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‘M. Oliveira foi uma das melhores escolhas que fizemos’, avalia Angioni

Em entrevista exclusiva ao LANCE!, diretor executivo de futebol abriu o jogo sobre a crise política e financeira do Fluminense, elogiou o treinador e projetou a temporada de 2019

Diretoria do Fluminense na apresentação de Paulo Angioni e Marcelo Oliveira
(Lucas Merçon / Fluminense F.C.)

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O período de parada para a Copa do Mundo foi de grandes mudanças para o Fluminense. Além da saída de Abel Braga do comando técnico da equipe, Paulo Angioni também assumiu a lacuna deixada por Paulo Autuori como diretor executivo de futebol do clube. Quando tudo parecia caminhar para o caos, o dirigente normalizou o ambiente. Substituir o antigo treinador não foi missão fácil, como avalia o próprio, mas a decisão de contratar Marcelo Oliveira se mostrou acertada. Em entrevista exclusiva ao LANCE!, Angioni avaliou o os quase quatro meses de trabalho e exaltou o atual comandante.

- A minha análise é muito simples. As escolhas que foram feitas, principalmente na direção técnica, foram muito positivas. Não é fácil substituir um profissional do nível do Abel Braga. Enxergamos o Marcelo Oliveira, ele entendeu a dificuldade do Fluminense, porque é um treinador maior do que o que podemos ofertar agora. Entendeu o processo e acreditou no que foi passado para ele. O grande êxito do clube, que é um grupo comigo, o presidente, o vice de futebol. A participação deles foi efetiva e tivemos sucesso com o Marcelo. Ele é muito sereno, dificilmente aumenta a voz, tem diálogo, consegue fazer com que as pessoas acreditem no que ele está fazendo - disse.

Marcelo Oliveira no Flu:
- 10 vitórias
- 5 derrotas
- 5 empates

- Já deu para perceber o respeito e a gratidão que as pessoas tem com ele. O Digão fez um gol recentemente e o abraçou. Ele é uma pessoa imensa de grande, com capacidade de viver muito bonita. Tenho certeza que foi uma forma de mostrar sua gratidão ao Marcelo. O Digão veio por causa dele, que participou apenas ele desta contratação. O treinador trouxe a ideia, falou comigo e o zagueiro foi generoso e aceitou vir para o Fluminense sem exigir nada. São pessoas grandes. O Marcelo Oliveira foi uma das melhores escolhas que fizemos - completou.

Sobre as negociações para manter o treinador em 2019, porém, Angioni adotou cautela. Até o final do ano, o Tricolor ainda faz pelo menos 12 partidas. Se avançar na Sul-Americana, ainda terá os dois jogos da semifinal e da final pela frente. Internamente, o trabalho de Marcelo Oliveira é visto com bons olhos. 

- Ainda é cedo para tratarmos disso. O foco é todo nas competições que estamos disputando. Sabemos da responsabilidade. Não estamos tratando nada com ele, apenas alguns jogadores. Ele participa de uma consulta ou outra de mercado - avaliou.

Clima político e blindagem do elenco

Se dentro de campo o time parece ter encontrado um caminho de vitórias, fora dele a situação do Fluminense ainda é muito complicada. Além dos salários atrasados - ainda com dois meses sem receber e três de direito de imagem -, o presidente Pedro Abad passa por um processo de impeachment. Paulo Angioni garantiu que o distanciamento do CT Pedro Antonio, na Barra da Tijuca, e das Laranjeiras ajuda a blindar o grupo, mas exaltou o caráter do elenco.

- A parte política e salarial são distintas. A primeira até hoje não teve nenhuma interferência. O Fluminense tem hoje um distanciamento muito grande da onde tem o processo político, que são as Laranjeiras. Os salários atrasados, já vivi em outras instituições e me trouxe alguns problemas. No Flu, não aconteceu nada disso. Temos um grupo dócil, compreendedor e que, quando faz qualquer tipo de reivindicação, faz dentro de uma lógica bem saudável, sem trazer consequência para o resultado. Faz um contraponto adulto - disse.

'Temos um grupo muito especial, com lideranças extremamente satisfatórias e bem atuantes'

- Sentamos, conversamos, esclarecemos as coisas e há um entendimento. Com isso vamos convivendo de forma salutar. Temos um grupo muito especial, com lideranças extremamente satisfatórias e bem atuantes, mas com nível de compreensão e entendimento altíssimo. Eles enxergam o Fluminense e tudo que está em torno. O futebol brasileiro atravessa uma crise financeira muito grande, tem várias instituições com problemas até maiores do que o nosso. Eles entendem isso. O ambiente é muito bom - completou.

