clube nessa situação, o único caminho é reservar um valor para estar em dia com isso. É uma bola de neve, esses valores são atualizados monetariamente e o clube sempre "sangra" por conta disso. É uma situação bastante complexa. Os clubes brasileiros sempre foram muito mal administrados e o Fluminense é um dos que paga um preço elevado por isso – analisou Somoggi.
Um dos principais problemas com esse tipo de dívida, segundo o especialista, seria a prerrogativa que possui o Poder Judiciário de requerer o bloqueio total receitas vitais para o caixa da instituição.
– É um problema que muitos clubes já viveram no passado ou ainda vivem. Sofrem com a penhora de receitas importantes como o dinheiro do patrocinador ou direitos de transmissão da TV. Esses valores são imediatamente bloqueados. Às vezes, notificam diretamente o pagador e clube nem chega a receber. A dívida judicial muitas vezes é menor do que o clube tem a receber, mas o pagamento fica totalmente bloqueado. O clube precisa correr para resolver. Quando se regulariza a administração, você não só desenvolve seus investimentos como salva o esporte. O Flamengo, por exemplo, com as Certidões Negativas de Débitos conseguiu ter patrocínio estatal e investir no basquete e em outras modalidades olímpicas, não apenas no futebol – completou.
Presidente ciente do problema
Desde o início da gestão, em junho de 2019, o presidente Mário Bittencourt, que também é advogado, tem dado declarações que destacam a importância dada ao assunto nos bastidores do Tricolor. Na divulgação do balanço, ele publicou uma carta aberta aos tricolores em que dizia ter encontrado do Fluminense "dilacerado" e "com dívidas, pendências processuais e inadimplências que saltam à frente quase todos os dias, sem que se saiba com a exatidão necessária, a origem e a quem se aplica a responsabilidade".
Em uma coletiva em agosto de 2019, o mandatário chegou a tratar expressamente do plano montado para tratar do problema.
– A gente já monitorou todos os processos com possibilidade de penhora. Alguns que já existiam e outros que podem virar execução. O que estamos fazendo agora é pegar processo a processo, credor a credor e apresentar um fluxo de pagamento com carência. Não tem outra situação. É uma escolha de Sofia: ou se paga quem está aqui ou se paga os processos. Montei um gabinete de crise que monitora isso como se fosse controlador de voo. Tem coisa que escapa. Tem gente que não aceita conversar, não consigo controlar todo mundo. Tento mostrar que a instituição mudou. E evitar ao máximo se construir novas dívidas – disse à época.