História de amor entre Fluminense e Fred tem retomada da identidade, episódios marcantes e respeito
Centroavante encerra a carreira neste sábado pelo clube que mais amou e teve sucesso com altos, baixos, mas principalmente admiração mútua
São as últimas horas da carreira de Fred. Quando o relógio bater 21 horas, o camisa 9 deixa de ser jogador para se tornar um ex-atleta. O fim dessa história poderia ter sido em diversos clubes e cidades, mas o universo tratou de fazer com que o atacante encerrasse a vitoriosa trajetória no lugar onde foi mais feliz. Quando as luzes se apagarem no Maracanã, a torcida do Fluminense terá dado o último adeus a um dos maiores nomes de sua história.
A relação de amor entre Fred e Fluminense não se resume aos 199 gols, os dois Campeonatos Brasileiros (2010 e 2012), dois Cariocas (2012 e 2022) e uma Primeira Liga (2016). A construção dessa idolatria que vira nome de filho e tatuagem vai além do que o campo pode dar. É sobre representatividade, recuperação da autoestima, respeito e principalmente gratidão. Dos dois lados. Se o camisa 9 deu ao Tricolor sorrisos e títulos importantes, o torcedor deu ao jogador confiança e afeto nos momentos mais duros da carreira.
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Fred chegou ao Rio de Janeiro em 2009, meses depois da perda do título na Libertadores do ano anterior. A frustração deu lugar à esperança com o jovem destaque no Lyon, da França, voltando ao Brasil ainda no auge da carreira. Na estreia, dois gols diante do Macaé, 22 bolas na rede em 36 partidas e a participação importante na campanha do Time de Guerreiros que se salvou do rebaixamento em campanha histórica.
As lesões, porém, atrapalharam um jogador que poderia ter sido ainda maior do que já foi. Em 2009, sentiu a virilha e a coxa. Em 2010, fez só 28 jogos e 18 gols, vendo Darío Conca ser o principal nome do título do Brasileirão. Chegou a se envolver com polêmica com o departamento médico do clube, posou nu, começou a aparecer mais nas redes sociais, as quais sempre soube dominar para aparecer como queria.
Em 2011 voltou, foi importante, fez 34 gols em 43 jogos, a melhor média de gols da carreira. Mas o extra-campo e o fato de não ter medo de se posicionar poderiam ter encurtado a passagem pelas Laranjeiras. Depois do episódio dos caipisaquês, chegou a pensar se ficaria no clube, mas optou por não sair. Também foi ameaçado e ficou fora de duas partidas, mas a vida reservava algo grande para o ano seguinte.
Trinta gols em 45 jogos foi o que Fred fez em 2012. Com o bigode, que se tornou marca registrada, foi artilheiro do Brasileiro e o herói do jogo que decretou o título contra o Palmeiras, quando marcou duas vezes. Naquele ano só não fez chover.
Em termos de gols, 2013 foi o pior ano da carreira do atacante. Fez apenas oito em 25 partidas, mas viveu o auge em termos de Seleção Brasileira quando foi campeão da Copa das Confederações marcando duas vezes na final no Maracanã. Sofreu novamente com lesões e chorou na vitória sobre o Bahia que naquele momento decretava o rebaixamento do Flu, alterado depois por irregularidades de outros adversários. Foi em 2014, porém, que a história de carinho se consolidou como de amor.
Fred voltou da Copa do Mundo entendendo que nunca mais poderia jogar no Brasil. Depois da desastrosa campanha da Seleção que culminou no 7 a 1, foi no Fluminense onde encontrou refúgio. Recebido nas Laranjeiras com placas que indicavam a proximidade de casa, o camisa 9 se reergueu e mostrou o tamanho. Foi artilheiro do Campeonato Brasileiro novamente com 18 gols, sendo 27 no total da temporada em 46 jogos.
Depois do abraço, Fred decidiu renovar com o Fluminense em 2015 mesmo com uma proposta da China. Protagonizou o emblemático "o Carioca tem que acabar", chegou aos 300 gols na carreira e se tornou o maior artilheiro da história dos pontos corridos do Brasileiro. Chegou a jogar machucado na semifinal da Copa do Brasil e marcou um gol. Fora do campo, processou a Unimed, que rompeu no ano anterior, fazendo um acordo de R$ 10 milhões por atraso em direitos de imagem. Em 2016, teve problemas claros com Levir Culpi, treinador na época, e deixou o Rio porque entendia que seria um peso para o Flu.
A espera foi longa. Mil quatrocentos e cinquenta e um dias separaram o dia do adeus do anúncio do retorno. A pandemia, porém, manteve longe o abraço entre ídolo e torcida, que vivia o êxtase de ver um dos maiores da história retornarem para encerrar a carreira. Se esperava que ele pouco atuasse, mas em 2021 foi essencial para a vaga na Libertadores. Em 2022, conquistou o primeiro título pelo Flu no Maracanã no Campeonato Carioca.
Nesse período, se tornou o segundo maior artilheiro da história do Fluminense e colecionou recordes na Copa do Brasil, no Brasileiro e na Libertadores. Nos três anos finais da carreira, fez 93 jogos e 27 gols. Foi atrapalhado pelas lesões, mas deu ao torcedor a despedida que essa relação tanto merecia. Neste sábado, quando entrar em campo pela última vez contra o Ceará, às 19h, no Maracanã, a história de amor viverá uma nova fase.