Ao LANCE!, Camilo fala sobre rebaixamento da Chape e planeja 2020: ‘Quero trabalhar’
Meia de 33 anos conversou sobre inúmeros tópicos de sua carreira
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Na última década, o futebol brasileiro pôde acompanhar uma ascensão meteórica de uma equipe totalmente desconhecida, do interior de Santa Catarina, que rapidamente caiu nas graças do Brasil: a Chapecoense. Com seus altos e baixos, os guerreiros da Arena Condá cativaram os amantes do esporte ao redor do país, até o triste fim do auge da equipe com o acidente aéreo.
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Um dos grandes responsáveis pelos primeiros passos da equipe de Condá na primeira divisão foi um meia habilidoso, de cabelos encaracolados e de jeito discreto. Camilo, camisa 10 e arquiteto do time. Rapidamente, o jogador ganhou notoriedade nacional e rumou ao Botafogo, onde se destacou tanto que recebeu até um fã clube: as "Camiletes".
Mas a história de Camilo no futebol começou muito antes do que as pessoas pensam. Tudo começou em um projeto social na Cidade de Deus, uma das favelas mais famosas do Rio de Janeiro. Bastou uma oportunidade de fazer um teste no América-RJ para dar os primeiros passos em sua carreira. Era só o começo de uma longa, árdua e até, de certa forma, improvável trajetória.
O meia conversou com o LANCE! e falou sobre diferentes assuntos. Sem clube, após rescindir com a Chapecoense ao fim do Brasileirão 2019, o atleta de 33 anos contou como foi sua chegada no clube da Arena Condá em 2014, quando o clube tinha acabado de chegar na primeira divisão.
- Em 2013 eu tinha feito a Série B pelo Sport e nós subimos. Em 2014, eu volto para o Botafogo-SP e disputo o Campeonato Paulista. Logo depois, pintou um convite da Chapecoense, que tinha acabado de chegar na primeira divisão para eu voltar ao mercado da elite do futebol brasileiro. Não tinha como negar. É claro que era um desafio, porque todos os anos a Chapecoense era tida como a equipe que sempre seria rebaixada.
No primeiro ano, que talvez tenha sido o ano mais difícil da equipe no cenário em campo, nós conseguimos ficar e dar início a um planejamento da antiga diretoria de um clube sério, compromissado e que cumpre seus deveres, sendo um clube familiar que todo atleta quer ir. Em 2015, a gente mantém a base e permanece na Série A novamente. Até que em 2016, a Chape constrói o seu melhor elenco, que teve início nesses dois anos, até a fatalidade (acidente de avião) ocorrer naquele ano -, relembrou.
Obviamente, o acidente de avião que vitimou quase toda a delegação da Chapecoense, que viajava para disputar a final da Copa Sulamericana contra o Atlético Nacional, marcou muito o clube de diferentes maneiras. E Camilo, que tinha muitos amigos pessoais no elenco, sentiu muito o baque da perda repentina de tantos talentos. Ele mesmo contou que foi o dia mais triste de sua carreira.
- Foi um baque para mim. Naquele ano de 2016, eu estava para voltar para a Chapecoense, estava em negociação com o Botafogo e a Chapecoense, mas por termos de negociação optei pelo Botafogo. Antes de sair da Chape em 2015, eu tinha contrato até o fim de 2016, mas eu pedi para ir para a Arábia porque era uma oportunidade de abrir mercado para mim.
Para mim e para minha esposa foi um baque, ficamos muito mal com a notícia. Realmente, foi o dia mais triste da minha carreira. Ver isso acontecer com vários amigos, várias pessoas realmente próximas que a gente trocava mensagens sempre, sempre acompanhava. É o dia que fica marcado como um dia de dor, que a gente sofre até hoje, porque a gente lembra das pessoas e dos amigos. A gente tenta passar força aos familiares, que hoje não possuem mais seus filhos e maridos -, ressaltou.
Três anos depois, a Chapecoense não resistiu aos danos estruturais que sofreu e acabou rebaixada. Camilo, que voltou ao clube em maio, participou da campanha do clube e notou que tudo era diferente. O atleta fez críticas a diretoria do clube e revelou que o elenco chegou a trabalhar com oito meses de atraso de direitos de imagem e dois meses de atraso no salário.
- Acho que foi de um ano anterior de não ter aprendido a situação que estava próximo de acontecer. No meu modo de ver, é claro que a diretoria tem seus erros de planejamento, teve problema em relação a salários, foram oito meses de salários de imagem e dois meses de carteira em atraso, mas os jogadores em nenhum momento deixaram de trabalhar, de tentar representar a equipe. Mas o jogador também se coloca com um dos responsáveis sim, por isso a gente não vai tentar tirar a nossa responsabilidade de não ter deixado a Chapecoense na Série A.
