menu hamburguer
imagem topo menu
logo Lance!X
Logo Lance!

Atleta do Atlético-MG dividia tempo entre campo e trabalho com obras

Meia compartilha momentos de superação para sustentar sua família

Leticia-Pires-Galo-aspect-ratio-512-320
imagem cameraLetícia Pires em treinamento com o Galo (Foto: Daniela Veiga / Atlético)
Avatar
Agnes da Silva Rigas
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 19/04/2025
12:58

  • Matéria
  • Mais Notícias

Letícia Pires, meia de 24 anos, atualmente joga pelo Atlético-MG, teve um início de carreira complicado, comum no futebol feminino. A atleta dividia o tempo em campo com o trabalho nas obras. Seguindo duas profissões por necessidade, a atleta conta que teve dois empregos por determinado tempo para ter o que comer, local para morar e dinheiro para comprar o que vestir. 

continua após a publicidade

- A obra foi algo que me ajudou muito, porque quando eu não estava no esporte, foi o que me sustentou por dois anos - compartilhou.

➡️ Tudo sobre o Galo agora no WhatsApp. Siga o nosso canal Lance! Atlético-MG

Durante a pandemia de Covid-19, as profissionais do futebol femino sofreram muito mais do que a modalidade masculina. Viver em uma realidade em que o esporte é negligenciado fica ainda mais assustadora em uma era pandêmica, viu seus sonhos se distanciando e a pressão de como sustentar um lar aumentavam a cada instante. Com sua mãe desempregada, a atleta do Atlético-MG teve que abraçar as habilidades em obras para poder ter o seu sustento. 

- Minha mãe estava desempregada. Depois da pandemia, tudo foi um processo. Tudo aumentou, os alimentos aumentaram e para manter foi complicado. Então, (a obra) foi um desafogo - disse Pires.

continua após a publicidade

O início foi um caminho tradicional entre as meninas que resolveram escolher o futebol como profissão. Começou dividindo quadra com os meninos, jogando futsal em Capão Redondo, na periferia de São Paulo. Com isso, a atleta do Atlético-MG não parou de se destacar mesmo entre os meninos e sua mãe, dona Marilene, resolveu dar tudo o que ganhava como auxiliar de limpeza para ver a filha desbravar o mundo do futebol feminino. 

- Comecei com faixa de 11 a 12 anos, na rua mesmo, na rua descalça. Sou de São Paulo, capital. Quando precisei lá no início, ela (a mãe) contava as moedinhas para eu poder jogar salão. E eu nunca vou esquecer isso, porque isso tem que me motivar, tem que motivar para levar algo pra casa. Pra mim, sempre é isso. Ela é quem me motiva hoje.

continua após a publicidade

Aos poucos, com os investimentos e oportunidades, Letícia foi saindo da quadra e entrando em campo. Não demorou muito até que sua estreia em um time profissional acontecesse.

- O meu professor de educação física me indicou para uma escolinha em 2014, onde eu passei cinco a sete anos da minha vida ali, foi um projeto do Vila Guarani, em São Paulo. Eu saí da Craques do Futuro, que foi no Salão, e passei a jogar campo. Depois fui para o primeiro clube profissional, o Foz Caracas, em 2017. É doideira, porque eu saí (de casa) menor de idade. Foi uma responsabilidade grande estar longe da minha família -  compartilhou Letícia.

- Eu não achei que era assim o futebol, de pressão o tempo inteiro, ter que ter resultado o tempo inteiro, porque naquela época, eu joguei a A1 (elite do Brasileirão Feminino), e eu não sabia de nada do futebol. Uma coisa é você jogar categoria de base, porque a cobrança ali não é tanta, mas eu acho que cada clube que passei me fez forte para chegar até aqui hoje. Depois joguei na Portuguesa, aí fiquei os dois anos ali parada -

A atleta do Atlético-MG ainda comprovou que seus dois trabalhos andavam juntos por diferentes momentos da vida. Quando ainda atuava pela Portuguesa, conheceu seu amigo e agora padrasto, Francisco Edivaldo, conhecido como Pica-Pau, que a fez relembrar de seus tempos de obra quando lhe pediu ajuda na reforma do CT do Caju.

