Os integrantes da CPI da Manipulação de Resultados começaram a se mobilizar para investigar no plenário o esquema de fraude em partidas do futebol brasileiro. Após a comissão ter sido instalada na Câmara dos Deputados na quarta-feira (17), o presidente, os vice-presidentes, a consultoria e a relatoria definiram que terão como pontapé inicial os resultados da Operação Penalidade Máxima.
O LANCE! apurou que, entre os requerimentos, a Comissão requer todo o acervo documental de jurídico do MP-GO em relação à investigação. O promotor do MP, Fernando Cesconetto, também será chamado para falar das ações da investigação. Também está em pauta a solicitação de uma oitiva com os jogadores de futebol que foram denunciados na fraude nas partidas. Até o momento, há 29 requerimentos. Sete foram solicitados na quarta-feira e outros 19 solicitados na quinta-feira. Os outros três que não subiram passarão pela análise do relator nesta sexta-feira (19).
A lista de requerimentos inclui a convocação de jogadores nominalmente. Os zagueiros Victor Ramos e Paulo Miranda e o lateral Igor Cariús estão entre os próximos chamados. Um dos deputados requer a presença dos oito atletas suspensos preventivamente por 30 dias pelo STJD em virtude da investigação.
Os apontados como aliciadores e financiadores denunciados nas investigações também foram chamados para prestar esclarecimentos à Comissão.
O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, foi convocado para prestar informações à CPI. Mandatário do Vila Nova, Hugo Jorge Bravo, também será chamado para dar seu depoimento. Para a Comissão, o dirigente é chamado como testemunha e terá de falar sobre as ações que antecederam as denúncias do esquema de apostas esportivas ao Ministério Público de Goiás (MP-GO).
André Rizek também consta entre os que serão chamados para ser ouvidos. O jornalista e apresentador será chamado para falar das semelhanças entre a Máfia do Apito de 2005 e o atual esquema de apostas.
Representantes das casas de apostas serão chamados para prestar esclarecimentos aos deputados, assim como Rodrigo Alves, presidente da Associação Brasileira de Apostas Esportivas. Ao L!, os representantes do Instituto Brasileiro de Jogo Responsável e da Associação Nacional de Jogos e Loterias manifestaram-se favoráveis à regulamentação para o setor e repudiaram a manipulação de resultados (clique aqui e veja os detalhes).
André Gelfi, diretor-presidente do Instituto Brasileiro do Jogo Responsável, também será designado para prestar informações à Comissão.
O próximo encontro da comissão acontecerá na próxima semana, no dia 23 de maio. Felipe Carreras é relator e autor do requerimento para a abertura da comissão que terá como presidente o deputado Júlio Arcoverde (PP-PI). André Figueiredo (PDT-CE), Daniel Agrobom (PL-GO) e Ricardo Silva (PSD-SP) foram designados vice-presidentes.
A previsão é de que os depoimentos durem 120 dias. Ao final, será elaborado relatório com as conclusões da CPI ao Ministério Público ou à Advocacia-Geral da União, com objetivo de que promovam a responsabilidade civil e criminal dos infratores ou haja adoção de outras medidas legais.
ENTENDA O CASO
A investigação sobre suspeita de manipulação de resultados teve início em novembro do ano passado. O mandatário do Vila Nova, Jorge Hugo Bravo, descobriu que jogadores do clube vinham sendo aliciados por um grupo de apostadores antes da partida contra o Sport pela Série B. O dirigente juntou provas da tentativa de manipulação e procurou os promotores que combatem o crime organizado no estado.
Oficial da Polícia Militar, Jorge Hugo Bravo descobriu que o atleta Marcos Vinícius Alves Barreira, apelidado de Romário, tinha sido aliciado. Como o jogador não foi escalado, tentou induzir algum companheiro de time a levar um cartão vermelho ou cometer um pênalti no seu lugar. O valor combinado, segundo depoimento de Romário, era de R$ 150 mil, com uma "entrada" de R$ 10 mil, conforme vídeo de seu depoimento divulgado no programa dominical "Fantástico", da Rede Globo. Entre os vídeos, há ameaças de um integrante do esquema ao zagueiro Eduardo Bauermann, do Santos.
A investigação apontou que houve manipulações em jogos das Séries A e B do Brasileirão de 2022 e em partidas de Estaduais. O grupo pagava para que jogadores fizessem determinadas ações, como receber cartões amarelo e vermelho ou cometer pênaltis. Em paralelo, os integrantes apostavam em sites do ramo que esses lances ocorreriam durante os jogos e conseguiam lucros.
Há estimativas de que o grupo “investiu” R$ 8430,00 e somou ganhos de R$ 730.616,00. O MP-GO continuará a apurar o caso e não descarta que ocorreram manipulações de resultados em outros jogos de futebol. A Operação Penalidade Máxima está em sua segunda fase.
*Atualizado às 18h56