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Mário diz que Fluminense acha vídeo inconclusivo em ofensa a Gabigol e relata que família sofre com racismo

Presidente do clube tricolor falou sobre a denúncia do jogador do Flamengo no clássico do último domingo; clube está apurando e em busca de imagens

Mário Bittencourt - Fluminense
imagem cameraMário Bittencourt, presidente do Fluminense, no CT Carlos Castilho (Foto: Mailson Santana/Fluminense FC)
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Lance!
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 07/02/2022
12:12
Atualizado em 07/02/2022
13:42

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Após a vitória por 1 a 0 do Fluminense sobre o Flamengo, no último domingo, o atacante Gabigol denunciou um torcedor do time tricolor por racismo. Em um vídeo, o jogador recebeu diversos xingamentos e em um vídeo alega ter ouvido uma ofensa racista ao ser chamado de "macaco". O clube das Laranjeiras se posicionou algumas horas depois do término da partida e, nesta segunda-feira, o presidente Mário Bittencourt entrou ao vivo no programa "Seleção SporTV" para falar sobre o tema. Ele pediu para participar após discordar da discussão sobre o assunto.

O principal ponto de questionamento foi na fala do repórter Luiz Teixeira, que afirmou que se o presidente do Fluminense fosse negro a nota oficial não duvidaria da acusação de Gabriel. Para se defender, Bittencourt afirmou "sentir na pele" porque sua esposa e sua filha já vivenciaram situações racistas.

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- Mostro minha indignação com uma frase dita que a nota do Fluminense não teria o teor que teve porque o presidente não é negro. Essa frase é tão ou mais discriminatória do que o que supostamente pode ter ocorrido ontem. Está fazendo juízo de valor de mim e da minha família. Tenho uma relação familiar profunda com o racismo porque minha esposa e a família dela são de origem negra e indígena. Ela já sofreu situações duras na rua com uma das minhas filhas. A mais velha tem um sinal de nascença dentro do olho que só acomete crianças descendentes de famílias orientais de origem negra. Tenho uma filha mais nova bem diferente da mais velha, mais parecida comigo, e por vezes sofre atos discriminatórios por ser diferente - afirmou.

- Estou indignado por querer rotular o clube e me rotular. Tanto eu individualmente por sofrer na pele e na família isso. E pelo clube, que tem sido engajado. Éramos o único clube da Série A com dois treinadores negros. No Dia da Consciência Negra usamos camisas em homenagem às personalidades negras. Temos uma série abordando o tema de forma profunda. Minha primeira fala é de indignação pela fala tão ou mais discriminatória que o que aconteceu ontem - completou.

Sobre as atitudes do Fluminense com relação ao caso, Mário Bittencourt afirmou que o clube está em busca das imagens e de depoimentos para apurar melhor a situação. Através do Twitter, Gabigol reproduziu a filmagem e um comentário, que questionava se o ato havia ocorrido ou se era 'uma impressão'. O jogador rebateu escrevendo 'impressão?'. O Flamengo também se manifestou em apoio ao atleta.

- A primeira vez que o Fluminense teve ciência do fato foi através da publicação de um ex-dirigente do Flamengo, o Antonio Tabet, uma pessoa que tenho ótima relação. Ele diz ter a impressão que o Gabigol sofreu uma ofensa racial. Analisando friamente, é inconclusivo. Pegamos o vídeo, passamos por várias pessoas do departamento jurídico e todos nós chegamos a conclusão, e também existem outros comentários nas redes sociais, achando que as palavras ditas não são aquelas que tiveram a impressão. Realmente achamos o áudio inconclusivo. O áudio precisa ser feito uma avaliação técnica sobre ele. O Gabigol está descendo para o intervalo do jogo e ainda faz o movimento de "xinga mais".

- Vocês disseram que a vítima se sentiu ofendida. Acho que se ele realmente ouviu essas palavras tem que buscar a autoridade policial e ir à delegacia se tem certeza do que ouviu e se sentiu realmente ofendido, como mostra nas redes sociais. A posição do Fluminense é que o áudio é inconclusivo. Solicitamos as imagens das câmeras. Apesar de não sermos o mandante, temos boa relação com o Botafogo e pedimos as imagens hoje. Nosso departamento jurídico já preparou um pedido de inquérito para mandar ao STJD para que apurem junto conosco e identificar o suposto autor da injúria racial. Juridicamente falando não temos nenhuma comprovação que a frase dita no meio do tumulto foi aquela que as pessoas acham que foi dita. Se aconteceu, repudiamos integralmente. Estamos apurando os fatos para descobrir quem foi.

