Conheça a história da Fla-Madrid, torcida criada para secar o Vasco no Mundial de Clubes

Ao L!, fundador da Fla-Madrid, Claudio Cruz, detalha episódio no qual Flamengo e Real Madrid, possíveis adversários na final do Mundial de 2023, se tornaram um só

imagem cameraClaudio Cruz mostra a camisa da Fla-Madrid, criada para torcer contra o Vasco em 1998 (Foto: Pedro Fonseca)
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Lance!
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 04/01/2023
12:22
Atualizado em 02/02/2023
13:13
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Antes amigos, agora adversários. A relação entre Flamengo e Real Madrid, possíveis oponentes na final do Mundial de Clubes de 2023, teve momento marcado por grande amizade há pouco mais de 20 anos. Em 1998, às vésperas da decisão do torneio intercontinental disputado entre os merengues e o Vasco, maior rival do Rubro-Negro, um grupo de torcedores se uniu e formou a Fla-Madrid, criada para secar o Cruzmaltino.

Surpreendentemente, o movimento dos rubro-negros tomou proporções enormes na época. Dessa forma, com a derrota do rival e sob os olhares de jornalistas de todo o planeta, celebrou a felicidade de seguir sendo o único carioca campeão do mundo. Ao LANCE!, Claudio Cruz, fundador da Raça Rubro-Negra e da Fla-Madrid, contou detalhes dessa grande história.

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Apesar da final intercontinental entre Real Madrid e Vasco ter sido disputada no dia 1 de dezembro de 1998, a história da Fla-Madrid começou quase 17 anos antes, no dia 13 de dezembro de 1981, quando o Flamengo derrotou o Liverpool por 3 a 0 e se sagrou campeão do mundo.

Na época presidente do Flamengo, Márcio Braga ligou para Claudio Cruz e disse que iria colocar um telão na Lapa, ao lado de um trio elétrico alugado, para os torcedores rubro-negros assistirem ao duelo contra o Liverpool e festejarem uma possível vitória sobre os ingleses.

- Quando terminou o jogo, nós saímos e fomos para a Gávea, milhares e milhares de pessoas. No trio, a gente pegou Flamengo, Botafogo e quando eu vi que a gente ia passar em frente à Sede Náutica do Vasco, já de madrugada, mudei o percurso. Eu fiquei com medo das pessoas passarem lá e quebrarem a sede dos "caras". Quando eles (Vasco) ganharam a Libertadores, em 1998, o quê que eles fizeram? Eles passaram em frente à Sede da Gávea, não tinha nada que passar lá. Fiquei puto da vida - comentou Claudio Cruz.

A notícia que o elenco e a torcida vascaína haviam passado em frente às dependências do clube rubro-negro com a taça em mãos apareceu nos jornais do dia seguinte da carreata do título, conquistado após vitória sobre o Barcelona de Guayaquil. Sentado no vaso sanitário, Claudio Cruz leu, se revoltou e escreveu em um papel uma oração para Sávio, ídolo do Flamengo. Na época, o atacante era jogador do Real Madrid, que enfrentaria o Vasco no Mundial daquele ano. Em sua preces, o torcedor rubro-negro nomeou o ex-jogador do clube de "São Sávio da Gávea".

Além disso, o Claudio Cruz, atualmente com 65 anos, encomendou cinco mil santinhos em homenagem ao "Anjo Loiro da Gávea". As mensagens chegaram aos veículos de comunicação tradicionais, que repercutiram ainda mais a sua torcida pelo triunfo dos madrilenhos.

Pouco tempo depois, próximo do dia da decisão do Mundial de 1998, Claudio combinou com os seus amigos da Raça Rubro-Negra de assistirem à partida juntos. O torcedor foi o presidente da Organizada desde a formalização de sua existência, em abril de 1977, até o final de 1986.

Os flamenguistas pensaram, portanto, em fundar a Fla-Madrid - não queriam que fosse Fla-Real por conta do Plano Real, programa econômico implementado no governo Itamar Franco, em 1994.

Posteriormente, Claudio teve a ideia de produzir 200 camisas da Fla-Madrid, que contou com o nome da união, as cores e os escudos dos dois clubes na estampa frontal, além do nome "São Sávio", com o número 11, nas costas. Porém, o rubro-negro não imaginava que, com a repercussão da mídia, torcedores do Flamengo de todo o Brasil iriam querer o novo adereço para secar o rival.

