Títulos, gratidão e aposentadoria: Ricardo Berna abre o coração ao Flu

Goleiro fará a sua despedida neste sábado e conversou com o LANCE! sobre os principais momentos da carreira. Pelo Fluminense, conquistou três títulos nacionais

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Apenas um jogador na história do Fluminense possui três títulos nacionais. Campeão Brasileiro em 2010 e 2012, e da Copa do Brasil em 2007, o goleiro Ricardo Berna fez história defendendo a equipe durante oito anos. A despedida está próxima e será no aniversário do clube, neste sábado, na "FluFest", onde fará um jogo comemorativo ao lado de ex-jogadores, artistas e amigos. Em tom de agradecimento, o goleiro conversou com o LANCE! sobre o simbolismo de uma despedida em Laranjeiras. 

- É um marco importante, fechamento de um ciclo e o começo de outro que vai se iniciar a partir de agora. É importante para marcar esse momento, viver essa experiência. Já vi outros atletas que passaram por isso, cria um marco, uma referência, me sinto privilegiado por poder vivenciar e sou muito grato ao Fluminense por tudo que me proporcionou até esse momento.

Ricardo Berna é o único que pode afirmar que esteve nos três títulos nacionais oficiais do Fluminense - destaque para Gum que também conquistou três, mas a Primeira Liga não foi oficializada pela CBF. O goleiro cita o Brasileirão de 2010 como o mais emblemático deles, em um ano onde também ficou sabendo da gravidez da sua esposa e terminou assumindo a titularidade na reta final. 

- O título em 2010 foi o momento de maior afirmação na minha carreira e vida. O Muricy (Ramalho) me lançou como titular, éramos líderes do Campeonato Brasileiro, e lembro que eu era o terceiro goleiro na parada do meio de ano. O Conca, um dos grandes amigos que a bola me proporcionou, sempre falou para eu não desistir e trabalhar. Eu comprei a ideia dele.

A temporada de 2010 também rendeu a frase mais emblemática da carreira de Ricardo Berna. "Isso vai ajudar o Fluminense a ser campeão? Não? Então para mim não interessa", disse após um empate sem gols contra o Internacional, no Beira-Rio. A resposta do goleiro virou um lema da equipe na caminhada para o título brasileiro e é lembrado até os dias atuais pelos torcedores. 

- Lembro que a pressão era grande e o Muricy tinha me colocado como titular quando estávamos em primeiro lugar. Eu nunca vi isso acontecer, o time ser líder e mudar o goleiro. Falava-se na chegada de outro nome para a posição e fui para aquele jogo sabendo que seria difícil. O Inter estava se preparando para o Mundial e saí de campo feliz pelo ponto conquistado. Os repórteres vieram  e saiu naturalmente. Falei de coração, foi o que eu estava sentindo. 

Berna defendeu o Flu de 2005 a 2013 (Foto: BRUNO HADDAD/FFC)

Berna viveu um período vitorioso na história do Fluminense, mas a situação atual do clube é mais complicada. Com problemas financeiros, as grandes estrelas ficaram de lado para apostar nas categorias de base. Berna tenta ver o lado positivo da situação, rasga elogios a Pedro e espera poder ajudar o clube fora de campo em breve. 

- Hoje o momento do clube é bem diferente, vejo o Gum, o Marcos Junior, o próprio Digão, que tem uma identidade maior. Eles são os grandes líderes nesse momento. Não é por não ter elenco teoricamente qualificado que não existem grandes jogadores. Vemos talentos surgindo como o Pedro, comentei com a minha esposa que gosto da forma que ele define os lances. Ele vem mostrando a cada partida o seu valor e qualidade.

Confira outros trechos da entrevista do LANCE! com Ricardo Berna:

LANCE!: Você faz a sua despedida na FluFest. Qual a análise que você faz da carreira e principalmente da passagem pelo Fluminense?

Ricardo Berna:
Se eu for avaliar quando meu pai foi me levar para fazer a minha primeira avaliação e hoje como encerrou como profissional, eu me sinto vitorioso. Sempre fica aquela máxima de 'se eu tivesse aquela experiencia naquele momento', mas não é assim que funciona. Deus dá um dom para cada um. Para mim, graças a Deus ele me deu muitos dons e um deles foi jogar futebol. Aprendi a gostar disso, aprendi a amar isso e me aperfeiçoar.

Você é o maior campeão nacional da história do Fluminense, o único com três títulos. Você se considera um ídolo da torcida?

Essa questão de idolatria não é algo que alguém possa se considerar, talvez possa sentir a resposta que vem das pessoas. No meu caso, o vínculo que eu criei com o Fluminense e a forma que me entreguei como melhor , tenho certeza que muitos torcedores se identificaram. As marcas que alcancei também favorece que muitas pessoas me considerem como tal. Se você me perguntar se me sinto merecedor, eu me sinto.

Ricardo Berna atuou na reta final de 2010 (Foto: Bruno Haddad/FFC)

A derrota na Libertadores de 2008 foi o momento mais triste da sua passagem pelo Flu?
Aquela Libertadores, perder no Maracanã, da forma que aconteceu. Reverter placar elástico e perder nas penalidades. Foi um momento muito triste para se lembrar. Chorei igual criança, chorei igual poucas vezes na minha vida. Muitos sentiram aquele vice-campeonato. Foi um feito grande mostrar o nosso poder de reação, pena que não veio o título. 

-Como é a relação da sua família com o Fluminense? Herdaram a ligação de Ricardo Berna com o clube também?
É inevitável. Quando tem jogo do Flu e estou ocupado, a minha esposa acompanha e me avisa. A gente acaba acompanhando, a identificação acontece e passa a fazer parte da nossa vida. Foi muito tempo que vivi ali e aprender como tudo funciona, conhecer a história, tudo isso gera uma identidade. 

O Fluminense mudou muitas coisas nessa parada para a Copa do Mundo, inclusive com a saída do Abel. Você acha que o time ainda pode brigar por Libertadores? Ou a luta é mais em baixo

Acredito que uma mudança significativa e grande como essa no meio do campeonato influencia bastante. Isso não quer dizer que os jogadores não vão dar conta de manter um bom nível ou conseguir coisas maiores, mas é um desafio maior. Chegou um grande gestor, um cara que tem uma bagagem tremenda, que vai estar desenvolvendo um trabalho de excelência e dar condição para os atletas trabalharem. 

A pergunta é feita para todo tricolor, mas você é o único jogador que pode responder por ter participado de ambos os momentos: trocaria os dois títulos brasileiros pela Libertadores?

Ser campeão da Libertadores proporcionaria disputar um Mundial, mas não sabemos o que aconteceria lá. Trocaria dois bons momentos por um grande momento? É uma incógnita muito grande, acredito que tudo acontece como deveria. Não trocaria os títulos porque vieram momentos importantes para a história do clube. 

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