Mário Bittencourt não é o melhor presidente do mundo. Não é sequer um dos melhores que o Fluminense já teve. Mas é certamente muito melhor do que os últimos que sentaram na sua cadeira no gabinete da sede das Laranjeiras.
Abel Braga também não é o melhor técnico do mundo. Talvez não seja sequer um dos melhores que já passaram pelo Fluminense - apesar de ter no clube uma história em muitos momentos bem sucedida. Mas está longe de ser um mau técnico, um cara desatualizado e desprezado.
Todo mundo, eu, você, todos nós cometemos erros. Em algum momento tomamos decisões infelizes. Às vezes são apenas detalhes mas que cobram um preço muito alto na frente. Mário Bittencourt e Abel também erram.
O presidente errou ao anunciar a negociação de Luiz Henrique, uma joia rara , mexendo com a cabeça do menino tendo uma decisão pela frente na Libertadores. Abel errou na escalação, na proposta de jogo, nas substituições, o que tornou ainda mais dolorido o desastre de Assunção.
Mas não foram os únicos. Não foi Bittencourt quem bateu os três pênaltis desperdiçados. Não foi Abel, mas Biel, quem perdeu um gol feito que poderia mudar a história do jogo. E foi Nino que foi expulso complicando ainda mais a situação do time em campo.
O futebol é paixão. E a paixão tem uma linha tênue a lhe separar da irracionalidade. Há apenas uma semana, do alto de uma impressionante sequência de vitórias e da conquista da Taça Guanabara - há algo mais insignificante do que isso? - Abel e Bittencourt eram ovacionados como se comandantes fossem de uma nova era no Tricolor. Os jogadores eram um time de guerreiros.
A derrota no Defensores del Chaco mudou tudo isso como um passe de mágica. E os heróis viraram vilões. Pior do que isso, foram agredidos verbal e fisicamente. Mais uma cena intolerável de violência - em meio a essa assustadora sequência que tem acontecido por todo o país, um prenúncio da tragédia que está por vir no futebol brasileiro. E que só não vê quem não quer.
O Fluminense - a imensa maioria da torcida entende isso - passou temporadas estacionado no meio da tabela ou brigando ali embaixo para não entrar na zona da degola. Nos dois últimos anos classificou-se para a Libertadores. E isso não é obra do acaso, mas de bases sólidas que vêm sendo erguidas nas Laranjeiras e em Xerém. E que passam por uma gestão se não austera, responsável e compromissada com o futuro.
Não há outra saída, não há outro caminho. Interromper o trabalho de recuperação iniciado por MB - seja com ele ou um outro qualquer, de situação ou oposição no clube - é aventurar-se em trilhas que certamente vão levar o Tricolor outra vez a um destino incerto.