Estampa frontal da camisa da Fla-Madrid (Foto: Pedro Fonseca)
Homenagem a Sávio, ídolo do Flamengo e jogador do Real Madrid na época (Foto: Pedro Fonseca)

O telefone não parou de tocar em busca de camisas. Dessa forma, Claudio Cruz mandou produzirem milhares de novos modelos, entregues para pessoas em diferentes situações.

Uma senhora ligou para o organizador da torcida e pediu para ele enviar a blusa o mais rápido possível. Isso se deu porque seu marido, um rubro-negro fanático, estava no leito de morte e queria ser enterrado com a camisa. Outro torcedor, vindo de Vitória, no Espírito Santo, fretou um avião para buscar camisas da Fla-Madrid à tempo de assistir ao confronto do rival.

Ele também revelou ao LANCE! que recebeu ligações de vascaínos, indignados com a criação do movimento. No entanto, Claudio sempre tratou a rivalidade apenas como uma diversão, uma brincadeira entre conhecidos e, nesse caso, desconhecidos.

No dia do jogo entre Real Madrid e Vasco, os rubro-negros se reuniram no Centro da cidade e secaram os vascaínos. Para a alegria dos torcedores presentes, deu "Flamengo" no Clássico dos Milhões: Roberto Carlos e Raúl marcaram duas vezes, e o Cruzmaltino foi derrotado pelos merengues por 2 a 1. Juninho Pernambucano fez o gol dos brasileiros.

Passada a decisão, diversos jornais destacaram a vitória dos secadores. O "O Globo", inclusive, realizou matéria especial com participação do fundador. No corpo do texto, descata-se a música cantada pelos rubro-negros no local: "Não é mole não, sair do Rio para perder lá no Japão".

Agora, a união será deixada de lado para a disputa do Mundial de Clubes de 2023. Assim como o Vasco em 1998, o Flamengo se sagrou campeão da última edição da Libertadores, enquanto o Real Madrid conquistou a Champions League. Dessa forma, é claro, Claudio não quer a presença de um "São Vini Jr" brilhando no torneio.

Claudio Cruz deu entrevista à imprensa após a derrota do Vasco para os espanhóis (Foto: Reprodução/Twitter)

- Para você ver o que é a loucura do futebol. É coisa de maluco. Eu tenho muito orgulho de ter feito a primeira torcida para torcer contra. O Jayme (fundador da Charanga Rubro-Negra) fez a primeira torcida organizada para torcer à favor e eu fiz a primeira para torcer contra. E agora vão fazer a Vas-Real - brincou.

Claudio Cruz estará presente no Mundial, em Marrocos, que ocorre entre os dias 1 e 11 de fevereiro. Em 1981, ele não foi ao Japão - tinha passagem, mas não aceitou ir sem seu irmão, que não conseguiu bilhetes.

Há três anos, o fundador da Raça e da Fla-Madrid esteve em Doha, no Qatar, para ver o Flamengo participar da competição intercontinental pela segunda vez. Porém, o sonho do bicampeonato foi adiado após derrota por 1 a 0 para o Liverpool, na prorrogação da grande final.

- Não estou planejando, eu estarei lá. Estou vendo agora os pacotes, tenho que ir. Eu fui sempre, se eu um dia deixar de ir,  não vou poder dizer que fui à todos. Quero estar lá. (...) Vou levar a camisa da Fla-Madrid com certeza. Só que usando a camisa da Fla-Madrid, estarei apoiando o meu adversário, então não vou vestir - ressaltou Claudio, que considera a criação da torcida de secadores um momento muito importante na sua vida de torcedor.

Campeões, respectivamente, da Libertadores e da Champions League, Flamengo e Real Madrid entram direto nas semifinais da competição, em chaves distintas. As expectativas são de que as duas grandes equipes disputem a decisão.

Dessa forma, a Fla-Madrid deixa os merengues de lado e passa a apoiar apenas o Flamengo. Caso a equipe de Vítor Pereira erga o troféu, será o primeiro Mundial de Clubes presencialmente conquistado por Claudio Cruz.

Sem a ajuda de São Sávio, o "Anjo Loiro", mas com apelo ao "anjo" Gabriel, Claudio sonha em comemorar o bicampeonato e fazer o que tanto gosta: sacanear seus amigos arquirrivais.

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