O Grupo Laranjeiras XXI, responsável pela proposta de reforma do Estádio de Laranjeiras, divulgou, nesta sexta-feira, uma carta enviada ao presidente Mário Bittencourt rebatendo algumas críticas feitas por ele em entrevista coletiva no último dia 7 de agosto, quando deu explicações sobre o projeto. Na ocasião, o mandatário afirmou que a discussão ganhou um viés político e demonstrou irritação ao falar sobre o tema, muito presente nas redes sociais.
Na carta, o grupo garante ser apolítico e garante que "o grupo de sócios que apresenta a proposta já manifestou em diversas vezes que considera essencial a participação não só de integrantes da gestão, quanto de profissionais que colaborem nas suas diversas áreas de conhecimento". Além disso, lembra que a motivação para reforma é a péssima condição do estádio por falta de manutenção nas últimas décadas e "pelas sucessivas gestõess, que não tiveram visão nem respeito com o patrimônio do Clube".
Um dos pontos levantados por Mário é com relação à limitação financeira do Flu atualmente, alegando que "um clube que não paga imposto, tem dificuldade para pagar salários e está falando em construir um novo equipamento para jogos deficitários". O documento aponta saber das dificuldades do clube e alega que a reforma se baseia em conseguir recursos "por meio de leis de incentivo, doações e parcerias".
- É louvável a preocupação com relação à viabilidade financeira das instalações após a sua realização, porém, cabe lembrar que, na verdade, já existe no local um Estádio e um Edifício Sede que há muito não recebem os recursos necessários para a sua manutenção. Com a realização da Reforma, as condições estruturais e de uso receberiam um caráter renovado, reduzindo os custos de manutenção e permitindo atividades, cujas receitas, atualmente, não são possíveis - escreveu o grupo.
Por fim, o grupo rebate uma declaração de Mário Bittencourt falando que o Fluminense obteve mais sucesso enquanto jogou no Maracanã e não nas Laranjeiras.
- Apenas para fazer justiça, mesmo na pior fase da sua história, os resultados dos jogos do Fluminense em Laranjeiras foram superiores aos do Maracanã, na melhor fase de sua história. É um equívoco colocar a responsabilidade dos maus resultados obtidos por jogarmos em Laranjeiras. O óbvio é reconhecer as péssimas gestões do clube ao longo desse período.
Confira a carta completa:
"Ao Senhor Mario Bittencourt
Presidente do Fluminense Football Club
Prezado Mario,
Com relação às observações realizadas em sua entrevista coletiva, realizada dia 07/08/2020, o grupo Laranjeiras XXI gostaria de fazer alguns esclarecimentos, acerca da proposta de revitalização do Estádio de Laranjeiras:
- O senhor declarou que considera que o assunto da Reforma de Laranjeiras está sendo politizado. Gostaríamos, mais uma vez, de afirmar que a proposta de colaboração com a gestão não tem nenhum aspecto político. Inclusive, o grupo de sócios que apresenta a proposta já manifestou em diversas vezes que considera essencial a participação não só de integrantes da gestão, quanto de profissionais que colaborem nas suas diversas áreas de conhecimento.
- Lembramos que a motivação inicial da proposta foi buscar uma solução para reformar o Estádio existente, construído há 101 anos e praticamente não alterado desde então, encontrando-se em péssimas condições, por falta de manutenção ao longo das últimas décadas e pelas sucessivas gestões, que não tiveram visão nem respeito com o patrimônio do Clube.
- A proposta em questão não é a de construir uma nova arena, para 12 mil pessoas que se torne a principal sede para os jogos do Fluminense. Tampouco se resume a uma alternativa para jogos deficitários do time. Diferentemente dos estádios dos demais clubes do Brasil, o Estádio das Laranjeiras é tombado e possui importância histórica não só para o Fluminense, mas para o futebol e sobretudo a seleção brasileira.
- Reforçamos que o objetivo principal é possibilitar que a reforma seja realizada e que o estádio esteja disponível para o seu uso original: a prática do futebol, além de quaisquer atividades consideradas adequadas pela gestão, permitindo que deixe de ser um espaço ocioso e volte a ser um local ativo e de encontro dos tricolores, gerando novas receitas ou otimizando custos de atividades existentes.
- A proposta que está apresentada surgiu da análise das condições necessárias para adequar o espaço, de forma a atender às exigências do Estatuto do Torcedor e do Corpo de Bombeiros, dentro de um critério de custo x benefício.