Foram sucessivos erros que aconteceram que não podem ocorrer. Aquilo que a Chapecoense tinha construído nos últimos anos, logo na minha chegada eu pude ver que estava totalmente diferente. É um fato que vai ficar negativo, saio muito frustrado de não ter desempenhado um bom papel dentro de campo, mas fico na minha expectativa de que o clube possa voltar a Série A -, criticou.
Confira outras respostas de Camilo:
Sobre vestir a camisa do Botafogo:
- Foi o auge da minha carreira até aqui. De clube, de mídia, por ter chegado na Seleção Brasileira por ter um ano muito bom. Foi o meu melhor momento. Estar no Rio de Janeiro, no clube do meu pai e do meu irmão e sentir o carinho do torcedor, isso sempre vai ficar guardado e vai ser sempre lembrado -.
Sobre o fã clube das "Camiletes":
- Era bem legal. Tinha dia que eu ficava preocupado com as senhoras, quando uma não ia no campo. Eu ficava preocupado e perguntava sobre elas, aí me falavam que elas estavam doentes e tudo mais, eu mandava lembranças... A gente tinha um relacionamento muito bom, tenho um carinho muito grande. Me rendem boas lembranças.-
Ser convocado para a Seleção Brasileira:
- Foi uma experiência única. Passou um filme. O meu vídeo, na expectativa de sair o meu nome, foi uma loucura, um êxtase. Vem a lembrança de criança de você sonhar em ser jogador profissional e jogar pela Seleção, de você acompanhar a Copa do Mundo e sonhar em um dia poder vestir a camisa. Para mim foi uma realização pessoal tremenda. Eu fico lembrando a todo instante quando fico olhando para a camisa, que está presa na minha parede -.
Sua passagem pelo Internacional:
- O primeiro ano, o time passava pelo momento mais difícil de sua história, que era a Série B. Acho que dentro dos dois anos que eu fiquei no Inter foi o melhor. Eu não era titular, mas entrava em todos os jogos e tinha uma participação boa em termos de resultado dentro de campo, ajudando com bastantes assistências em alguns jogos que estavam se tornando difíceis. Nos outros anos eu não tive uma sequência, mas sempre me respeitaram, o Inter sempre quis contar comigo.
Não é sempre que um jogador que não é titular consegue se manter em uma grande equipe por dois anos. Eu fico questionando porque eu não tive uma sequência de três, quatro jogos seguidos para que eu pudesse realmente voltar o meu devido valor, mas eu saí muito satisfeito por ter ajudado o clube a voltar para a Libertadores. Fiz grandes amigos e boas lembranças. Acho que foi um momento de aprendizagem num grande clube como o Internacional -.
O futuro da Chapecoense:
É um momento de preocupação. Não perde só a Chapecoense o clube, mas todos os torcedores que dependiam do clube, todos os empresários e o movimento da cidade em várias situações comerciais. É um momento de união, de tentar retomar para que o clube possa estar novamente na elite do futebol brasileiro. É preocupante, esta é a palavra. Realmente, não está sendo fácil saber se vai ter uma reviravolta nesta situação e por tudo que está acontecendo.
É depender dos torcedores, da cidade para que ela possa se recompor, e que pessoas sérias possam entrar no clube com o espírito daqueles que se foram deixaram, que era o de honrar os compromissos, ser transparente, ter um planejamento adequado e de levar o torcedor de volta ao campo, o qual eu não pude ver nesse ano totalmente. Talvez pela campanha do time? pode ser. Mas o torcedor da Chape sempre abraçou nos momentos difíceis a equipe. Então, é um momento de preocupação para a cidade e para os torcedores do clube -.
Futuro e planos para 2020:
Eu quero trabalhar. Meu procurador já está vendo essa situação das equipes, que estão me procurando. É pensar em ficar bem fisicamente, me apresentar bem ao meu próximo clube. Vamos ver o que vai pintar. Espero que, para aonde eu for, eu possa desempenhar, eu possa ter um ano melhor do que em 2019.
Sobre o péssimo momento financeiro do Botafogo:
- É realmente difícil. O ano que eu cheguei em 2016 até quando eu saí, que a gente estava nas quartas da Libertadores em 2017, o clube tinha honrado todos os seus compromissos, não tinha nenhum problema. Estava tudo se encaminhando, tudo em dia em relação aos atletas, funcionários. De repente, era um momento de continuidade para diminuição de dívidas. A gente é pego de surpresa. Mas um clube como o Botafogo precisa ter essa reviravolta para estar acendendo a chama do torcedor, que dias melhores virão, que o clube precisa de novas conquistas, para estar mantendo acesa essa paixão do torcedor. A torcida cobra, porque já passaram grandes jogadores, já tiveram conquistas e a torcida sente a necessidade de conquistar novamente um Brasileiro, para estar novamente junto com o clube -.
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