- Depois de muito tempo, na pandemia, eu conheci o famoso pica-pau, que é meu padrasto e meu melhor amigo. Ele também estava precisando de uma ajuda na sede onde eu treinava, no Caju, em São Paulo. Ele pediu ajuda e eu também ajudei. Eu não estava atuando, então, aquilo ali foi um mecanismo de me ajudar muito, na parte financeira e a obra dá muito dinheiro. Para quem não sabe, a obra dá muito dinheiro. E ele é um cara que sabe de tudo, faz de tudo - disse a jogadora.

Em dois anos, Letícia conseguiu a sua “independencia” das obras. A atleta, por muito tempo, ainda equilibrava a rotina no Atlético-MG com o outro trabalho. Ela e a mãe têm o sonho de comprarem uma casa, que ficou distante de realizar pela pouca valorização no esporte profissional.

- Foram dois anos. Tive uma proposta para estudar nos Estados Unidos. Aí ganhei uma bolsa de inglês e estava fazendo faculdade de educação física. Só que em um ano desse processo, vou falar pra você, acho que foi um ano que fiquei mais depressiva, porque eu trabalhava na obra, eu fazia o curso de inglês e fazia faculdade em EAD. Eu fiquei maluca da cabeça. Então, foi um processo muito difícil pra mim, ter que parar de jogar bola, ter que só focar em partes para não passar necessidade em casa, porque depois da pandemia, muita coisa se perdeu no meio do caminho, então pra mim foi uma decisão difícil. - declarou.

Pires conta que seus dias de glória voltaram quando teve sua oportunidade no Athetico Paranaense. Com a ajuda da treinadora Rosana Augusto, pode retornar aos gramados e se manteve no time por dois anos. Mas, ainda se via na obrigação de ter os dois empregos para manter a ajuda a sua família.

➡️Mulher de Bruno Henrique se afasta do ‘flaesposas’ durante investigação

- Desde 2021 voltei a atuar no futebol. E é aquilo, o trabalho na obra diminuiu um pouco. No final de 2022, eu passei duas temporadas no Bragantino e fui campeã Brasileira (na Série A2). O futebol, por mais que esteja valorizado, é um pouco difícil. Minha mãe foi aposentada agora, depois de muito tempo. Então, nos últimos anos tive que ajudar em casa, eu tive que tomar decisão. Faz um ano que minha mãe está morando de aluguel, então a aposentadoria dela vai tudo para aluguel -. 

- Para poder comer, para poder viver, tem que vir de fora. Então, tem que ser da minha ajuda e depois que eu comprei o apartamento deu uma aliviada por saber que uma hora a gente vai sair do aluguel. (O apartamento) está para ser entregue a chave mês que vem, então ela está super ansiosa. Eu também estou muito ansiosa, porque já faz um ano e oito meses que eu estou pagando e não vejo a hora de falar, “ufa, é um gasto a menos, agora vamos se organizar para outras coisas -.

Letícia Pires – Galo 2

Atualmente, com os trabalhos na obra reduzidos, a atleta tenta focar mais no Atlético-MG, mas ainda ajuda seu padrasto quando pode. No momento, o foco é a estreia pelo Galo contra o Botafogo, pelo Brasileiro Série A2.

"Meu primeiro objetivo no Galo é fazer bons jogos e o acesso. Porque a gente precisa estar na elite do futebol. O segundo passo é ser campeã. Em questão de obra, eu acho que eu até penso, mais lá na frente, uma casa de construção. É voltado à mim. Porque eu sei que daria muito bem em questão de vender material de construção, e ajudaria muito meu melhor amigo (o padrasto)."

Mais lidas

Newsletter do Lance!

Fique por dentro dos esportes e do seu time do coração com apenas 1 minuto de leitura!

O melhor do esporte na sua manhã!
  • Matéria
  • Mais Notícias