Sobre os prazos, o dirigente garantiu que o clube cumpriu com todas as datas que foram dadas. Porém, fez coro à declaração de Pedro Abad com relação a determinação de um momento para quitar as dívidas. Angioni ainda se mostrou otimista para uma melhora da situação atual.

- Estamos em uma ordenação muito grande. O presidente é incansável nesse aspecto, ele busca muito as soluções. Temos uma viabilidade grande nos salários de agosto e estamos equacionar o mais rápido possível. Temos ações que nos dão tranquilidade para isso acontecer em um curto espaço de tempo. As perspectivas são sempre discutidas. Não damos prazos, damos a realidade e as ações que estamos fazendo para alcançar os objetivos - disse.

Marcelo Oliveira e Paulo Angioni
Angioni chegou ao Flu em junho (Foto: LUCAS MERÇON/FFC)

'Com certeza vão surgir propostas por Marcos Paulo'

As categorias de base do Fluminense sempre revelaram muitos jogadores para o futebol brasileiro e mundial. Atualmente, dois nomes estão em evidência: os atacantes João Pedro e Marcos Paulo, do sub-17. O primeiro já tem venda encaminhada para o Watford, da Inglaterra. A negociação, inclusive, é considerada fundamental para que o Flu consiga quitar as dívidas salariais. O jovem deve se transferir apenas em 2020 por conta da idade.

Já o segundo tem uma multa rescisória de R$ 205 milhões e foi convocado pela base da seleção portuguesa para treinos e amistosos. Ele já defendeu as seleções sub-17 e sub-18 do Brasil. Ele terá até os 18 anos para escolher qual país vai querer defender no futuro. Hoje com 17 anos, o atacante tem contrato com o Flu até o meio de 2020.

- O Fluminense faz um trabalho muito bom na base, é um clube revelador, vendedor. Já tem uma tradição de vendas bem sucedidas, tanto financeiramente quanto pelo sucesso dos jogadores que saem do Flu. Isso tudo pulveriza de uma forma positiva o mercado internacional. Os jogadores do Tricolor são sempre muito bem monitorados. A situação de venda, não tem outra alternativa - disse.

- Hoje temos duas receitas importantes, televisão e as negociações. Alguns jogadores se sobressaem muito rapidamente, como é o caso deles dois. Com isso, cresce muito a visibilidade deles e o negócio acontece. Essa ação do João Pedro é muito jovem. Com o Marcos Paulo, acredito que a saída dele para a seleção portuguesa vai dar mais consistência em uma venda precoce. É um jogador que está sendo visto. Se ele confirmar tudo aquilo que vem fazendo no Flu, é outro que deve ter procura por ele. Se o clube vai vender, eu não sei, mas com certeza vão surgir propostas - afirmou.

Marcelo Oliveira e Paulo Angioni
Angioni, pelo Fluminense (Foto: LUCAS MERÇON / FLUMINENSE F.C.)

Veja outras respostas da entrevista:

A torcida sempre questiona sobre Daniel e Cabezas. Por que eles jogam pouco?

O único jogador que chegou e ainda não teve oportunidade foi o Cabezas que estava precisando de adaptação. Hoje ele já está melhor. O que afasta ele de uma estreia foram duas lesões quase seguidas. Isso não é difícil de explicar. O Bryan teve necessidade maior de adaptação e ainda não teve a chance de se mostrar. Não é culpa do treinador, é muito mais pela organização dele com ele mesmo. É a adaptação ao futebol brasileiro e a recuperação das lesões.

O Daniel chegou já no meio do processo do meio do ano, quando o corpo da equipe já estava mais organizado pelo Marcelo Oliveira. Fizemos uma opção de trocar ele pelo Luquinhas. O Daniel tem uma formação da base do Fluminense, tem expectativas e, por isso, veio. As chances vão surgir, como aconteceu contra o Paraná. Isso dá valor a ele. Acredito que é só questão de tempo até que ele tenha mais oportunidades.

Como fazer para negociar com tão pouco dinheiro?