VEJA AS OUTRAS RESPOSTAS DE MÁRIO BITTENCOURT:

MEDIDAS PUNITIVAS 

- A primeira vez que recebi o vídeo eu ouvi a palavra macaco. Depois recebi outras publicações e áudios. Coloquei o fone de ouvido para ouvir várias vezes e todos nós ficamos em dúvida. Nossa intenção é descobrir quem foi, coibir e punir. Se for sócio-torcedor ou contribuinte será punido. Não toleramos isso. Mas nossa nota em nenhum momento dá um passo atrás. Simplesmente diante dos fatos que temos na mão fizemos uma nota dizendo que vamos apurar profundamente. Estamos pedindo hoje que a Justiça apure. Já achamos que identificamos pelo menos um ou dois torcedores que podem ser os autores. Mas ficamos chateados com o fato de tentar rotular o Fluminense e colar um adesivo como se não fossemos preocupados com a causa.

- Nós temos como tomar medidas administrativas. Por isso falei que cabe ao Gabigol procurar autoridade policial se ele tem certeza das palavras e se sentiu ofendido. Ele precisa buscar a punição. O Fluminense pode denunciar e assim o fará se descobrir com prova concreta o que ele fez. Um inquérito aberto pode pegar as imagens das câmeras, pode pegar o depoimento das pessoas que estavam próximas. Em um pedaço do vídeo mostra que tem alguns seguranças de estádio de frente para duas ou três pessoas xingando o Gabigol. Vamos procurar ouvi-los porque não há esboço de reação de que tenha sido falado algo gravíssimo. Na nossa opinião, se o segurança está ali e ouve, ele tem a obrigação de conduzir coercitivamente a pessoa que fez isso. É outra coisa que nos coloca não dúvida, mas tem que entender porque três ou quatro seguranças não agiram. Não temos dúvida que houve xingamentos que acontecem no campo de futebol, a nossa dúvida é se a palavra dita pelo áudio não é uma confusão. Se o Gabriel ouviu de maneira clara e consegue identificar a pessoa que o fez, seria importante buscar autoridade policial. Estamos fazendo a nossa parte como clube de tentar apurar tudo que aconteceu. Fizemos uma nota dizendo que repudiamos, se isso realmente aconteceu vamos buscar todas as medidas cabíveis. Mas até aquele momento pelo áudio havia dúvida.

DUVIDANDO DA PALAVRA DA VÍTIMA?

- Não entendemos. Em nenhum momento estamos duvidando de nada, mas não temos como instituição a prova concreta. Uma jornalista faz um vídeo lá de cima e diz que tem certeza que isso aconteceu. Um influenciador comenta dizendo que teve a impressão. Só depois a vítima vem e reclama. A gente entende que ele possa ali quando desceu não ter ouvido nada e pelo vídeo entendeu diferente. Porque ele desce pedindo mais, porque a maioria das pessoas estavam falando aquelas coisas de futebol, de torcedor, como fizeram com jogadores nossos. Nosso posicionamento é no sentido que óbvio que entendemos e acreditamos na palavra do Gabriel, mas o que temos de dados completos é um vídeo de uma distância longa com uma palavra que parece ser. Ele se manifesta depois do vídeo. Respeitamos e entendemos o posicionamento dele. Esperamos que ele nos ajude a identificar. Se ele se lembra quem foi, que possa dizer publicamente para a gente averiguar. Podemos excluir do quadro societário do Fluminense. Se realmente ocorreu é uma conduta criminosa. Vamos colher as provas que temos e encaminhar para a autoridade competente. Já nos posicionamos dizendo que o Fluminense não tolera isso e vai apurar. Desvendando, mais uma vez vamos nos posicionar com dados completos. A Ferj também falou em "suposto" xingamento racial. Porque as pessoas não tem certeza. Isso não é duvidar da palavra dele. Ele pode ter ouvido uma coisa e a pessoa falou outra. Talvez ele não tenha ouvido isso quando desceu e viu depois no vídeo. Temos dúvida, mas não da palavra da vítima.

HOMOFOBIA CONTRA TRICOLORES

- É uma postagem de rede social, eu estava no estádio e não ouvi. Já tinha visto ontem. Da mesma maneira que vamos pedir a apuração sobre a questão do Gabigol, vamos buscar também que o Tribunal de Justiça analise esse caso. Até porque Fluminense e Flamengo já foram réus de processos no ano passado por cantos homofóbicos na arquibancada. Fazemos um trabalho incessante e acredito que o Flamengo também faça, dizendo que não existe mais espaço para isso. Nos posicionamos para controlar isso. Mas como no meio de 20 mil pessoas os clubes podem controlar. Mas fazemos campanhas e em casos específicos buscamos quem são os autores das ofensas. Estamos buscando todos os caminhos para encontrar e punir exemplarmente. Que a Justiça puna como deve ser feito em qualquer sociedade com pessoas de bem.

NOTA OFICIAL

- Participei da aprovação da nota, mas passa pelo jurídico, comunicação e outras pessoas sempre com o cuidado de preservar problemas futuros para a instituição. Meu posicionamento pessoal, porque sofro isso dentro de casa, não é sempre igual ao da instituição, que precisa apurar os fatos antes de se posicionar.

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