Mário Bittencourt vê riscos judiciais em acelerar volta do futebol
Presidente do Fluminense enxerga risco de ações trabalhistas para o clube, em caso de retorno às atividades durante a pandemia do COVID-19, sem garantias de segurança
O presidente do Fluminense, Mário Bittencourt, que é também advogado atuante, acredita que há riscos jurídicos para o clube em caso de retorno das atividades sem garantias de segurança. O mandatário tricolor citou decisão recente do Supremo Tribunal Federal (STF), que ao analisar a Medida Provisória 927, reconheceu que o coronavírus pode ser considerado uma doença ocupacional.
– A questão entra na esfera trabalhista. Com a decisão do STF recente, com relação à doença ocupacional, a partir do momento que se testa 40 jogadores e eles não estão infectados, você atrai o ônus para o empregador, pelo menos na minha visão. Se o funcionário entra, não tem nada e contrai o vírus depois que retornou. Não posso negar que muitos atletas, não só do Fluminense, gostariam de voltar a treinar presencialmente. Tenho dito que vai chegar esse momento, mas quando a gente entender que não está se colocando a vida dos outros em risco. O argumento de que atleta não é grupo de risco não me convence como ser humano. Todos têm avós, esposas, filhos em casa – afirmou o Bittencourt, em participação em live com o juiz do trabalho Marcos Dias, na última segunda-feira.
Na visão do presidente do clube das Laranjeiras, acelerar e impor o retorno aos treinamentos sem que os atletas se sintam seguros também pode resultar em demandas judiciais.
– Não vou citar nomes de clubes, mas alguns fizeram imposição de maneira unilateral, o que eu discordo. A maioria, pelo que se leu, foi que impôs a condição, e isso pode virar uma enxurrada de ações trabalhistas. E no futuro alguém vai pagar essa conta. Eu optei por outro caminho, tenho uma relação muito boa com os jogadores, de transparência.
A superlotação do sistema de saúde, que já começa a enfrentar o problema da falta de leitos em diversas regiões do Brasil é outro tema que preocupa o presidente. Para ele, há riscos de falta de profissionais e UTIs, em caso de lesões mais graves, em jogos ou treinos.
– Suponhamos que voltem os jogos no pico pandêmico, um atleta se choca com outro no ar, bata a cabeça e precisa de uma UTI porque teve uma lesão mais grave, uma fratura. Corremos o risco de não ter UTI para atender, como não somos serviço essencial. Em que pese que o povo inteiro ama. Futebol sempre fez parte da minha vida e hoje, como presidente, faz da minha vida e do meu trabalho. Não estamos nem 60 dias em casa. Diante de tantos anos que a gente passa pelo mundo, tem tanta vida pela frente, por que não pode esperar só mais um pouquinho e voltar com mais segurança e preservando as pessoas? – concluiu.