As negociações não são difíceis. Não sou diferente dos outros. O Paulo (Autuori) é um profissional de altíssimo nível, mas eu transito nessa área há muito mais tempo. Ele era um treinador que incorporou um conceito novo no futebol de uma coordenação. Não sei nem especificar se essa realmente era a função dele, o que eu enxergava de fora era que ele fazia o papel muito mais de um coordenador técnico do que de uma pessoa para ir ao mercado. O Fluminense tem um setor de inteligência que faz todo esse processo através do Ricardo Correia. Tenho uma facilidade maior pelo laço de relacionamento, entendimento e credibilidade de busca. Foi assim no Cruzeiro e no Corinthians com Digão e Junior Dutra. O Paulo Roberto, por problemas familiares, preferiu ficar em São Paulo, mas também seria um nessa situação. Teria uma facilidade de trabalhar melhor uma questão de salário compatível com o Fluminense. É uma questão de relacionamento. Em relação aos outros jogadores que chegaram, minha participação não foi tão efetiva financeiramente, mas muito mais no relacionamento. Com exceção do Bryan Cabezas, que eu não tinha ninguém conhecido na Atalanta (ITA).

Mais algum jogador que ficou perto de fechar mas também teve problemas?

Que eu me recorde, não. Aqueles que fomos atrás não tiveram nenhum problema parecido com o Paulo Roberto. Ele era muito mais um problema pessoal familiar dele, não financeiro. Posso ter ido em algum outro, mas não houve a compatibilização financeira para fechar o negócio.

Houve um problema na montagem do elenco, pois são 12 atacantes e dois meio-campo. Como está sendo trabalhado? Como equilibrar?

Eu nunca coloco a palavra erro. Futebol não é uma ciência exata. Houve uma busca que pode ser que alguns casos, principalmente os atacantes, vieram profissionais da base. Isso inchou um pouco a posição. O Luciano é um jogador que faz três posições do meio para frente, o meio de chegada, os lados do campo e o camisa 9. O Junior Dutra faz os dois lados e o centroavante. O Marcos Junior também faz, joga dos dois lados e o meio. Há uma variedade de atacantes que fazem múltiplas funções. Não vejo um inchaço. Vejo como uma fartura de jogadores que servem o Fluminense e o treinador. O que você não tem é um 9 específico a não ser o Pedro. O time está bem servido, tem variedades. Tem o Marquinhos Calazans voltando, o Matheus Alessandro.

O planejamento para o ano que vem já está sendo feito? Quais são as posições mais carentes?

Se eu entrar no aspecto da carência, começo o processo especulativo. Aí, aparecem várias pessoas oferecendo jogador. Sabemos quais são essas carências. Com certeza já estamos olhando para 2019, temos alguns assuntos internos de renovação de contrato. Estamos conversando com os representantes dos jogadores para que possamos acelerar isso o mais rápido possível. Estamos olhando para o mercado, até porque tem uma oportunidade para potencializar as ações. Temos um mapeamento, fica mais fácil, sabemos quais são os jogadores que podem nos interessar e estão terminando o contrato agora ou aqueles que precisamos ir aos clubes. Estou trabalhando incansavelmente com o Ricardo (Correia, chefe de observação técnica do Fluminense) e passando algumas situações para o treinador e a direção.

O quanto um título mudará o planejamento para 2019?

Tudo que estamos fazendo, olhando o mercado, analisando possibilidades, está dentro de uma imagem de um clube que vai procurar vencer. Não contratamos ninguém para perder. Ganhar o título será uma satisfação imensa para todos. O segundo passo já estamos dando, vamos fortalecer, ver quais são as posições com mais dificuldades. Acredito que não modifique muito. Não prejudica ou dá a necessidade de rever, mas aumenta a responsabilidade.

Tem algum outro jogador da base que possa ter uma venda precoce?

Todos que tem a marca "seleção brasileira" (ou portuguesa, como o Marcos Paulo) são jogadores que são vistos no mercado. Nos amistosos e nas competições, todos os observadores estão presentes. Isso aumenta a possibilidade de venda. Mas temos muitos bons jogadores no Fluminense. Essa geração do sub-17 e sub-15 tem fartura de bons atletas.

Houve uma repercussão negativa após o Caso Scarpa. Chegou até você isso? Como foi tratado dentro do Fluminense essa nota?

Gosto sempre de responder tudo. Mas essa situação do Scarpa eu não participei de nada. Está muito ligado ao jurídico do clube e quem cuidou da área de comunicação foi o grupo ligado à instituição, não tenho acesso.

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