- Com relação ao lance superior das arquibancadas, independentemente da sua condição estrutural, foram identificados problemas relevantes com relação ao acesso, incompatível com as normas de segurança e conforto; na ergonomia dos degraus (altos e estreitos), compreensíveis por ser um projeto de 100 anos atrás; de capacidade, segurança e dificuldade em disponibilizar os serviços de sanitários e bares, de acordo com as exigências do Estatuto do Torcedor. Neste sentido, identificamos que a solução de um lance único (conforme consta do Programa da gestão atual), remetendo ao modelo do projeto do Estádio de 1919, seria a solução mais simples, econômica e que traria mais benefícios, além de ampliar a capacidade.
- Todos sabemos das dificuldades financeiras que o Fluminense atravessa, consequência de gestões irresponsáveis, temerárias e incapazes de pensar novas receitas. Por isso, a proposta de Reforma sempre se baseou na possibilidade de conseguir recursos fora do orçamento corrente do clube, por meio de leis de incentivo, doações e parcerias. Infelizmente, diferentemente da sugestão feita por ocasião da entrevista de 07/08/2020, tais recursos não estariam disponíveis para outros fins, mas só com destinação para a reforma do Estádio e do edifício Sede, recuperando o patrimônio histórico existente.
- Desde o início da apresentação da proposta, o Grupo Laranjeiras XXI deixou claro que não se trata de um grupo de investidores, mas de sócios preocupados com o patrimônio do clube, que se propuseram a disponibilizar tempo, dedicação e conhecimento para ajudar o Fluminense a obter os recursos necessários. Dentro desta premissa, o ponto fundamental é que haja autorização oficial do clube para que possamos trabalhar com a devida segurança jurídica e institucional, o que não significa “carta branca” para que se trabalhe isoladamente. Um dos pontos fundamentais é que o projeto tenha a participação de pessoas designadas pela gestão, além dos profissionais em suas respectivas áreas de competência, havendo a necessidade de se organizar um sistema de prestação de contas acessível a todos os interessados.
- É louvável a preocupação com relação à viabilidade financeira das instalações após a sua realização, porém, cabe lembrar que, na verdade, já existe no local um Estádio e um Edifício Sede que há muito não recebem os recursos necessários para a sua manutenção. Com a realização da Reforma, as condições estruturais e de uso receberiam um caráter renovado, reduzindo os custos de manutenção e permitindo atividades, cujas receitas, atualmente, não são possíveis.
- Quanto à previsão de venda de cadeiras cativas e a capacidade incompatível com os atuais 40 mil sócios futebol, reforçamos que o planejamento deverá ser feito juntamente com a gestão, determinando as estratégias de captação de recursos, desenvolvimento do projeto e operação futura. É um equívoco supor que o objetivo principal da Reforma do Estádio das Laranjeiras seja o de substituir o Maracanã (ou um possível novo estádio) como palco principal dos jogos do Fluminense. Cabe à gestão determinar as ocasiões adequadas, seja do ponto de vista financeiro, seja do estratégico para a utilização do Estádio em jogos do time profissional.
- Neste sentido, cabe fazer um reparo à comparação entre o período de 1970 a 1985, quando não houve jogos nas Laranjeiras e o time ganhou dois títulos brasileiros e inúmeros campeonatos estaduais e o período de 1986 a 2003 em que o time jogou no Estádio de Laranjeiras, mas não conquistou títulos relevantes e ainda passou a pior fase de sua história.
- Apenas para fazer justiça, mesmo na pior fase da sua história, os resultados dos jogos do Fluminense em Laranjeiras foram superiores aos do Maracanã, na melhor fase de sua história. É um equívoco colocar a responsabilidade dos maus resultados obtidos por jogarmos em Laranjeiras. O óbvio é reconhecer as péssimas gestões do clube ao longo desse período.
Relacionamos abaixo a quantidade de jogos, vitórias, empates e derrotas do Fluminense, jogando no Maracanã e em Laranjeiras nos dois períodos citados:
- Finalmente, voltamos ao ponto original da discussão: é preciso uma solução digna para o Estádio das Laranjeiras e sua Sede, considerando as restrições de uso existentes e a importância histórica e afetiva deste local para os tricolores.
Atenciosamente,
Grupo Laranjeiras XXI
Carlos Henrique Pereira
Diogo Bueno
Gustavo Marins
Nardo Gutlerner
Nestor Bessa
Sergio Poggi"