Do ‘limbo no mercado’ às milhões de visualizações: a história do Charla Podcast

Criado em 2021, o Charla Podcast já acumula 366 mil inscritos no Youtube e se firmou como um dos podcasts de futebol mais relevantes do país. Mas a realidade no começo do projeto era bem diferente. Colegas de trabalho na “Rádio Tupi”, Bruno Cantarelli e Beto Junior, o Betão, observaram o momento de declínio das rádios e resolveram apostar em um videocast voltado para a internet. No entanto, tamanho sucesso nem passava pela cabeça dos dois jornalistas.

– No início, não era tradicional o videocast de futebol, era difícil convidar as pessoas para participarem. Ainda hoje é difícil levar jogador. E eu falava para eles ‘você não pode se tornar escravo de visualização, esquece isso, vai zerar, bota na cabeça que vai ser um fracasso’. E agora, dois anos e pouco depois, temos muito orgulho da trajetória – contou Cantarelli em entrevista ao LANCE!.

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Os dois apresentadores do Charla acreditam que acertaram o momento de lançamento do podcast. Na época, Cantarelli observou o boom de videocasts como o "Flow", mas percebeu a ausência de programas voltados para o futebol e produzidos no Rio de Janeiro.

Para Beto, o podcast foi um transformador na carreira. O comentarista revelou ao L! que vivia um momento profissional delicado antes de embarcar no projeto com Cantarelli.

– O Cantarelli é desbravador, já estava narrando há um tempo. No meu caso e dos outros meninos (da produção e edição), a gente estava no limbo do mercado. A gente entrou na brecha, na hora certa – disse.

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SEM ROTEIRO!
O processo de condução do podcast foi sendo construído naturalmente por Cantarelli e Beto. Desde o início, os dois tinham na cabeça que não fariam programas roteirizados, buscando sempre manter uma conversa espontânea com os convidados.

– Eu odeio roteiros, amarram muito uma coisa que pode ser feita naturalmente. A gente não tem roteiro e lê pouco sobre o convidado antes. A gente é viciado em futebol, então consome muito conteúdo na internet, na TV. Hoje em dia, eu já tenho uns 'presets' de algumas coisas que tenho que perguntar, mas a ordem, o momento, não – revelou Cantarelli.

– Foi instintivo. A gente nunca sentou e conversou ‘Canta, como vai ser a condução do programa?’. Ele comanda, eu reajo e assim a gente vai. Nesse formato, nos encontramos – acrescentou Beto.

Ainda que mantenham a naturalidade como marca do podcast, a equipe do Charla aprendeu muitos atalhos para o sucesso na internet ao longo do tempo. Logo no início, eles perceberam a importância da repercussão de cortes das entrevistas, que muitas vezes também geram reações em outros canais.

– A gente não entrevista quem a gente quer, Neymar, Gabigol. É uma estrada difícil. No início, vinham convidados e saíam coisas legais, mas não tínhamos isso dos cortes na cabeça – relatou Cantarelli.

Já na primeira entrevista do canal, feita com o youtuber Flazoeiro, os apresentadores do Charla foram surpreendidos com um vídeo de Casimiro reagindo à conversa. A repercussão ajudou o programa a chegar na internet já chamando a atenção do público.

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HISTÓRIA SOBRE FILIPE LUÍS
Outro momento chave para alavancar a audiência do podcast foi uma entrevista com o técnico Eduardo Barroca, atualmente no Ceará. Em maio de 2021, o treinador revelou um episódio da época em que treinava o Coritiba. O comandante do Coxa contou que presenciou o lateral Filipe Luís, do Flamengo, desmontando toda a tática preparada por ele durante a partida entre as duas equipes. A história repercutiu muito na internet e ensinou uma lição importante aos apresentadores do Charla.

– Eu fui pegar um norte quando veio o Barroca. No final da resenha, sem roteiro, eu perguntei ‘fala um jogador que te chama atenção’, e ele respondeu o Filipe Luís. E explicou: ‘ele ganhou um jogo meu no lateral, com uma visão de treinador’. É o segundo maior vídeo do canal até hoje. Ali, eu entendi que os convidados podem me dar histórias de outras pessoas – afirmou Cantarelli.

– As histórias do Charla têm dois papéis: humanizar os caras, o que acho que fazemos como ninguém, e trazer histórias da realidade. Todo mundo sabe que o Filipe Luís é inteligente, pode vir a ser um bom treinador, mas e a materialidade disso? – ressaltou o narrador.

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ENTREVISTADOS MAIS IMPORTANTES 
Ao longo de mais de dois anos de podcast, Cantarelli e Beto receberam convidados muito importantes no Charla. Para o narrador, uma das entrevistas mais especiais foi com Roberto Dinamite, ídolo do Vasco que morreu no início deste ano.

– Acho que o primeiro (convidado que impactou) foi o Roberto Dinamite. Acho injusto carimbarem nele a questão da presidência do Vasco, acho que foi um cara usado, usaram a imagem dele, ainda que tenha responsabilidade. Não é uma Charla muito 'fera' em termos de visualização, mas é um documento histórico, uma das que tenho mais orgulho. Entrevistamos o maior ídolo da história do Vasco – comentou.

Beto, por sua vez, fez questão de ressaltar a conversa com Gerson, o Canhotinha de Ouro. Os dois apresentadores chegaram a trabalhar com o campeão mundial nos tempos de Rádio Tupi, mas não deixaram de se emocionar com a presença do ex-jogador no podcast.

– Por já estarmos próximos do Canhota porque trabalhamos com ele, não tínhamos tanta dimensão. Mas o Gerson simplesmente foi o craque da final da Copa de 1970. E ele não gosta de dar entrevista sobre a carreira dele. Conseguimos fazer a entrevista com ele no Maracanã. Todos os convidados são maravilhosos, mas estar no Maracanã com o Gerson para fazer um programa ao vivo foi o momento que falei ‘caramba, deu certo’ – falou.

Ao longo desses dois anos, o canal se tornou uma potência da comunicação esportiva. Com entrevistas que pautam a imprensa frequentemente, Bruno Cantarelli e Beto Junior fecharam parcerias com marcas e até estão transmitindo jogos da Copa do Brasil em colaboração com o “Prime Video”. Hoje, as milhões de visualizações acumuladas pelo Charla Podcast mostram que a previsão de “fracasso” no início do projeto felizmente não se concretizou.

Para assistir à entrevista completa em vídeo, clique aqui.

*Sob supervisão de Leonardo Damico.