Recordar é viver! Há 10 anos, Washington estreava no Fluminense
Ao LANCE!, Coração Valente relembra momentos marcantes uma década após o primeiro gol marcado nas Laranjeiras. Ele fala dos Três Tenores, Henrique Dourado, Unimed...
Na última sexta, o Fluminense iniciou a temporada 2018 vendo seu camisa 9, insatisfeito, pedir transferência. Mas há exatos dez anos, a situação era bem diferente. No dia 13 de janeiro de 2008, o atacante Washington entrava em campo pela primeira vez com a camisa tricolor. Era o ínicio de uma parceria que deu muito certo dentro e fora dos gramados.
- Rapaz, faz dez anos hoje? Não sabia não! - disse Washington ao LANCE!, feliz em relembrar o dia, que coincide com outra data marcante.
- Achei que você ia me perguntar de aposentadoria. Foi nessa mesma data (13 de janeiro de 2011) que me despedi do Flu pela última vez.
A despedida do futebol, anunciada três anos depois da estreia, veio como um baque para o atacante aos 35 anos, que pretendia jogar mais uma temporada. Ao contrário do que muitos pensam, os problemas cardíacos não tiveram influência. Na verdade, o Fluminense sempre fez bem ao coração do camisa 9. E ele lembra como bateu forte na primeira vez em que vestiu as três cores.
'Quando vesti a camisa, senti que era diferente do que tinha sentido antes. Deu tudo certo, encaixou mesmo'
- Lembro, claro. Fui muito bem recebido no primeiro dia. Começamos pré-temporada com um grupo muito bacana, de qualidade. A amizade do grupo facilitou a adaptação. E quando vesti a camisa, já senti que era uma coisa diferente do que tinha sentido antes. Deu tudo certo: combinou meu jeito de jogar, estilo de vida e jeito de pensar o futebol com a camisa do Fluminense. Encaixou mesmo - disse o 'Coração Valente', que não recordava ao certo qual era o adversário da estreia, mas lembrava ter deixado o dele.
A primeira partida de Washington foi ainda na pré-temporada de 2008, dias antes do início do Carioca. O Fluminense foi até o Espírito Santo enfrentar o Desportiva. O centroavante abriu o placar no primeiro tempo em sobra na área e Thiago Neves, de voleio, também deixou sua marca. Lembra como foi?
Washington não era o único estreante naquela tarde. Além dele, o Fluminense havia contratado outros nomes de peso para a disputa da Libertadores: tirando Conca, que chegaria semanas depois, o lateral Gustavo Nery (ex-Corinthians) e os atacantes Leandro Amaral (ex-Vasco) e Dodô (ex-Botafogo) estavam em campo. Era o começo de um trio de ataque que jogou pouco tempo junto, mas que deu muitas alegrias aos tricolores no primeiro semestre daquele ano.
'Entrosamento veio rápido, era muito fácil jogar com Dodô e Leandro Amaral. Tínhamos um poder ofensivo muito grande'
- O entrosamento veio muito rápido, principalmente pela qualidade dos três. Todos chegaram num bom momento. E é muito fácil jogar com Dodô e com Leandro. Quando começamos o Carioca fizemos gols em quase todos os jogos. Quando não era os três marcando, pelo menos dois faziam. O Fluminense tinha um poder ofensivo muito grande. Mas durou pouco, né. Teve a situação do Leandro (por problemas de contrato, voltou ao Vasco) e também a suspensão do Dodô (por doping).
O trio durou pouco, é verdade. Mas teve algum momento que não sai da sua memória quando jogaram juntos?
'Se tivesse mantido, daríamos muitas alegrias. O adversário vinha jogar contra morrendo de medo'
- Ah, muitos. Teve um jogo contra algum time no Carioca (era o América-RJ) que todos os três fizeram gol. Foi 6 a 1. Esse jogo não esqueço, mostrou todo o poder ofensivo com os três atacantes. Foi quando mostramos a força do Fluminense naquele momento. Se tivesse mantido, daríamos muitas alegrias. Depois daquilo, o adversário vinha jogar contra a gente morrendo de medo.
Naquela época, diferente de hoje, poucos times usavam esquema com três atacantes. Foi uma novidade para vocês?
- Verdade, a maioria dos times brasileiros era armado no clássico 4-4-2. Jogar com três goleadores que marcavam pouco era difícil. Hoje é mais fácil jogar assim. Naquela época ainda não tinha essa história de trio MSN, BBC, nem nada. Nos primeiros jogos juntos, tivemos algum apelido, acho que era 'Três Tenores', 'Três Mosqueteiros', não lembro. Pro treinador escalar três atacantes juntos tinha que ser corajoso e o time precisava ter qualidade.
E o treinador era Renato Gaúcho...
- Isso, Renato Gaúcho. Sempre teve a coragem como diferencial. Muita qualidade no comando, era audacioso.
E como você vê o time de hoje, após perder os principais jogadores de ataque, em comparação com aquela equipe?
- É dificil comparar. Naquela época tinha um patrocinador forte (Unimed) e financeiramente não tínhamos problema, ao contrário de hoje que o clube está passando por dificuldades muito grandes. Isso reflete dentro de campo...
Você, como camisa 9 e artilheiro, o que tem a dizer sobre a atual situação de Henrique Dourado pedindo para sair?
'Só estando lá pra saber. Fluminense era forte economicamente, agora não é assim'
- Não dá pra saber... Dourado deu essa entrevista praticamente definindo sua saída. Com certeza são momentos diferentes, então a comparação é difícil. Só estando lá pra saber. O Fluminense era forte economicamente pela patrocinadora e agora não é assim. Tínhamos contratações caras, de estrelas, e hoje não tem tanto isso.
Isso deixa a torcida chateada...
'Foram anos do Flu brigando por títulos. Quando não ganhava, estava na briga. Hoje se pensa diferente'
- Não só a torcida, nós que jogamos por lá ficamos chateados também. Quando eu olho, vejo que inverteu. Fluminense criou anos brigando por títulos, teve a final da Libertadores, ganhamos Brasileirão depois, Copa do Brasil antes. Quando não ganhava, estava na briga. Hoje já se pensa diferente. Tentando escapar de rebaixamento.
Então o coração do Coração Valente ainda bate pelo Fluminense, certo?
- Ah sim, foi um dos três clubes clube que mais me marcou. O Atlético-PR e a Ponte Preta também estão no meu coração.